Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia zumbística e exúsica: “O voto em Lula e a sua vitória são expressões do pacto revelador dos lugares que contrariam o Estado burguês brasileiro.”
O valor do voto é relativo à força organizativa dos lugares, base real e material dos eleitores (as) negros (as) e pobres que votaram em Lula. O valor relativizado do voto, sabotado pelo Estado subordinado aos interesses perversos de banqueiros, tem, como agente-operador da burguesia branca e vassala do imperialismo, o Banco Central. Paradoxalmente, o Banco Central, adjetivado como autônomo, serve exclusivamente ao chamado mercado e/ou banqueiros. No nexo dos bolsões de Estado persistentes no país, vejamos os casos das Forças Armadas, do sistema Judiciário, do Ministério Público, do Sistema Policial e do Banco Central, todos atuam sempre na contramão dos interesses nacionais. Hoje, no Brasil, o Estado se insurge deliberadamente não tão-somente contra o voto dado a Lula, mas contra a soberania nacional e, na mesma investida, contra a soberania negro-popular e da classe trabalhadora.
Qual o dilema atual do país?
Existe soberania nacional quando o Estado, como reflexo do território usado pelos brasileiros, atua na defesa de quem vive no país e, por igual equivalência territorial, investe na indústria nacional, nas pesquisas estratégicas, na geração de renda associada à restituição social da riqueza, no trabalho e direitos e, relevando que é central para a coesão nacional, na superação do racismo. Longe da utopia posta no parágrafo anterior, o Estado-Nação, é o caso brasileiro, atua contra a soberania nacional; o Estado brasileiro paira, como força ativa da classe burguesa e de violências, acima ou sem considerar o território usado pelo povo. O voto em Lula e a sua vitória são expressões do pacto revelador dos lugares que contrariam o Estado burguês brasileiro. O pacto tem, além do compromisso selado pelo voto, um potencial de luta e de levante popular encruzilhado. Em outros termos, o pacto historicizado em 2022 exige um governo favorável à classe trabalhadora e campo negro-popular. O Estado-Nação deveria se ocupar da coesão nacional; no entanto, está a serviços de privilégios para a burguesia e imperialismo. Está a serviço sobretudo dos especuladores . Não há preocupação com a coesão ou soberania nacional, que reside no território entendido como quadro de vida de milhões de brasileiros.
Na conjuntura atual é possível uma mobilização do chão da sociedade brasileira para enfrentar a burguesia branca e golpista? Sim, é uma necessidade e o processo de luta virá em conexão com o protagonismo ativado pelo PT, CUT e MST, sem prejuízo da indispensável adesão da esquerda partidária de conjunto e dos movimentos sociais igualmente. Quem votou e é base social do governo Lula, nas teias e redes encruzilhadas dos lugares, vai reagir pela ação direta e articulada dos lugares e do global -nacional do PT, da CUT e MST. Numa síntese, o global-nacional, PT, CUT e MST terá ressonância nos lugares, nos Núcleos e Comitês Populares de Luta, entre outros. A reação mais forte, uma autêntica convulsão negro-popular e da classe trabalhadora, virá dos territórios segregados pelas violências econômicas, policiais e do racismo.
Quando Lula enfrenta a burguesia, o Banco Central, é um fato concreto, circula e reverbera um pacto de classe-raça-gênero e de território com os excluídos (as). O conjunto indissociável, no Brasil, constituído pela classe-raça-gênero e território atualiza permanentemente o pacto de 2022 , que transcende o voto e se afirma como base concreta para um levante negro-popular. É preciso, então, que PT, CUT, MST e a esquerda nacional convoquem e organizem o campo popular para, via plebicito democrático, retirar a autonomia do Branco Central. Lula tem falado contra os juros criminosos sustentados pelo Banco Central; no entanto, quem pode encurralar e derrotar a burguesia branca brasileira?
Uma nova etapa dos ataques contra Lula
Até ontem, a burguesia atacou o governo Lula pelo franco econômico; agora amplia para outras frentes. O caso Moro e PCC é bem emblemático e ilustrativo das novas frentes. Não há dúvidas, o caso tem o modo de operação do imperialismo e das suas colunas no Brasil. A rigor, a burguesia branca e o imperialismo enunciam como objetivo central destruir Lula e ativar uma marcha golpista progressiva . Por outro lado, as forças populares articuladas, a partir do PT, CUT, MST e esquerda de conjunto, devem acender o sinal vermelho de perigo de golpe. As forças negro-populares precisam atuar e abrir as pautas contra a burguesia e, ao mesmo tempo, impulsionar o governo Lula no que toca às políticas fundamentais para o ascenso da classe trabalhadora .
Dentro desses limites, é central a luta pela revogação das reformas do ensino médio. O ministro da Educação tem de agir e, ao mesmo tempo, as categorias de profissionais vinculadas ao ensino; docentes , discentes e o corpo técnico, e igualmente os seus sindicatos. É preciso mobilizar e revogar, com o ascenso das massas, as privatizações e tudo que opere contra a soberania nacional. O mesmo deve ser feito no embate para questionar e revogar a autonomia do Banco Central. Para encurralar a burguesia, que hegemoniza o congresso e as demais instâncias de poder, o único remédio é mobilizar e convocar plebicito para democratizar e politizar o porquê da revogação da autonomia do Banco Central e também das reformas do ensino médio, entre outras. A luta pelo salário mínimo, tal como ocorre com a industrialização, a modernização e as pesquisas na área, está na mesma seara de mobilização e de força advinda dos interesses da classe trabalhadora; falamos de hegemonia e força convulsionada permanentemente pelas ruas e comitês populares. A geração de renda, sem tocar no acúmolo de riqueza, redundará em fracasso.
O fato pode ser revisto desse modo: o social liberalismo será um desastre; não há possibilidade de neutralidade e, sem mexer na riqueza e na estrutura de classe-raça-gênero e território segragado para servir ao capital e branquitude totalitária, não haverá sucesso. O governo atua para gerar renda, mas sem um polo negro-popular dirigido pelos trabalhadores à esquerda e sem um projeto de transformação radical. Não há dúvida, corremos o risco de o governo continuar paralisado e ser dirigido pela ordem e ótica do Centrão ou Frente Ampla. Em outros termos , os golpistas, apoiadores e responsáveis diretos pela ascensão e eleição de Bolsonaro, ficarão no comando e sem a chancela do voto popular outorgado ao presidente Lula. A concentração da riqueza e do patrimônio será desfeita pelo ascenso das massas trabalhadoras e com a radical transformação do Estado.
(*) Fausto Antonio – É escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab – Bahia