Está disponível a edição de maio, nº 211, do Jornal Página 13. A capa do jornal estampa o caráter do atual governo: “Bolsonaro: um governo assassino da população negra e trabalhadora“. Baixe e leia a íntegra desta edição, clicando ao lado: Jornal Página 13 – Maio
Segue o editorial da edição:
Na urgência e emergência, mata perder tempo
A pandemia agravou tudo o que já vinha acontecendo antes no país: desemprego (com taxas crescentes para a juventude, negros e negras, mulheres), piora nas condições de trabalho (exposição a agentes biológicos sem medidas de proteção, jornadas exaustivas, sobretudo para as mulheres, que acumulam de forma desigual as tarefas domésticas e do cuidado), corte de salários, deterioração da situação social (afetando, de maneira particular, indígenas e quilombolas), miséria, redução das políticas públicas e sociais, depressão da atividade econômica, ampliação da violência doméstica contra mulheres e crianças, e até mesmo (como vem ocorrendo em São Paulo) escalada dos assassinatos cometidos pela Polícia Militar, tendo como alvo principal jovens da periferia.
Tudo isto piorado pela trágica situação de saúde pública, advinda com a pandemia do coronavírus, com previsões de que morram no mínimo 40 mil pessoas, na sua maioria trabalhadores, periféricos, pobres, negros e negras.
Este é o pano de fundo do aprofundamento dos conflitos no país, inclusive no interior do golpismo. Os episódios mais recentes deste conflito foram as demissões de Mandetta e de Moro e o inquérito aberto contra Bolsonaro no STF.
O conflito no interior do golpismo pode ter dois desenlaces: a vitória ou a derrota do clã. Sendo que a derrota do clã poderia assumir várias formas institucionais, por exemplo: o golpe explícito, a tutela militar, o afastamento temporário para julgamento por crime, o impeachment com a substituição pelo vice.
A derrota do clã, se patrocinada por um setor do golpismo, não vai causar mudança na política ultraliberal. E a depender de como ocorra, a derrota do clã pode inclusive ser acompanhada de medidas ainda mais restritivas às liberdades democráticas.
Entretanto, o governo Bolsonaro, apesar de todos os seus crimes, da sua subserviência aos interesses estrangeiros e imperialistas, da destruição dos direitos sociais, do caráter liberticida, misógino, racista, homofóbico e fundamentalista e de seu apoio à devastação dos biomas naturais (Amazônia, Cerrado, parques federais), segue mantendo apoio popular e importante respaldo nas Forças Armadas, polícias militares, milícias e, por último, mas não menos importante, em setores do grande empresariado, especialmente financeiro, de parte de oligopólio da mídia, em setores do agronegócio e em cúpulas de igrejas conservadoras, que tem grande influência popular.
Por tudo isto, mas também devido ao modus operandi do presidente e seu clã, Bolsonaro não vai cair de podre. Nem pedir para sair.
É verdade que viveremos, nos próximos dias, semanas e meses, um agravamento da situação sanitária, da situação social e da situação econômica. E também é verdade que isso vai ampliar o desgaste do cavernícola. Mas a evolução catastrófica dos acontecimentos, em ambiente de pandemia, isolamento social e decorrente dificuldade de mobilização por parte dos setores democráticos e populares, pode se dar de maneira radical, rápida e surpreendente, seja pela esquerda, seja pela direita.
Ou seja: o agravamento da situação pode criar condições para uma saída ainda mais “pela direita” e ainda mais “por cima”, para a crise brasileira.
Também por isto, torna-se decisivo que o PT contribua para coesionar o campo democrático e popular em torno de uma saída de conjunto para a situação, uma saída política que crie as melhores condições não apenas para a aplicação de um programa de emergência em defesa da vida, do emprego e da renda, mas também um programa de reformas estruturais e de defesa do meio-ambiente.
Apesar das dificuldades deste momento de pandemia e relativo distanciamento social, o PT não pode se resignar a fazer lives e disputar as redes sociais.
Nem pode aceitar ceder no programa, para supostamente conseguir “furar a bolha” da grande imprensa, conseguindo alguns segundos de tempo nos mesmos noticiários que gastam horas tentando nos desmoralizar.
O PT deve lutar com todas as suas energias para defender a vida, o emprego e a renda da classe trabalhadora. Isso inclui oferecer soluções concretas imediatas à crise sanitária. Por exemplo, defendendo:
*a ampliação dos recursos do SUS;
*a viabilização da testagem em massa;
*a manutenção e ampliação do distanciamento social;
*a garantia de equipamentos de proteção individual (EPI) para os trabalhadores da saúde e serviços essenciais;
*a distribuição gratuita de máscaras e outros produtos necessários para a proteção individual;
*colocar sob regulação do SUS todos os leitos privados de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) existentes no Brasil.
O PT deve, também, lutar para impedir demissões, redução de salários, cortes nas políticas públicas e, ademais, garantir renda e moradia emergencial para os que estão em situação vulnerável, inclusive as pessoas em situação de rua.
Isso inclui, ainda, a solidariedade de classe, através de redes de ajuda mútua e acolhimento que fortaleçam a coesão comunitária para resistência e sobrevivência em momentos de crises e dificuldades. Não uma concepção paternalista da ação caridosa, mas solidariedade de classe, politizada, que saiba demonstrar, para o povo, que as soluções verdadeiras dependem de uma alternativa política.
Simultaneamente, cabe ao PT lutar com todas as suas energias pelo fora Bolsonaro e Mourão, fora seu governo e suas políticas.
Quem deseja uma saída da crise, que seja “pela esquerda” e “por baixo”, não pode esperar, tem que agir.
Agir significa organizar imediatamente – de maneira articulada com as inúmeras medidas práticas e legislativas em defesa da vida, do emprego e da renda – a campanha pelo Fora Bolsonaro, nas suas variadas dimensões:
*a difusão maciça e massiva da palavra de ordem, nestes tempos de quarentena;
*a apresentação de um pedido de impeachment, fundamentado na defesa da vida e da democracia, articulado com a defesa de novas eleições presidenciais, que ao mesmo tempo que proponha o impeachment do presidente, marque posição contra a posse do vice e a continuidade do governo e suas políticas;
*a campanha pela aprovação da PEC das Diretas, que prevê eleições presidenciais em 90 dias;
*a pressão para que o TSE julgue a impugnação da chapa.
É urgente organizar a campanha Fora Bolsonaro, em primeiro lugar para contrapor aos que, na esquerda, no centro e na direita, adotam a tática de “dar tempo ao tempo”, para deixar “Bolsonaro sangrar até 2022”.
É urgente organizar a campanha Fora Bolsonaro, em segundo lugar, para contrapor aos que, no centro e na direita, criticam Bolsonaro, mas apoiam seu programa econômico e social e, inclusive por isso, vão pouco a pouco cedendo às suas pressões no terreno sanitário.
Mas o mais importante motivo pelo qual é urgente organizar a campanha pelo Fora Bolsonaro, é para dar ao povo uma perspectiva e um instrumento político para enfrentar a extrema-direita encabeçada pelo cavernícola.
É preciso estar atento para o fato de que, mesmo desgastados, o governo Bolsonaro e a extrema-direita estão escalando a crise. Não se trata apenas do que o governo está fazendo ou deixando de fazer, no terreno das ações administrativas. Trata-se, principalmente, dos apelos 100% explícitos à guerra civil, ao fechamento das instituições e ao extermínio físico da esquerda.
Não há nenhum motivo para acharmos que esta radicalização se trata de mera retórica. Ou agimos imediatamente, ou poderá ser tarde demais. O vírus mata, o Bolsonavírus também.
Estes são os temas tratados nesta edição de maio do jornal Página 13, a segunda que circula em tempos de pandemia e que, portanto, tem apenas uma versão digital, escrita integralmente por negros e negras que militam na tendência petista Articulação de Esquerda.
Os editores