Por Valter Pomar (*)
O companheiro Mercadante, em entrevista à TV 247, afirmou que o plano Biden “é uma ruptura com esse ultraneoliberalismo, com esse neoliberalismo que há 40 anos está presente (…). O plano Biden é uma ruptura, uma ruptura decisiva”.
Quem quiser ver a entrevista, pode acessar através deste endereço:
Mercadante exagera (embora não chegue aos pés da companheira Gleisi Hoffmann, que declarou sua admiração por Biden, que estaria “revolucionando a economia capitalista”).
O neoliberalismo não é uma política pública, com a qual se rompe adotando outra política pública.
O neoliberalismo é um determinado padrão de acumulação capitalista, padrão no qual tem destaque o capital financeiro.
Pergunto: o plano Biden rompeu ou pretende romper com este detalhe?
Se não rompeu e se não pretende romper, então é um exagero falar em “ruptura decisiva”.
Não haverá “ruptura decisiva”, nos EUA ou em qualquer lugar, enquanto não se derrotar a hegemonia do capital financeiro.
Mercadante também disse que Biden “se inspira e publicamente assume que foi beber no Roosevelt, foi beber no New Deal, na saída da crise de 1929”.
Deixo para outro momento a discussão sobre FDR, este cidadão que certa propaganda vende como um cara tão simpático.
Mas é indispensável lembrar que a saída da crise de 1929 não foi obra e graça do New Deal, mas sim do esforço de guerra.
Assim como o Plano Marshall fez parte de outro esforço de guerra, no caso a Guerra Fria entre EUA e URSS.
É uma ingenuidade elogiar o plano Biden e não perceber o que está em jogo e os próximos passos.
Mercadante tem total razão quando diz que a saída da crise brasileira depende da ação do Estado.
Mas termina aí a analogia entre o que Biden pretende fazer nos EUA e o que a esquerda precisa fazer no Brasil.
A economia dos EUA é uma economia imperialista, oligopolizada, financeirizada e sentindo-se ameaçada pela concorrência chinesa.
A economia brasileira são outros quinhentos reais. Aqui será necessário uma “ruptura decisiva” de verdade, não para gringo ver.
Assim, usemos e abusemos – na luta política com “nossos” neoliberais – do exemplo de Biden.
Mas não vamos cair na ilusão de pedir peras al olmo.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT