Por Valter Pomar (*)
Num planeta muito, muito distante, há um partido muito, muito importante.
Neste partido, há um dirigente que profere frases sempre lapidares.
Uma das mais recentes dizia mais ou menos assim: “o grevismo no setor público é uma tônica do esquerdismo canhestro”.
Como sabem os que acompanham os tuítes completos deste nosso dirigente, “esquerdismo” é para ele o maior dos anátemas.
Suspeito até que ele faz parte daquela famosa seita secreta, denominada “quando crescer quero ser como Lênin”.
Os integrantes desta seita saem pelas redes sociais, apontando suas varinhas mágicas e proferindo o encantamento “esquerdista”, mais ou menos como Harry Potter usava o Petrificus Totalus.
Assim sendo, fui procurar e achei, no volume 32 das Obras Completas do famoso russo, algumas de suas opiniões sobre o papel dos sindicatos.
Na página 16, por exemplo, está dito que os sindicatos serviam para defender os trabalhadores “frente a seu Estado” e para que os trabalhadores “defendam nosso Estado”.
Estado que, naquela ocasião, era proprietário de grande número de empresas, onde trabalhavam as pessoas filiadas aos sindicatos que, segundo Lenin, deviam defender os trabalhadores inclusive “frente” a seu Estado.
Estado que – segundo palavras também escritas e ditas por Lenin – era operário e camponês, com uma deformação burocrática.
Repetindo: segundo o russo, cabia aos sindicatos, ao mesmo tempo, enfrentar o Estado e defender o Estado.
Portanto, noutra época, noutro país, falando de trabalhadores que eram “funcionários” de um Estado produto de uma revolução, Lenin dizia que um dos papéis dos sindicatos, sindicatos comandados por comunistas, era defender os trabalhadores “frente” ao seu próprio Estado.
Já noutro planeta, muito muito longe daqui, tem um dirigente que – diante de uma greve frente a um governo de esquerda, nos marcos de um Estado burguês, numa situação que não tem nada de revolucionária – ao invés de fazer uma análise concreta da situação concreta, ao invés de avaliar se a greve procede ou não procede, se tem ou não base de massas, desqualifica logo como “grevismo esquerdista”.
As vezes penso que algum tucano usou Imperius contra este dirigente. Só assim para entender tamanha submissão à posições de direita.
Salvai-nos Harry Potter!!
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT