Por Valter Pomar (*)
Humberto Costa e Rodrigo Pacheco
O Diretório Nacional do PT delegou à Comissão Executiva Nacional.
E a Executiva Nacional delegou às bancadas decidir a tática na eleição das Mesas do Senado e da Câmara dos Deputados.
Na Câmara, a bancada do PT decidiu (27 votos a favor, 23 contra) participar do bloco do Maia e apoiar a candidatura de Baleia Rossi já no primeiro turno.
Argumento?
Impedir a vitória do candidato apoiado por Bolsonaro.
No Senado, a bancada do PT decidiu por unanimidade apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco, senador pelo DEM de Minas Gerais.
Argumento?
Impedir a vitória do candidato apoiado por Bolsonaro?
Não pode ser, afinal pelo menos até o momento Rodrigo Pacheco é o candidato de Bolsonaro.
Qual o argumento então?
A bancada do PT divulgou uma nota, que pode ser lida aqui:
https://ptnosenado.org.br/bancada-do-pt-e-a-eleicao-da-mesa-do-senado-federal/
Em off, alguns senadores disseram que apoiaram Pacheco porque a alternativa (do MDB) poderia ser pior, como se explica aqui:
Em on, o senador Humberto Costa deu outra explicação.
A explicação de Humberto pode ser lida aqui:
Se as declarações colhidas e publicadas pela Forum forem exatas, Humberto Costa teria dito que:
…“o PT se definiu no Senado pelo apoio à candidatura de Rodrigo Pacheco por entender que, nesse momento, a principal questão em jogo no nosso país é a preservação da liberdade, da democracia, o respeito à Constituição e a possibilidade de nós barrarmos quaisquer tentativas de Bolsonaro e seus apoiadores de conduzirem o Brasil para uma ditadura”…
…“no debate que tivemos com o senador Rodrigo Pacheco e também no histórico da sua atuação no Senado Federal, nós chegamos à conclusão que ele preenche essas preocupações que nós tínhamos anteriormente”….
… “nessa articulação, nessa composição, nós teremos condições de desenvolver um trabalho mais aprofundado, mais intenso de oposição ao governo Bolsonaro”…
É a dialética, na variante schlingel: apoiando a candidatura apoiada por Bolsonaro, teremos melhores condições de fazer oposição a Bolsonaro.
Afinal, apesar de apoiado por Bolsonaro, Pacheco não tem “qualquer compromisso com essas posições estapafúrdias do presidente da República que ameaçam permanentemente a liberdade e a democracia no nosso país”.
Ou seja: bolsonarismo pode, desde que não seja estapafúrdio.
*
A alternativa, ter candidatura própria do PT, parece ter sido descartada in limine pela bancada do PT no Senado.
O motivo para o descarte, suponho, seja garantir os famosos espaços na Mesa, nas comissões, nas relatorias etc.
A direção nacional do PT precisa determinar à bancada do Senado que mude sua posição.
Ou ficará a impressão-quase-certeza de que o argumento utilizado para não lançar candidatura própria e apoiar Baleia Rossi no primeiro turno — ou seja, derrotar Bolsonaro — nunca passou de retórica de ocasião.
E o que realmente estava em jogo era outra coisa.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT