Por Marcel Franco Araújo Farah (*)
Um amigo educador certa vez me disse que a história pode ser percebida em ondas de curta, média e longa duração. Assim descrevia a luta popular no Brasil nos anos 1900 passando por períodos de ascensos nas décadas de 1920, 1950 e 1980, com os sindicatos anarquistas, a ascensão do governo Jango e o surgimento do PT. Períodos alternados por outros, de descenso das lutas. Enfim, ondas de curta, média e longa duração.
Somos bombardeados diariamente com notícias de curta ou curtíssima duração, sinto muita falta de conversar sobre efeitos menos imediatos e mais duradouros dos cenários futuros da vida brasileira.
Um ótimo exemplo é o artigo de Wladimir Pomar, no sítio Pagina 13, em que ele trata dos efeitos dos últimos anos de desindustrialização e compressão do mercado de consumo no Brasil e no mundo.
Uma premissa básica com que ele trabalha é a ideia de que só há porque produzir se houver alguém para comprar. Como temos cada vez menos gente para comprar, com a diminuição geral da renda do trabalho, há cada vez menos indústrias dispostas a produzir. Esse, teria sido um dos motivos da saída da Ford, da Mercedes e mais recentemente, da Audi, do Brasil. Segundo elas mesmas, as condições e os custos de produção no Brasil não compensam, mesmo tendo generosos benefícios tributários, e enormes empréstimos (dívidas com os) bancos públicos.
Wladimir alerta que, para este governo, a conta não fecha. Como podem sair com tamanhas benesses!
Continuando o raciocínio, Pomar fala do salário, ou renda indireta das classes trabalhadoras, que não é o salário pago em dinheiro, mas os serviços públicos prestados gratuitamente pelo estado. Quando estes serviços são tratados como gasto, como fazem os neoliberais do governo Bolsonaro, ignora-se que a renda das pessoas não gasta com saúde, educação ou previdência privada poderia ser usada para comprar o que a indústria produz. Bingo!
No artigo, ainda é tratado do tema da desestruturação do estado, privatizações, desarticulação de serviços públicos, políticas do atual governo que enfraquecem ainda mais nosso mercado de consumo. Afinal, as políticas restritivas retiram dinheiro do povo.
Ou seja, a perspectiva de combate ao neoliberalismo bolsonarista é encarada, por Pomar, dentro de um processo histórico de média duração que permite perceber que o “bozo” é a ponta de um enorme iceberg. Os problemas de política econômica, o neoliberalismo, devem ser combatidos para garantirmos um futuro melhor. A queda de Bolsonaro é apenas um meio para combatermos o inimigo principal e não um fim em si.
Falta este discernimento para a maioria da esquerda brasileira.
Goiânia-GO, 18 de fevereiro de 2021
(*) Marcel Franco Araújo Farah é militante petista
(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.