Por Lucas Reinehr (*)
Dos dias 14 a 18 de julho, a União Nacional dos Estudantes realizou seu Congresso Extraordinário. Diferente do tradicional “Conune”, esse processo foi organizado de forma bastante diferente e em um momento atípico. O Brasil acumula mais de 530 mil mortes por COVID-19, vivemos um avanço do fascismo seguido da ampliação do programa ultraliberal e ataques constantes à educação. Esse cenário coloca para a União Nacional dos Estudantes o desafio de repensar e qualificar sua atuação nas lutas sociais do próximo período.
Não é novidade que a pandemia prejudicou intensamente a organização dos principais movimentos sociais brasileiros. O movimento estudantil, que se organiza e atua principalmente nos locais de estudo, sofreu um grande impacto com a suspensão das aulas presenciais. Com essa nova realidade, boa parte do planejamento das entidades estudantis teve que ser revisto e modificado. Tornou-se um desafio manter o contato diário com a base estudantil através dos meios digitais, principalmente porque o acesso às tecnologias da informação e comunicação ainda é bastante escasso ou precário para muitos estudantes.
Apesar das dificuldades, muitas entidades estudantis buscaram alternativas para este período, seja através da realização de plenárias e/ou assembleias online, seja através da luta pela ampliação de políticas e auxílios de inclusão digital. O acesso às tecnologias tornou-se, mais do que nunca, uma questão crucial para a permanência. Além disso, foi através dos encontros virtuais que o movimento estudantil realizou debates e articulou lutas, ainda que de forma limitada em certos momentos.
Se é verdade que a pandemia prejudicou nossa atuação, também é verdade que nem todos os problemas decorrem dela. Para além da pandemia, algumas dificuldades dizem respeito à direção política das entidades, principalmente a UNE, UBES e ANPG. No caso da UNE, a estratégia adotada pela direção majoritária durante a pandemia foi de fortalecer seu caráter institucional e a construção de ações simbólicas. Essa postura também foi decisiva para aprovar a realização desse Congresso Extraordinário, que ficou bastante aquém do que necessitamos.
Em 2019, no 57º Congresso da UNE, cerca de 18 mil estudantes estiveram reunidos em Brasília. Já o Congresso Extraordinário, que ocorre neste momento, contou com apenas 7 mil estudantes inscritos – num processo que sequer possui delegados. Um dos principais motivos pela baixa participação é a realização do congresso durante a semana, num momento em que muitos estudantes trabalham ou estão em aula. Torna-se impossível, para muitos, conciliar estudo e trabalho com as atividades virtuais do congresso. Outro ponto que demonstra a baixa participação é a quantidade de telespectadores das lives e participantes nas salas Zoom, que é baixa em relação à quantidade total de inscritos.
A falta de etapas locais e/ou regionais também impactou muito na mobilização para o congresso. Diferente dos outros anos, em que a tiragem de delegados garantia a realização de disputa e campanha nas universidades, esse processo foi organizado em etapa única. Esse método faz com que muitos estudantes, principalmente aqueles que ingressaram na universidade durante a pandemia, desconheçam o processo e não se referenciem na União Nacional dos Estudantes.
O congresso em si, portanto, não alterará a correlação de forças no interior da entidade. Porém, traz ao conjunto das forças políticas – especialmente as de oposição – a oportunidade de repensar o papel da UNE no segundo semestre de 2021 e durante 2022. Nós, da JAE (Juventude da Articulação de Esquerda), apresentamos a tese “UNE Para Tempos de Guerra”, onde trazemos nossa avaliação sobre a conjuntura, o projeto de educação que defendemos e o que esperamos das lutas do movimento estudantil. Fortalecer um movimento estudantil para tempos de guerra deve ser a principal tarefa da juventude petista nesse momento, que tem como desafios derrubar Bolsonaro e seus capangas urgentemente, defender a educação pública e conduzir os estudantes à luta por um projeto democrático, popular e socialista de país.
O horizonte desta “nova gestão”, principalmente com o protagonismo e a unidade da juventude do PT, precisa colocar a UNE nos rumos certos. É preciso fortalecer as jornadas de luta nas ruas, construir uma luta nacional por melhores condições de permanência e colocar um fim de vez nas intervenções bolsonaristas nas universidades e Institutos Federais. É para esta direção que os estudantes devem marchar: na direção de um movimento estudantil gigante, com sua rede muito bem articulada e com coragem para enfrentar o fascismo e o ultraliberalismo.
(*) Lucas Reinehr é diretor de assistência estudantil da UNE.