Por Reynoold Duarte (*)
Companheiro Reynoold na luta contra a PEC da Blindagem
Texto integrante do Boletim Página 13 LGBTQIA+ de outubro
Três Lagoas, MS – A ascensão de um militante abertamente LGBT e de esquerda à presidência do diretório municipal de um partido em Três Lagoas marca um momento histórico para a política local. Este evento não é apenas uma mudança na liderança partidária, mas um símbolo poderoso da quebra de barreiras e da crescente demanda por uma representatividade mais inclusiva e diversificada na esfera pública do terceiro maior município do estado de Mato Grosso do Sul.
Com uma população estimada em 143.523 habitantes em 2025 e um Produto Interno Bruto (PIB) que atingiu R$65,9 bilhões em 2024, Três Lagoas se consolida como um polo econômico e demográfico. Nesse cenário de desenvolvimento, a presença de uma liderança que reflete a diversidade da sociedade é crucial para garantir que o crescimento seja acompanhado de justiça social e inclusão.
O novo presidente do PT no município, Reynoold Duarte, cuja trajetória é profundamente enraizada na classe trabalhadora e no ativismo social, traz consigo uma perspectiva única. Sua formação, que inclui engajamento estudantil e social desde cedo, e sua vivência como jovem LGBT em uma cidade do interior, convergem para uma liderança que promete dar voz a segmentos da população historicamente marginalizados. Reynoold destaca sua militância orgânica na Articulação de Esquerda, com incidência na Juventude da Articulação de Esquerda (JAE) e na Juventude do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul (JPT-MS), o que reforça seu compromisso com a pluralidade e a justiça social.
A importância dessa liderança é amplificada pelos desafios que ela enfrenta. Em um cenário político muitas vezes conservador, a visibilidade de uma pessoa LGBT em posição de poder colide com preconceitos estruturais. Reynoold destaca que ser LGBT na política é um ato de resistência, mas também uma afirmação da capacidade de liderar projetos coletivos e ocupar espaços de decisão.
Os obstáculos são variados e complexos: desafio comum, impacto na liderança LGBT, preconceito social, questionamento da legitimidade e da competência com base em estereótipos e discriminação, minimização da pauta, tentativa de reduzir as questões LGBT a um nicho, desconsiderando sua interconexão com lutas sociais e econômicas mais amplas, ataques políticos, uso da identidade LGBT como alvo para disseminar ódio e desinformação, buscando desestabilizar a liderança, resistências internas e necessidade de constante reafirmação da capacidade de liderança dentro do próprio espectro político, superando desconfianças veladas.
Superar esses desafios não é apenas uma vitória individual, mas uma conquista coletiva que inspira e encoraja outros a se engajarem na política. A presença de um presidente partidário LGBT envia uma mensagem clara: a liderança e a competência não são limitadas pela orientação sexual ou identidade de gênero, mas sim pela dedicação e visão para a comunidade.
Três Lagoas tem demonstrado um crescente interesse em pautas de diversidade, como evidenciado pela recente realização da 3ª Conferência Regional dos Direitos LGBTQIA+ e por iniciativas municipais de combate à LGBTfobia. No entanto, a transposição dessas discussões para políticas públicas efetivas e para uma representação política mais robusta ainda é um caminho a ser percorrido.
Uma liderança LGBT em um partido de esquerda tem o potencial de catalisar essa transformação, garantindo que as demandas da comunidade sejam integradas à agenda política e resultem em ações concretas. Além disso, fortalece a articulação progressista ao demonstrar, na prática, um compromisso inabalável com os direitos humanos e a justiça social em todas as suas formas.
Em última análise, a eleição de um presidente de diretório partidário que é LGBT e oriundo da classe trabalhadora é mais do que um ato simbólico. É um passo estratégico e fundamental para a construção de uma política mais inclusiva, democrática e verdadeiramente representativa, pavimentando o caminho para um futuro mais igualitário para todos em Três Lagoas. ★
(*) Reynoold Duarte, militante do PT e da AE em Três Lagoas/MS.