“Nada causa mais horror à ordem do que mulheres que lutam e sonham”, José Martí
Bandeira das Mulheres do PT durante campanha “Lula Presidente”, 1989. Crédito: Vera
Jursys. Acervo: CSBH/FPA.
Por Gleice Jane (*)
O atual cenário político brasileiro tem sido marcado por contradições que têm levado setores da esquerda petista a titubearem frente a tomadas de decisões e a se indignarem com certas alianças e atitudes de políticas de companheiros do partido. Não se pode negar que o cenário é extremamente complicado e desfavorável a políticas inclusivas que visam a diminuir as históricas desigualdades sociais. Todos sabemos que nossas casas de leis são majoritariamente compostas por parlamentares predominantemente masculinos, que dão sustentação a um modo de produzir a vida pautado na exploração do trabalho e na legitimação das violências inerentes ao modo de produção econômica defendida por uma maioria desses parlamentares.
Todavia, essa situação não pode ser utilizada para justificar certas posições políticas e atitudes em nome da governança e da democracia. Alianças esdrúxulas com políticos de extrema-direita e o silêncio diante de casos de violência extrema têm dado alento a uma forma de fazer política realizada em costuras políticas de gabinete. Esse modus operandi fortalece projetos políticos individuais e mina a democracia partidária, afastando as bases das tomadas de decisões e enfraquecendo o ânimo da militância. Nesse contexto, contudo, aparece a força do feminismo interseccional e de esquerda que tem denunciado esse tipo de comportamento e, ao mesmo tempo, feito um esforço enorme para lidar com as contradições que emanam do jogo político.
O feminismo interseccional e de esquerda tem dado exemplo de luta não se omitindo de fazer críticas, denúncias e travar verdadeiras batalhas contra o machismo e o patriarcado que pairam dentro do próprio partido, sem, contudo, deixar de apoiar e de acreditar no projeto petista e nas políticas elaboradas pelo governo Lula. São essas mulheres que têm comparecido às urnas para dar a vitória ao projeto progressista e na defesa da democracia. São essas mulheres que têm disputado com lealdade espaços no governo. E, neste momento de eleições, mais uma vez, somos nós que estamos imbuídas em construir chapas para eleições municipais, em defender nosso presidente dos ataques da extrema-direita.
O nosso feminismo tem sido uma força que se consolida nas lutas diárias dentro e fora do partido e se configura como uma forma de fazer política e de apontar os rumos para a construção do socialismo petista. A extrema-direita, sorrateiramente, tem tentado atacar nossas fileiras, tem organizado grupos de mulheres em todo país, inclusive, se apoderando de nossas falas e de nossas políticas. Não podemos ignorar essas estratégias levadas a cabo e a fogo baixo que tentam impor um modelo de ser mulher, dona de casa e submissa, mascarando as condições reais de existência das mulheres.
As feministas petistas não vão baixar a guarda e continuarão demandando políticas para as mulheres, defendendo a Lei Maria da Penha, lutando pela implantação das casas das mulheres, exigindo pautas educacionais que abordem a violência contra as mulheres, contra a covardia do feminicídio, contra um papel social irreal de subalternidade e silenciamento. Sabemos que as mulheres cuidam de seus entes, têm jornadas duplas, planejam o orçamento familiar, são arrimos de família, vivem toda sorte de problemas provocados pelo capitalismo e pelo neocolonialismo pseudomoralista. Reúnem, portanto, todas as condições e conhecimentos para apontar soluções concretas. Enfim, vivem todas as contradições, mas não desistem de mudar essa condição, porque sabem que, se melhorarem suas vidas, mudarão as vidas de muitas outras pessoas. O feminismo petista é uma realidade e uma proposta política que se configura na prática, na luta diária. Quem despreza essa força, despreza as possibilidades de mudança, despreza a possibilidade da implantação do tão sonhado socialismo petista. Seguiremos em luta!
(*) Gleice Jane é deputada estadual do PT-MS.