Luís Felipe Miguel, os centímetros e os milímetros

Por Valter Pomar (*)

Luís Felipe Miguel voltou ao tema Baleia x Lira.

Fez isso aqui: https://m.facebook.com/luisfelipemiguel.unb/posts/10220182533094448

Reproduzo na íntegra:

“Quando houve a eleição para a presidência da Câmara, a polêmica na esquerda era se devia apoiar Baleia Rossi, o candidato de Rodrigo Maia, ou lançar uma candidatura própria, para marcar posição.

Havia argumentos razoáveis de lado a lado. Um deles era que Rossi e Lira seriam a mesma coisa. Nenhum deles levaria adiante o impeachment e ambos se alinhavam às reformas destrutivas de Guedes.

Hoje está claro que não é assim. Talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment. Mas é provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação.

E a velocidade da destruição do Estado brasileiro e dos direitos afirmados no pacto constitucional de 1988, sob Lira, não tem precedentes.

Enquanto comemoramos vitórias sobre factoides como voto impresso e distritão, a boiada está passando. A reforma regimental de Lira reduziu a possibilidade de expressão da oposição e garante que os retrocessos sejam aprovados a toque de caixa, sem qualquer interlocução com a sociedade.

A cada semana, a lista de medidas a serem desfeitas por um eventual governo democrático aumenta.

Não creio que a posição da esquerda, que acabou chegando dividida à votação, tenho sido decisiva para a derrota de Rossi. Mas vale aprender a lição. Marcar posição numa eleição interna da Câmara não fez a luta popular avançar um centímetro. Já evitar a vitória do mal maior teria feito bastante diferença”.

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Comecemos pelo fundamental: a “boiada está passando” e a “lista de medidas a serem desfeitas por um eventual governo democrático aumenta”.

Nisto estou totalmente de acordo com o professor Luís Felipe.

Mas é preciso lembrar que a boiada está passando porque em certas questões não existem divergências relevantes entre o centrão, a direita gourmet e a extrema direita.

Por isso, na minha opinião é ilusão achar que – se o presidente da Câmara fosse outro – a boiada “da destruição do Estado brasileiro e dos direitos afirmados no pacto constitucional de 1988” não estaria passando.

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Sigamos para um segundo assunto: o professor Luís Felipe considera que “voto impresso” e “distritão” seriam “factoides”.

Não estou de acordo com essa definição.

Não é pouca coisa que o voto impresso tenha recebido apoio da maioria dos deputados presentes à votação. E o “factóide” do distritão serviu para ser reintroduzida a coligação proporcional. E tudo junto e misturado jogou água no moinho do “semipresidencialismo”.

Ademais, a eleição de 2018 já mostrou do que os “factóides” são capazes.

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Vamos agora a outro ponto.

Segundo o professor Luís Felipe, “quando houve a eleição para a presidência da Câmara, a polêmica na esquerda era se devia apoiar Baleia Rossi, o candidato de Rodrigo Maia, ou lançar uma candidatura própria, para marcar posição”.

Na verdade, a polêmica incluía uma terceira posição: a de apoiar Lira.

Esta posição foi defendida por alguns dirigentes e parlamentares vinculados ao PT (e até onde eu sei estava presente em outros partidos da esquerda).

Um dos argumentos utilizados para defender Lira era o de que a direita gourmet seria a representante dos EUA, do setor financeiro, do grande capital, do neoliberalismo doutrinário.

Já Lira, como parte do centrão, teria um apego menor às posições neoliberais.

Curiosamente, Luís Felipe omite da equação esta terceira posição.

Embora tenha sido desmentida pelos fatos, ela fez parte da polêmica e contribuiu para que certas decisões fossem tomadas.

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Luís Felipe diz que: “Havia argumentos razoáveis de lado a lado. Um deles era que Rossi e Lira seriam a mesma coisa. Nenhum deles levaria adiante o impeachment e ambos se alinhavam às reformas destrutivas de Guedes”.

Segundo o professor Luís Felipe, “hoje está claro que não é assim. Talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment. Mas é provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação”.

Penso que algo que está “claro” é que tanto Lira quando Rossi são alinhados com as reformas destrutivas de Guedes.

Sobre como Baleia Rossi se comportaria caso tivesse vencido, não temos como ter certeza mas suspeitamos que manteria a coerência.

A esse respeito, pode-se ler aqui: https://www.cartacapital.com.br/politica/pacheco-x-simone-lira-x-baleia-o-que-esperar-dos-principais-candidatos-as-presidencias-do-congresso/

Coerência que se verificou, por exemplo, em recente votação da MP que cria o Regime Especial de Trabalho Incentivado, Qualificação e Inclusão Produtiva. Baleia Rossi foi um dos 304 votos a favor.

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O professor Luís Felipe reconhece que “talvez Rossi não colocasse mesmo em pauta o impeachment”.

Mas considera ser “provável que Bolsonaro estivesse um pouco menos descomedido: foi a vitória de seu candidato Lira que assinalou que ele podia subir ainda mais o tom, sem qualquer preocupação”.

De acordo.

Mas acontece que Bolsonaro “sobe o tom” sempre, quando ganha e quando perde.

O que desconcerta setores da esquerda, que fazem exatamente o contrário: “baixam o tom” quando ganham e quando perdem.

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Luís Felipe está correto, também, quando diz que “a reforma regimental de Lira reduziu a possibilidade de expressão da oposição e garante que os retrocessos sejam aprovados a toque de caixa, sem qualquer interlocução com a sociedade”.

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Disto tudo, o professor Luís Felipe diz o seguinte: “Não creio que a posição da esquerda, que acabou chegando dividida à votação, tenho sido decisiva para a derrota de Rossi. Mas vale aprender a lição. Marcar posição numa eleição interna da Câmara não fez a luta popular avançar um centímetro. Já evitar a vitória do mal maior teria feito bastante diferença”.

Não se trata de “crer” ou não.

A esquerda chegou dividida à votação, mas a esmagadora maioria votou em Baleia Rossi.

Arthur Lira teve 302 votos. Baleia Rossi teve 145 votos. Fábio Ramalho (MDB-MG) 21 votos; Luiza Erundina (Psol-SP) 16 votos; Marcel van Hattem (Novo-RS) 13 votos; André Janones (Avante-MG) 3 votos; Kim Kataguiri (DEM-SP) 2 votos; General Peternelli (PSL-SP) 1 voto. Além disso houve 2 votos em branco. (Fonte: Agência Câmara de Notícias).

Portanto, mesmo com o apoio da maioria esmagadora da esquerda, Rossi perdeu e Lira ganhou no primeiro turno.

Portanto, a vida demonstrou que não era possível “a vitória do mal menor”.

Hoje podemos ter certeza de que o dilema real era como perder.

Perder apoiando um neoliberal golpista?

Ou perder marcando posição com uma candidatura da esquerda?

Não vejo como apoiar o neoliberal golpista tenha servido para fazer “a luta popular avançar” um milímetro.

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Para quem estiver interessado, seguem abaixo alguns textos escritos na época acerca da tática da bancada petista na eleição da presidência da Câmara:

23 de dezembro de 2020

http://valterpomar.blogspot.com/2020/12/luis-felipe-miguel-aldo-fornazieri-e.html

5 de janeiro de 2021

http://valterpomar.blogspot.com/2021/01/luis-felipe-miguel-o-baleia-e-o.html

6 de janeiro de 2021

https://pagina13.org.br/luis-felipe-e-a-boa-fe/

(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT

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