Por Luiz Sérgio Canário (*)
A frase do título tem origem incerta, mas foi usada por Lenin. Mesmo sem tê-la usado explicitamente, Marx, na Mensagem ao Comitê Central da Liga dos Comunistas, escreve um trecho com quase o mesmo sentido: “A atitude do partido operário revolucionário em face da democracia pequeno-burguesa é a seguinte: marchar com ela na luta pela derrubada daquela fração cuja derrota é desejada pelo partido operário; marchar contra ela em todos os casos em que a democracia pequeno-burguesa queira consolidar a sua posição em proveito próprio.”. José Genoino tem usado essa frase para tratar da tática dos dias atuais.
O sentido que todos que a usaram, em diversos momentos da história, é o de que há momentos em que interesses ou objetivos táticos que são comuns a classe trabalhadora e outros segmentos da sociedade podem levar a necessidade de golpear juntos, para aumentar a força do golpe, mas cada um seguindo o seu próprio caminho e conduzindo suas próprias bandeiras. O momento de dar o golpe, onde e com que intensidade precisa ser coordenado para produzir o efeito desejado.
Os dias que vivemos, esses ao redor do 7 de setembro, nos coloca em uma situação em que essa frase toma corpo. Podemos, grosseiramente, hoje agrupar as forças políticas em três grandes campos, nomeando-os somente por clareza: o campo popular e progressista, onde estão a esquerda e o PT, o campo bolsonarista, a extrema-direita e o fascismo, e o campo da terceira via, onde está a direita gourmet. Cada um desses campos marcou manifestações. Duas no dia 7, os campos progressistas e bolsonaristas, e a direita, chamada pelo MBL, para o dia 12/9. As do dia 7 já aconteceram e já foram e estão sendo bastante avaliadas.
A manifestação convocada pelo MBL é contra o governo Bolsonaro e, assim como o campo progressista, carrega a bandeira do Fora Bolsonaro. Na aparência o MBL chama os que, independentemente de partido, querem o fim do governo Bolsonaro para participar da manifestação. Isso tem feito alguns de nós do campo progressista estarem defendendo atender o chamado e ir para a Av Paulista no domingo. O argumento é que estamos defendendo a mesma coisa e que quanto mais gente esteja na rua, mais força a luta por defenestrar Bolsonaro ganha.
Há aí um enorme erro de avaliação que conduz a uma tática equivocada. O MBL claramente defende a construção de uma terceira via para disputar as próximas eleições. Na visão deles nem Lula nem Bolsonaro podem governar o país e por isso é preciso construir uma alternativa forte que tire um dos dois do segundo turno. Mesmo sem declarar isso, é óbvio que o objetivo é tirar Lula. Além dessa diferença de posição no presente, seu passado não podia ser pior. Não só participou ativamente do Golpe de 2016 como fez campanha para Bolsonaro em 2018. E esteve ao lado do governo até outro dia. Ou seja, o MBL tem lado, que é o mesmo da direita. E todos os esforços desse campo é tirar Lula e, se possível, o PT da disputa. Isso nos afasta de qualquer possibilidade estarmos juntos no dia 12.
Ter em comum um objetivo tático, defenestrar Bolsonaro, não nos faz aliados. Mas não nos deixa considerá-los inimigos. O Fora Bolsonaro é o que há em comum. Nada além disso. Podemos, e até devemos, unir forças nesse objetivo para torná-lo mais forte e com um alcance social maior, conseguindo uma pressão expressiva sobre o Congresso para votar o impeachment ou sobre o TSE para caçar a chapa Bolsonaro-Mourão.
Aí entra a frase do título. Devemos coordenar esforços para juntos golpear Bolsonaro com toda força possível de ser reunida. Mas, por não termos mais nada em comum, marchando separados. Cada um no seu quadrado. O acúmulo de forças para golpear pode passar por manifestações amplas. Mas cada um com suas cores, bandeiras e discursos. Com respeito mútuo por estarmos dividindo o palanque. Nada de cores obrigatórias ou proibidas. Cada um vai como sempre vai para os seus atos. Levando os seus cartazes, cantando as suas músicas e gritando suas palavras de ordem. Isso define bem o marchar separados. Nosso campo está articulado em torno da Campanha Fora Bolsonaro, coordenada pelas frentes, partidos e entidades dos movimentos sindicais e populares. E é nessa articulação que marcharemos.
Marchar separados é condição para a independência política de cada campo, golpear juntos é uma forma de aumentar a força da pancada contra o inimigo conjunturalmente comum. Ou seja, tudo junto, mas não misturado!
(*) Luiz Sérgio Canário é militante petista em São Paulo-SP