O texto abaixo é um resumo da “memória” feita por Adriano Oliveira acerca do 4º Congresso da tendência petista Articulação de Esquerda
Ao longo do ano de 2017, várias organizações sociais e partidárias fizeram seus congressos. É o caso da UNE e da Ubes; é o caso da CSP-Conlutas e da CUT (no caso, um congresso extraordinário); é o caso, também, do PSOL, da Consulta Popular, do PCdoB e do PT.
Também ao longo de 2017, várias tendências petistas fizeram seus congressos ou equivalentes. É o caso da Esquerda Popular Socialista (EPS), da tendência Movimento e da chamada Tribo; e da Democracia Socialista (DS).
É o caso, ainda, da tendência petista Articulação de Esquerda, cujo congresso foi realizado nos dias 24, 25 e 26 de novembro, na sede nacional do PT em São Paulo (SP). Na verdade, tratou-se da “primeira etapa”, dedicada ao debate sobre estratégia e socialismo. A segunda etapa, que vai tratar de temas táticos e organizativos, será realizada nos dias 4, 5 e 6 de maio de 2018.
Participei ativamente desses três dias de debate, tendo sido eleito – junto com Rosana Ramos e Natalia Sena – para a mesa que coordenou as atividades. Gravei algumas falas e tomei notas, com base no que fiz uma extensa “memória” de toda a discussão, que evidentemente não serve para publicação, mas é útil para quem deseja conhecer os detalhes da discussão feita pelos integrantes de uma tendência que em 2018 completará 25 anos de fundação.
Uma novidade deste 4º Congresso foi o convite feito, a pessoas que não são da AE, para opinar e criticar o projeto de resolução em debate. Contribuíram nisso, obviamente à luz da elaboração política de suas respectivas organizações, Mônica Valente (secretaria de relações internacionais do PT e militante da Construindo um Novo Brasil), Marcus Sokol (da executiva nacional do PT e militante de O Trabalho), Joaquim Soriano (diretor da Fundação Perseu Abramo e militante da Democracia Socialista), Armando Boito Jr. (da Consulta Popular), José Genoíno (ex-presidente nacional do PT) e José Reinaldo (reeleito recentemente para o Comitê Central do PCdoB). Além disso, estiveram no Congresso Renato Simões (da executiva nacional do PT e da tendência Militância Socialista) e o deputado federal Vicentinho. A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffman, gravou um vídeo de saudação.
É sempre um risco citar trechos de falas, pois uma frase fora de contexto pode adquirir um sentido diferente do pretendido pelo autor. Assim, alerto que os destaques a seguir correspondem não ao que foi dito, mas ao que foi captado por mim.
Sokol destacou o que na nossa interpretação são algumas “pistas” do que deve ser a estratégia de luta pelo socialismo, o que inclui mudar a natureza de classe do Estado com propriedade pública sob controle operário; a combinação de luta de massa e luta eleitoral em um fórmula em que a luta de massas subordine a luta institucional; a importância de um programa atualizado e a ideia de um governo operário e camponês com caráter anti-imperialista, democrático e antimonopolista.
Joaquim Soriano apontou que a estratégia da revolução no Brasil e no continente deve ser debatida em uma perspectiva de acúmulo de forças por dentro do Estado, democratizando-o, o que segundo nosso entendimento resultaria em uma estratégia eleitoral de conquista de maiorias nacionais e sob o exercício de governos.
José Genoíno destacou, no plano internacional, os limites de uma estratégia nacional em um sistema capitalista de dominação planetária, defendendo alianças táticas a partir de blocos regionais, com destaque para a América Latina e para os chamados BRICS. Defendeu uma formulação estratégica de acumulação de forças, reforma progressiva e ruptura.
José Reinaldo falou de momentos cruciais da história do Brasil e a sua vinculação com o debate estratégico que hoje estamos chamados a realizar, apontando que o fato das classes dominantes nunca terem sido golpeadas em sua expressão econômica, política e social é uma das razões da situação em que estamos vivendo e concluindo que somente uma revolução social e política pode abrir um ciclo de desenvolvimento em direção ao socialismo.
Armando Boito Jr. tratou de temas como a natureza de classe dos governos Lula e Dilma, falou do que ele entende por “neodesenvolvimentismo”, apontou o déficit organizativo e a frágil resistência popular ao golpe em 2016. Boito caracteriza os governos Lula e Dilma como “burgueses”, afirmação que vincula-se a um interessante debate sobre a questão das frações da burguesia.
Mônica Valente afirmou que tinha unidade com a afirmação tática central de nosso documento, especialmente no que diz respeito ao combate contra o golpe e a defesa da candidatura Lula. Concorda que o republicanismo expressa uma ilusão no caráter de classe do Estado. No debate sobre a estratégia, reconhece que nosso grande erro foi não termos realizado reformas estruturais e destacou que nunca foi estratégia do PT transformar o Brasil em um “país de classe média”.
O debate com os convidados preencheu aproximadamente oito das 32 horas do Congresso. Na opinião de todos e todas, foi bastante útil, seja para corrigir imprecisões e equívocos, seja para dar segurança na reafirmação das proposituras finais da resolução congressual.
A versão final do documento aprovado pelo 4º Congresso da AE, intitulado “A estratégia da luta pelo socialismo no Brasil”, incorporando um conjunto de emendas surgidas do debate travado nas etapas municipais, estaduais e nacional, está disponível na página eletrônica www.pagina13.org.br
Adriano de Oliveira é membro do Diretório Nacional do PT