Por Mariuza Guimarães (*) e Gleice Jane (**)
Os desafios para as mulheres são imensos para este século. Precisamos nos manter conectadas e em direção a um mundo mais justo e humanizado.
As mulheres ainda são vistas como instrumento do patriarcado para a realização de trabalho doméstico, para o cuidado com a família, como mão de obra barata e como corpos para satisfação do desejo sexual masculino. Para muitas delas, a prostituição é a realidade de quem não tem escolhas para garantir sua sobrevivência e a sobrevivência de seus filhos e filhas.
Não bastasse a exploração, as mulheres são violentadas e assassinadas por homens que estão próximos a elas. O Estado, por sua vez, ignora a necessidade de realizar políticas efetivas para o enfrentamento a essa violência, e, cada vez mais, deparamo-nos com novas histórias de feminicídios.
O Mato Grosso do Sul-MS tem figurado como um dos estados com maiores índices de feminicídio do País, o que pode ser comprovado pelo dados disponibilizados pelo Mapa do Feminicídio no estado, disponível em http:// www.naosecale.ms.gov.br/wp-content/uploads/2020/06/MAPA-DO-FEMINICI%CC%81DIO-VERSAO-FINAL-Luciana.pdf). Esses dados que têm sido ignorados pelo poder público são alarmantes.
Em 2022, nos primeiros 40 dias do ano, já foram oito casos de feminicídio. O deputado estadual Pedro Kemp (PT) denunciou, no retorno do ano legislativo, a gravidade do problema, informando que a cada 4 dias uma mulher foi assassinada no Mato Grosso do Sul.
Foucault, em diversas obras, tais como a História da Sexualidade I, II e III, demonstra como a cultura do patriarcado se eterniza nas práticas sociais, passando a ser normalizadas. Essa naturalização da violência pode ser vista no tratamento que parte da mídia tem dado ao feminicídio atribuindo culpa à vítima. Não raro leem-se manchetes e subtítulos sobre o assunto constituídas por estratégias discursivas em favor do patriarcado: “Mulher é morta por marido, há indícios de traição como causa”; “Mulher é morta por marido porque não aceitava o fim do casamento”; Mulher é brutalmente seviciada, estuprada e morta na rua de madrugada”. As palavras “traição”, “casamento”, “madrugada” e “rua” são utilizadas para sutilmente levar ao leitor a atenuar os crimes, justificar o ato do agressor e culpabilizar a vítima, pois, para a cultura do patriarcado “o lugar de mulher é em casa e não na rua”, “a mulher deve respeitar a todo custo o matrimônio”, “mulher de respeito não anda na rua de madrugada”, e é inadmissível a traição da mulher enquanto a do homem deve ser festejada.
Por outro lado, os meios de comunicação que ousam denunciar a cultura do patriarcado são boicotados, e a produção realizada por mulheres sobre o assunto e, muitas vezes, sobre qualquer assunto, sofre toda sorte de preconceito e tentativa de invisibilização.
O tema sobre desigualdade de gênero, ainda que garantido pelas leis, tem sido repreendido em Instituições educacionais públicas. A censura sobre o tema virou lei no Mato Grosso do Sul, e o governo recentemente sancionou uma lei que proíbe o uso da linguagem neutra nas repartições públicas, sobretudo em instituições educacionais.
Estes assuntos não costumam ser debatidos nos encontros familiares e sociais pelo viés da liberdade de expressão e combate a violência, pelo contrário, é tratado pelo recorte moral, na linha do patriarcado.
Os índices de violência evidenciam de forma gritante a necessidade de mulheres no parlamento. No Mato Grosso do Sul, de 24 deputadxs no parlamento estadual, há apenas uma mulher, oriunda da elite do boi. Na capital Campo Grande, de 28 vereadorxs, apenas uma mulher, que por ser do PT tem que se virar em 28 para fazer o debate, sob muita pressão.
Por isso, entendemos que precisamos eleger mulheres feministas, socialistas, que tenham a dimensão dos problemas vivenciados pelas mulheres em seus cotidianos para abordar os assuntos que, na sociedade patriarcal, são considerados tabus ou desnecessários: violência doméstica, educação sexual, aborto, transexualidade feminina, homossexualidade, políticas públicas de saúde e de promoção de dignidade das mulheres, entre tantas outras que são necessárias para que as mulheres tenham garantido o seu direito à vida, à sexualidade, à políticas públicas adequadas, ao direito humano.
Afinal, queremos mudar o mundo para mudar a vida das mulheres e todos os temas que dizem respeito à vida humana e ao meio ambiente nos interessam.
(*) Mariuza Guimarães é vice-presidenta da ADUFMS -Seção Sindical do Andes SN, Dirigente do PT e da AE em Campo Grande (MS)
(**) Gleice Jane é diretora executiva da CUT-MS, pré-candidata a deputada Estadual, militante do PT e da AE