Por Luiz Sérgio Canário (*)
Os jornais Folha de São Paulo e Estadão de 5 de abril descrevem um regabofe organizado por um empresário com a presença de “30 grandes empresários e executivos do setor financeiro”, segundo a Folha, e a da presidenta do PT Gleisi Hoffmann. Ela se fez acompanhar pelo economista Gabriel Galípolo, sócio da consultoria com o mesmo nome e ex-presidente do Banco Fator. O que levou Gleisi a comparecer e porque ela levou junto esse banqueiro, ninguém sabe. O que se sabe é que ele foi apresentado como um nome jovem da campanha de Lula. O acontecimento dessa vez não foi em lugar público, como o Rubayat, mas na casa do empresário organizador.
Vemos dia após dia dirigentes do PT e economistas, do partido ou ligados ao partido, participando de animadas conversas com economistas que historicamente defenderam ideias completamente fora dos nossos programas. Agora a nossa presidenta vai a um convescote de empresários acompanhada de um representante do mercado financeiro, ex-banqueiro e agora “consultor”.
A resposta as críticas a essa postura é sempre “precisamos conversar com todo mundo”. Precisa mesmo? O que um Pérsio Arida pode ter a acrescentar? Um dos “pais” do Plano Real, neoliberal até a medula, defende tudo que sempre fomos contra, publica textos constantemente e sempre batendo nas mesmas teclas neoliberais vai fazer o que na Fundação Perseu Abramo? Não estamos falando de políticas próximas onde se pode buscar algum tipo de consenso. Como essa gente nunca muda de posição, defendem a séculos os interesses das classes dominantes e do imperialismo, nós estamos mudando? Estamos caminhando para uma política econômica restritiva e completamente contaminada pela sabedoria dos “pais” do Plano Real?
Com tantos economistas mais, ou menos, jovens no PT qual a razão de Gleisi escolher para acompanhá-la um ex-banqueiro e consultor sabe-se lá do que? O que esse brilhante economista pode falar sobre política econômica de um futuro governo Lula? Que sinais Gleisi quer passar para os tais empresários? Que agora ao invés de escrever uma Carta aos Brasileiros estamos levando conosco vários brasileiros para declamar um ideário que agrade aos sensíveis ouvidos de nossa burguesia atrasada e subordinada ao império? As perguntas seguem sendo muitas. E nenhuma delas é respondida. Seguimos no escuro. Somente um fechado e hermético grupo de dirigentes, alguns eleitos e outros não, sabem para onde vamos. Muitas questões defendidas pelos economistas são diferentes ou incompatíveis com o que Lula muitas vezes fala em discursos e entrevistas.
E onde estão os economistas do PT que passam anos discutindo e elaborando políticas públicas e são simplesmente deixados de lado e falando sozinhos? Tudo bem que as posições de nossos economistas não sejam lá muito avançadas. Nelson Barbosa defende a manutenção da famigerada política de paridade de preços dos combustíveis com o mercado internacional e Guilherme Mello, apresentado como coordenador do grupo de economistas do PT, defende que é necessário algum tipo de regra fiscal. Claro que essa regra é algum tipo de limitador pré-fixado dos gastos, em certa medida muito semelhante ao atual Teto de Gastos, que usa a inflação passada como indexador dessa regra fiscal. E nisso ele não está sozinho, muitos e muitos de nossos economistas defendem essa posição com variações de como deve ser a tal regra e qual o indexador da revisão da regra.
Mas quem são os economistas do PT? A Folha de São Paulo, em artigo de 19 de fevereiro passado, produziu um levantamento traçando o perfil do grupo. Segundo o texto o grupo hoje tem 88 pessoas. O maior subgrupo tem origem na academia. São professores e pesquisadores ligados ao mundo universitário, como pode ser visto na figura abaixo:
Há 56 economistas e apenas 10 são mulheres. Desse total 30 concluíram a graduação até 1980. Considerando se graduar ao redor dos 23 anos, todos esses 30 têm mais de 50 anos.
A UNICAMP reina entre os economistas. 38 dos 56 economistas têm doutorado e desses 20 estudaram na UNICAMP. A influência da UNICAMP é muito grande.
Repetindo a pergunta, com um grupo como esse, academicamente preparado, com ex-ministros com experiência na formulação e condução de políticas públicas, parlamentares acostumados aos mais duros debates políticos e dirigentes partidários porque Gleisi vai a um jantar com empresários acompanhada de um desconhecido quadro do mercado financeiro? Como fala o povo, jabuti não sobe em árvore, se você encontrar um na árvore deixa o bicho quieto porque foi alguém que botou ele lá. Surpresas não muito boas ainda surgirão.
Mas um comentário, no mesmo artigo citado mais acima, tem um trecho muito interessante: “”Os petistas usam a estrutura do partido para se projetar, mas o futuro governo dependerá de muitas coisas que ainda estão indefinidas”, diz o economista Otaviano Canuto, que fez parte da equipe de Palocci. “A chave do que pode vir a ser um novo governo do PT está na cabeça de Lula, não na do partido.””. Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. E um deles manda em todo mundo.
(*) Luiz Sérgio Canário é militante petista em São Paulo capital.