O voto nulo no Equador e a vitória do neoliberalismo

Por Daniel Valença (*)

Guilherme Lasso

No Equador, o 2° turno teve 1 milhão e 600 mil votos nulos. No 1° turno, foram 1 milhão. A vantagem do banqueiro Guillermo Lasso sobre Andrés Arauz será ao redor de 400 mil votos. O voto nulo convocado pelo Movimiento Pachakutik custará caro ao povo equatoriano.

Quem acompanhou o primeiro turno no Equador viu que Yaku Pérez saiu das urnas falando em a) caso não fosse ao segundo turno, seria fraude; b) que ao lado de Guillermo Lasso derrubariam o “correísmo”.

Dias após, confirmada sua derrota no primeiro turno e com muita pressão quanto a sua aliança com Lasso, ele e o Pachakutik convocaram voto nulo, mesmo que do lado oposto de Andrés Arauz e do Revolución Ciudadana estivesse um banqueiro, neoliberais que, no governo Lenin Moreno e vários outros antes de Correa, reprimiram e mataram dezenas de indígenas e manifestantes em diversos episódios políticos do país.

Quando se faz luta política sem enfrentar as contradições inerentes à luta política, pairando-se moralmente acima dos conflitos, das contradições, a consequência para a luta da classe trabalhadora é desastrosa.

Por óbvio que vários outros fatores influenciaram a virada do jogo na reta final; a ação imperialista norte-americana, a intervenção no processo eleitoral por parte do Ministério Público da Colômbia; o Lawfare contra o Revolución Ciudadana, ainda mais intenso do que o contra Lula no Brasil.

Reconhecida a vitória virtual de Lasso, Arauz fez um discurso de líder político: defendeu que ali estava se recuperando a organização popular, convocou o movimento indígena para uma unidade das classes subalternas em defesa da classe trabalhadora e da plurinacionalidade e, ao passo que denunciou que competiu em eleições em que sua força política era acossada pelo Lawfare – algo como o foi nossas eleições de 2018 – , ou seja, uma competição antidemocrática e desigual, exigiu que Lasso acabe com a perseguição político-jurídica também lá em curso.

Que a classe trabalhadora equatoriana resista, à pandemia e ao aprofundamento Neoliberal que virá.

(*) Daniel Valença é professor da graduação e mestrado em Direito da UFERSA, Coordenador do Grupo de Estudos em Direito Crítico, Marxismo e América Latina – Gedic, e Vice-Presidente do PT/RN


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *