Por Luiz Boneti (*)
De 16 a 20 de julho, num período decisivo da conjuntura, ocorreu o 60º Congresso Nacional da UNE. Frente à sua importância histórica, a atividade poderia apontar duas situações no movimento estudantil:
A primeira seria que refletisse a atual situação do movimento estudantil no país, o que não foi. O ConUNE manteve a lógica de massificação de delegados que não reflete a realidade do movimento nas bases, ou seja, foi um congresso muito maior do que a realidade do movimento estudantil, que enfrenta um enorme clima de anomia e desmobilização, fruto também do equívoco de estratégia de mobilização nas agendas de luta impostas, que priorizam a institucionalidade e deixam em segundo plano a mobilização de massas dentro e fora das universidades.
A segunda alternativa seria que representasse pelo menos uma nova etapa do movimento, com objetivo de potencializar a atuação nas bases. Ainda é cedo para afirmar, mas, ao que parece, essa alternativa também não se concretizará, já que, mesmo com uma linha política mais avançada, não se apresentaram diretrizes concretas que de fato possam alterar a relação da UNE com as bases e a mudança de atuação no movimento estudantil.
1.A correlação de forças expressa no ConUNE
Esse ConUNE reforçou ainda mais a dualidade posta na entidade: 1) o campo majoritário, dirigido por UJS/PCdoB, que agrega a maioria das organizações da Juventude do PT, Levante Popular da Juventude e, a partir de agora, as organizações políticas do campo majoritário do PSOL – Juventude Sem Medo (JSM); 2) a Oposição de Esquerda, dirigida pelo Movimento Correnteza, ligado à Unidade Popular (UP), PCB/PCBR, Juntos (PSOL), entre outros.
Isso reforçou uma conformidade, impedindo que outras iniciativas fossem formuladas. Mesmo representando a segunda maior força em conjunto, a maioria das organizações que compõem a JPT optou pelo campo majoritário, buscando apenas uma unidade petista dentro dele para se fortalecer. A ParaTodos (JCNB) assumiu a vice-presidência, deixando o Levante com a secretaria-geral. A oposição de esquerda segue fora da mesa diretora. O número de forças petistas que participaram do ConUNE foi menor. A que tudo indica, numericamente, a JPT estará menor na UNE.
O que chama a atenção foi a ausência de uma estratégia petista para a UNE do ponto de vista programático. O debate foi submetido à linha política já posta pela direção da UNE capitaneada pela UJS.
2. O enfraquecimento da incidência política da JAE na UNE
A Juventude da Articulação de Esquerda (JAE) já vinha perdendo espaço na UNE, buscando de todos os modos permanecer dentro da entidade. Neste ano, chegamos ao ConUNE com a menor delegação da história e, aliado ao cenário, tornou-se impossível uma alternativa aos dois grandes campos na UNE.
Isso colocou em xeque um debate sobre qual o caminho a JAE quer e precisa traçar no próximo período. Nossa presença na UNE nos últimos anos não representou incidência política, nem auxiliou no fortalecimento da nossa atuação nas universidades. A ausência de estrutura impede a presença de dirigentes da JAE na UNE nos estados. A ampliação do número de entidades estudantis (DAs, CAs, DCEs) que conquistamos nesse ano foi fruto da construção quase que exclusiva da militância da JAE das cidades e estados.
Foi visualizando o cenário imposto, nossa atual condição e onde acreditamos que podemos chegar que a JAE deliberou por não se entregar, em seu pior momento, nem à majoritária, muito menos à oposição de esquerda, que hoje não representam de fato a construção política que acreditamos para a UNE. A oposição de esquerda tem um enorme equívoco de linha política, e a majoritária, mesmo que acerte na linha, segue não demonstrando vontade política em transformar discurso em ação concreta no movimento estudantil. Nossa presença na entidade não pode representar uma ilusão política, um cargo que se justifica por ele mesmo. Devemos representar incidência política na UNE e também fortalecimento de nossa atuação dentro das entidades de base do movimento estudantil. E será esse o nosso enfoque no próximo período: disputar as UEEs, fortalecer e ampliar nossa inserção nos DCEs, DAs e CAs fazendo dessas entidades instrumentos para construir uma nova diretriz política de organização do movimento estudantil, que amplifique a mobilização de nossa agenda política no próximo período. Nosso retorno à direção da UNE será, acima de tudo, reflexo de nossa própria capacidade política.
(*) Luiz Boneti é estudante de Direito na UFSM, faz parte do DCE-UFSM e é militante da JAE em Santa Maria-RS.
Uma resposta
É uma pena , Luiz. A JAE Reconquistar foi por muito tempo uma força muito grande dentro da UNE. Precisamos voltar a ser protagonistas no movimento estudantil. Movimento esse que formou diversos quadros para nossa tendência. Viva o movimento estudantil, viva a UNE de esquerda, viva a JAE.