Por Página 13 (*)
Em janeiro de 2012, os governos tucanos de São José dos Campos e do Estado de São Paulo, aliados a um setor do Judiciário paulista e a grupos econômicos de propriedade de notórios corruptos, perpetraram um crime de lesa-humanidade: o Massacre do Pinheirinho.
Na manhã do domingo de 22 de janeiro, após semanas tensas de ameaças de invasão pela polícia militar, a tragédia se materializou. Milhares de policiais, munidos de armamento pesado, blindados, helicópteros, enfim, de um aparato de guerra, invadiram residências e, sob bombas, tiros e agressões físicas expulsaram famílias inteiras sem permitirem que sequer pegassem seus objetos pessoais.
O saldo daquela desgraça ordenada por governantes do PSDB, além das milhares de famílias que perderam tudo, foi ao menos uma morte e dezenas de feridos. Na área, viviam, há uma década, 1.600 famílias, cerca de 6 mil pessoas.
“De repente, dois helicópteros da Polícia Militar começaram a jogar bombas e a cavalaria entrou por trás. Pela frente, entrou o batalhão da Tropa de Choque, com arma de verdade”, relembra Valdir Martins, conhecido como Marrom, que era coordenador da ocupação na época da remoção. “Foi um horror, todo mundo assustado, as pessoas feridas.”
Apesar de denúncias da população do Pinheirinho de que teriam ocorrido várias mortes por ação da polícia militar, apenas uma dessas mortes foi comprovada. O aposentado Ivo Teles dos Santos, de 70 anos, revoltou-se com a invasão e começou a protestar, sendo, em seguida, espancado por policiais militares.
Após o espancamento, Teles desapareceu. Semanas depois, foi localizado por sua família no hospital municipal Dr. José Carvalho de Florence, em São José dos Campos. O idoso deu entrada no hospital no dia 22 de janeiro, horas depois do massacre.
Teles ficou internado, em coma, até 22 de março, quando sua filha, Ivanilda Jesus dos Santos, chegou da Bahia para retirá-lo. Até a morte, diz Ivanilda, o aposentado permaneceu em estado vegetativo, sem se movimentar nem responder a qualquer estímulo, por conta dos ferimentos causados pela polícia. Em 9 de abril, Teles faleceu de falência múltipla de órgãos.
A área era parte da massa falida da empresa Selecta, de “propriedade” de Naji Nahas, megaespeculador que possui uma dívida milionária em impostos, foi preso em 2008 pela Polícia Federal por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, e era o grande interessado na ação. O empresário e seus aliados seriam os grandes beneficiados com o despejo das famílias do terreno de cerca de 1,3 milhão de metros quadrados, avaliado em 180 milhões de reais.
O prefeito de São José dos Campos na época era Eduardo Cury, do PSDB. Após a remoção, diante das críticas enfrentadas pela Polícia Militar, classificou a operação como “bastante tranquila”. A insatisfação popular com a operação foi vista nas urnas. Ainda em 2012, Alexandre Blanco, candidato indicado pelo tucano para a prefeitura local, perdeu para o petista Carlinhos Almeida, que levou o PT ao governo no município depois de 16 anos.
Governador de São Paulo na época, Geraldo Alckmin (PSDB), também foi bastante criticado pela operação. Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), parlamentares da oposição chegaram a denunciar que o tucano trabalhava para impedir que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investigasse os abusos da corporação durante a remoção dos moradores.
Segundo Alckmin, a polícia cumpriu apenas uma ordem judicial.
– A polícia está apenas cumprindo uma determinação judicial que, quando não é cumprida, a PM tem de ser acionada. O governo não decide sobre isso.
Das 1,5 mil famílias expulsas do Pinheirinho, 1,4 mil acessaram, em 2016, o programa Minha Casa, Minha Vida ( viabilizado principalmente pelo Governo Dilma) e hoje vivem no Residencial Pinheirinho dos Palmares, no bairro Emha 2, na zona sul de São José dos Campos.
O coronel Manoel Messias Mello, hoje aposentado, comandou à época a operação de reintegração de posse do Pinheirinho. Hoje, Manoel Messias se tornou coach e vende palestras motivacionais em seu site, onde exalta a reintegração comandada por ele. “Liderou inúmeras ações policiais, dentre elas a bem sucedida operação de reintegração de posse do ‘Pinheirinho’ em São José dos Campos, em 2012, onde comandou dois mil policiais militares em um mesmo evento”.
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Fontes:
https://blogdacidadania.com.br/2013/01/o-massacre-do-pinheirinho/