Por Valter Pomar (*)
Que o Partido dos Trabalhadores enfrenta enormes dificuldades, todo mundo sabe.
Que o PSOL, ou pelo menos setores deste partido, gostariam de “ultrapassar o PT pela esquerda”, também é bastante sabido.
O que poucas vezes se recorda é que, por conta do PT ser (ainda) muito grande e o PSOL (ainda) muito pequeno, bastante gente conhece os “problemas” do PT e pouca gente conhece os do PSOL.
Claro: quem tem amigos no PSOL, volta e meia ouve reclamações contra a corrente XYZ que supostamente apoiaria “levantes populares ” fomentados pelo imperialismo, fulano que supostamente defenderia o governo de Israel, beltrano que supostamente teria relações excessivamente próximas com a Globo, sem falar das reclamações a boca pequena contra uma determinada figura pública que supostamente teria se filiado ao partido apenas para ser candidato etc.
Como o trabalho pela sobrevivência, a participação na luta social e os debates internos ao nosso próprio Partido tomam muito tempo, geralmente a conversa sobre estas reclamações ficam restritas à mesa do bar (bons tempos!) ou a raros e ralos “debates” nas mal-denominadas redes sociais.
Mas agora tudo mudou!
Primeiro foi a campanha do PSOL para prefeito de São Paulo, que a alguns surpreendeu pelo desempenho eleitoral e a outros (não) surpreendeu pela calculada moderação do candidato, quase um “Boulinhos paz e amor”.
E agora temos a discussão sobre a eleição da Mesa da Câmara dos Deputados, onde um setor importante da bancada do PSOL defende publicamente votar em Baleia Rossi.
Um dos que defende isso é o deputado Marcelo Freixo, cujos argumentos podem ser lidos aqui:
A partir de uma correta denúncia do governo Bolsonaro, Freixo conclui que é preciso “o ingresso da bancada do PSOL, assim como fizeram todos os partidos de esquerda, no bloco democrático cujo candidato é o deputado Baleia Rossi”.
Diz o ditado que o excesso de velas põe fogo na Igreja. Por qual motivo, para derrotar Bolsonaro, deveríamos tratar como “democrático” o bloco liderado por Maia e integrado por Temer, Baleia Rossi, MDB, PSDB e DEM?
Freixo diz que não se trata de uma aliança programática, mas tática. Entretanto, afirma que o objetivo é “impedirmos que Bolsonaro controle a agenda do Parlamento pelos próximos dois anos”.
Mas como fazer isso, se Baleia Rossi foi mais governista do que Arthur Lira, se Temer já prometeu a Bolsonaro que terá bom-comportamento, se já ficou claro que o impeachment não está em cogitação?
Bom, sempre se pode especular que Baleia-Temer farão com Bolsonaro o que Temer et caterva fizeram com o PT e Dilma. Mas, infelizmente, a conta de Freixo é outra.
Freixo afirma o seguinte: “são muitas as divergências que tenho com Baleia Rossi em relação à economia e ao papel do Estado no desenvolvimento socioeconômico do país”.
Ou seja: Freixo tem plena consciência de que neste terreno – que afeta a vida do povo de maneira máxima – não se pode esperar nada ou quase nada de Baleia Rossi.
Freixo também afirma o seguinte: “Derrotado o candidato de Bolsonaro, seguiremos em trincheiras opostas, lutando por projetos distintos para Brasil, mas dentro dos marcos democráticos. E isso que nos une nesta conjuntura: a defesa da democracia, do Estado de Direito e da Constituição de 88”.
Ou seja: Freixo acha que Maia, Baleia, Temer, MDB, PSDB e DEM seriam aliados na “defesa da democracia, do Estado de Direito e da Constituição de 88”.
Pergunto: alguém ouviu algum desses senhores fazer uma mísera autocrítica que fosse, mesmo que por mera demagogia, acerca do que fizeram no golpe de 2016? Acerca da condenação e prisão de Lula?? Acerca das inúmeras medidas que tomaram contra as liberdades e direitos previstos na Constituição??
Freixo vai além: explica que “quando falamos em proteger a Constituição, estamos lutando pela garantia dos direitos das minorias, do controle sobre as polícias, do SUS e da educação pública, dos limites p/ os avanços autoritários do Planalto, da assistência aos mais pobres e da defesa do meio ambiente”.
Ou seja: segundo Freixo, MDB-PSDB-DEM e companhia limitada seriam aliados idôneos nestas lutas.
É coerente, portanto, sua defesa de que o PSOL deva entrar participar de uma “coalização (sic) capaz de derrotar os adversários da democracia”.
Na parte 2 deste texto, analisaremos a posição de outro setor do PSOL.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT