Artigo de Jandyra Uehara, dirigente nacional da CUT, a respeito da greve geral do dia 14 de junho e das lutas da classe trabalhadora no próximo período. Publicado originalmente na edição 198 do Jornal Página 13.
Greve geral: perseverar na luta
Em São Paulo, no ato nacional unificado do 1º de Maio de 2019, foi convocada a primeira greve geral contra o governo Bolsonaro, pela primeira vez o conjunto das centrais sindicais brasileiras e também as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo estiveram juntas no Dia Internacional do Trabalhador.
A exemplo de 2017, quando a CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – teve um papel fundamental nas lutas contra o governo Temer convocando a Greve Nacional da Educação para março daquele ano e impulsionando a Greve Geral de abril de 2017, novamente em 2019, a educação deu o pontapé inicial para a greve geral, convocando a Greve Nacional da Educação para 15 de Maio, contando com a ampla adesão de outras organizações nacionais que representam professores do setor privado – CONTEE – e boa parte dos professores municipais – CONFETAM, além do apoio de outras categorias e da base sindical cutista.
A greve de 15 de maio foi sem dúvida um marco na retomada da luta de massas em 2019. A adesão de milhares de estudantes, professores/as e trabalhadores/as da educação superior foram os cortes nos orçamentos das universidades e institutos federais, e as imensas manifestações que tomaram conta do país mostraram o potencial de luta social e de massas contra o conjunto da obra de Bolsonaro e dos golpistas num cenário de destruição de empregos e de direitos, crise política, institucional, econômica e social.
Um mês depois, a greve geral de 14 de junho aconteceu em todos os estados, em 21 capitais e no Distrito Federal os transportes públicos também paralisaram. Ao final do dia, havia registro de atos e greves em 375 cidades, incluindo professores, estudantes, servidores públicos, bancários, metalúrgicos e outras categorias organizadas. O balanço final da greve registrou manifestações em 521 cidades, uma capilaridade e interiorização maior do que em 2017, numa conjuntura muito diversa, mais complexa e desfavorável do que a enfrentada pelo movimento sindical em abril de 2017.
O legado destrutivo de Temer está sendo potencializado e acelerado por Bolsonaro mas, diferente do ilegítimo que já se encontrava com a popularidade no chão, Bolsonaro além de contar com apoio da coalização golpista – forças armadas, judiciário, oligopólio da mídia, congresso conservador e a maioria dos grandes empresários – para ataques aos direitos econômicos e sociais da classe trabalhadora, ainda tem capital eleitoral para queimar, muito embora já aumente a percepção negativa de eleitores de Bolsonaro .
A Greve Geral de 14 de junho foi vitoriosa e essencial para a aceleração do processo de lutas contra o governo Bolsonaro e sua agenda de destruição dos direitos e da organização da classe trabalhadora.
Daí decorre que os próximos passos são fundamentais, principalmente na reafirmação da tática de enfrentamento global à reforma da previdência e a agenda de retrocessos do governo Bolsonaro. Qualquer vacilação, tergiversação ou disposição de negociação de direitos podem não só fragilizar a credibilidade do movimento sindical como afetar a mobilização da classe trabalhadora organizada, única força política verdadeiramente capaz de derrotar o governo Bolsonaro e a coalização golpista que lhe dá sustentação.
Qualquer tentativa de criar narrativas de vitórias de Pirro em relação à Reforma da Previdência serão rechaçadas pela maioria dos trabalhadores organizados, que sentirão na pele os seus efeitos nefastos. Quanto a retirada da capitalização do relatório tática do governo é, se necessário adiar, com a apresentação de um projeto de lei em separado ainda este ano. Desviadas as atenções da capitalização e da perversidade explicita das mudanças no BPC e na aposentadoria rural, Bolsonaro, Mourão, Guedes, Maia e aliados buscarão a aprovação da expropriação de quase um trilhão de reais da classe trabalhadora. E como a história recente nos mostrou retrocessos na previdência não se revertem simplesmente com a eleição de governos progressistas, vide a luta pelo fim do fator previdenciário nos governos Lula e Dilma.
A CUT deve buscar a unidade das centrais sindicais contra o conjunto da Reforma da Previdência, a exemplo da construção da greve geral, mas combater publicamente e se isolar de posições que defendam negociação e concessões de qualquer tipo, perseverando na mobilização da classe trabalhadora para derrotar a destruição dos direitos previdenciários, vinculando com a luta por empregos e em defesa da educação e da soberania nacional.
A luta está longe de terminar, a tarefa é continuar mobilizando e organizando sem tréguas a classe trabalhadora, aumentando a pressão sobre deputados, intensificando o trabalho nas bases e convocando para dia 12 de julho um grande Dia Nacional de Lutas em todo o país e reforçando a mobilização da UNE em Brasília. Quem ousa lutar constrói o caminho da vitória!
Jandyra Uehara, dirigente nacional da CUT