“Nova direção envelheceu antes de tomar posse”

Suas concepções mostram-se inúteis, quando não obstrutivas, para o período que passamos a viver

Por Rui Falcão (*)

Texto publicado na edição 283 do jornal Página 13

A eleição para as direções do PT, por uma série de circunstâncias, colocou nosso partido na contramão dos acontecimentos mais recentes. Em um processo permeado por abuso de poder econômico, filiações em massa sem controle e intervenção de estruturas de governo — além da inédita e reprovável judicialização de assuntos partidários — prevaleceu um bloco de forças cuja orientação vaza água por todos os lados.

O presidente eleito, companheiro Edinho Silva, e sua corrente, a CNB (Construindo um Novo Brasil), nunca esconderam suas posições, embora tenham sido obrigados a flexibilizá-las durante os debates do PED. A linha da corrente majoritária se baseava em um tripé: a centralidade da coalizão com partidos de centro-direita para garantir governabilidade e vitória eleitoral em 2026; o arrefecimento da polarização com a extrema-direita para viabilizar a amplitude da coalizão (“contra o fascismo”) e a compreensão da institucionalidade como terreno quase exclusivo da ação política

Essas ideias hegemônicas no próprio Planalto não produziam resultados políticos animadores, seja na popularidade ou na aprovação do governo. A terceira gestão do presidente Lula parecia sequestrada pela maioria conservadora no Congresso e pelos interesses do capital financeiro. Faltava-lhe identidade própria e capacidade para disputar entre as massas o sentimento antissistema.

Na reta final das eleições internas, os fatos já foram dando razão aos que, como os candidatos a presidente da esquerda petista, prediziam a necessidade de nos prepararmos para uma ofensiva conservadora contra o nosso governo. Isso implicava defender reformas populares que despertassem o apoio das classes trabalhadoras, que estimulassem a convocação da mobilização social em seu favor e o enfrentamento público aos partidos de direita que controlam o Congresso.

O primeiro episódio que deixou nítida essa situação foi a revogação do decreto de aumento do IOF pelos parlamentares. A derrota no Congresso não apenas demonstrou que a maioria conservadora estava alinhada com a pauta dos grandes capitais como também sinalizava o exaurimento da coalizão formada para governar o país.

O segundo momento que escancarou as fragilidades das posições do companheiro Edinho foi a ação truculenta do imperialismo estadunidense, associada à extrema-direita interna e incentivada pelo bolsonarismo, tentando atropelar nossa soberania e submeter o Brasil às suas ordens.

Lembremos que o então candidato da CNB iniciou sua campanha propondo o fim da polarização e visitando a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília.

O presidente Lula, nas duas oportunidades, reagiu com firmeza. Buscando alterar o rumo e o discurso do governo, lançou-se primeiro na batalha da justiça

tributária, colocando a luta dos pobres contra os ricos em destaque. Depois, frente às ameaças de Donald Trump, partiu para uma defesa enfática e programática de nossa soberania, inclusive com pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.

Mas a maioria da direção nacional que saiu eleita do PED, infelizmente, é um retrato do cenário anterior. Envelheceu antes de tomar posse. Revelou extrema habilidade, digamos assim, para mover a máquina e ganhar nas urnas, usufruindo da simpatia do próprio presidente da República. Suas concepções, entretanto, mostram-se inúteis, quando não obstrutivas, para o período que passamos a viver. A tal ponto que a própria CNB, ao reconhecer o fato, pediu tempo para refazer sua superada tese ao Encontro Nacional de agosto.

O companheiro Edinho Silva terá de liderar o petismo em batalhas decisivas travadas desde já, confluindo para 2026. Para colhermos vitórias nestas disputas, precisamos de um partido engajado no Plebiscito Popular de 7 setembro; na campanha pela taxação dos super -ricos; pelo fim da escala 6×1 com a redução da jornada do trabalho sem redução salarial; pela retomada de reforma agrária; pela reindustrialização do Brasil e pela soberania nacional, entre outras bandeiras.

Nosso governo, para enfrentar com eficácia a agressão imperialista, necessitará de um programa de emergência que diminua fortemente as restrições fiscais e monetárias atuais, garantindo recursos para medidas imediatas de fortalecimento de nossa soberania, reforço do funcionamento de setores vitais e melhorias aceleradas nas condições de vida do povo.

Para isso, é fundamental termos um partido de combate que construa, nas ruas e nas redes, o principal fator de governabilidade, soldando um grande movimento de massas que desague na reeleição do presidente Lula em condições que possibilitem levar avante um programa de transformações estruturais.

Chega de um PT morno, acomodado, aprisionado em acordos às vezes humilhantes, sem perspectiva programática e histórica!

Oxalá seja cumprida a promessa do novo presidente, de convocar, ainda para 2025, o 8º Congresso Nacional do PT, com representantes eleitos, como propomos, a partir da convocação.

Somente um processo verdadeiramente democrático, através das instâncias estatutárias, com ampla participação das bases, pode assegurar a reafirmação da unidade partidária com aprovação de um rumo político condizente com a grave situação mundial e do nosso país.

Continuamos na luta por um PT socialista, radicalmente democrático, popular, anti-imperialista e de massas.

Com a base, construir a esperança!

(*) Rui Falcão é deputado federal (SP) e foi candidato a presidente nacional do PT no PED 2025.

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