Por Gilderlei Soares (*)
Fundação do PT – 1980
O partido político que foi fundado no dia 10 de fevereiro de 1980, em pouco tempo, tornou- se a principal referência da classe trabalhadora no Brasil.
Os partidos são instrumentos para conquistar o poder político. A burguesia dispõe de outros mecanismos para manter o poder: o próprio Estado, a grande mídia, a indústria cultural, as instituições educacionais, as igrejas conservadoras, as forças armadas, entre outros. Assim, não precisa tanto de um partido, como nós precisamos.
Já a classe trabalhadora não dispõe do poder, por isso, precisam de um Partido para conquistar o poder, para defender nossas ideias, para mobilizar a sociedade, para construir as táticas e estratégias de lutas necessárias para conquistar o poder político e transformar nossa sociedade.
Por isto os partidos são tão importantes para nós que somos trabalhadores e trabalhadoras, que somos pessoas de esquerda.
O PT surgiu como um partido que tem como objetivo defender os interesses da ampla maioria, que é de trabalhadores e trabalhadoras..
Um partido político não pode ser definido somente pelo que o conjunto de seus militantes acham que ele é, mas pela análise de sua história e sua capacidade de organizar a luta e disputar os rumos do país. Ao longo desses 43 anos, o mundo mudou, o Brasil mudou e o próprio PT mudou.
Nos primeiros anos de partido, juntamos vários setores que lutavam contra a ditadura militar e pela redemocratização do país. Fortalecemos os movimentos sociais. Aprendemos a governar nossas primeiras cidades. Fomos para as ruas defender as Diretas Já.
Participamos dos debates da Constituição de 1988 e quase conseguimos vencer as eleições presidenciais em 1989. Sempre pensando como articular essas lutas com uma estratégia que possibilitasse colocar o socialismo em nosso horizonte.
Nos anos 1990, a queda do muro de Berlim, a derrocada do socialismo no Leste Europeu e a ascensão do neoliberalismo no Brasil influenciaram mudanças estratégicas no PT.
A luta contra o neoliberalismo tornou-se o centro da nossa tática. A articulação da nossa luta política com a construção do socialismo foi ficando cada vez mais de lado.
Paralelamente neste mesmo período, aumentamos nossas bancadas parlamentares em todos os níveis; governamos importantes estados e novas prefeituras, ampliando cada vez mais a prioridade da luta institucional.
Em 2002 vencemos as eleições presidenciais. Também vencemos em 2006, 2010 e 2014. Construímos governos que fortaleceram economicamente o Estado e melhoraram a qualidade de vida do povo brasileiro, com o fortalecimento de políticas públicas, geração de emprego e renda.
Também cometemos muitos erros. Não compramos a briga necessária por uma reforma tributária com taxação das grandes fortunas, garantindo maior poder ao Estado para ampliar as políticas públicas. Também não fizemos uma reforma política com capacidade de ampliar mecanismos de democracia e participação popular.
Talvez o maior erro tenha sido acreditar que as elites suportariam sucessivos governos de esquerda, que melhorassem a qualidade de vida do nosso povo, mesmo sem tocar nos setores historicamente privilegiados do nosso país.
Sofremos um golpe de Estado em 2016. Tivemos o nosso maior líder popular preso e perdemos as eleições presidenciais de 2018.
Enfrentamos o bolsonarismo. Lula foi solto e venceu as recentes eleições presidenciais de 2022.
Impossível compreender a história do Brasil nestes últimos 43 anos sem estudar a história do PT.
Mas a obra do PT não pode ser apenas o passado, mas sim a disputa do presente e a construção do futuro. Tanto o presente quanto o futuro estão sendo construídos. Por isso, precisamos discutir onde queremos chegar, ou seja, qual o nosso programa. É fundamental também saber como queremos chegar: a estratégia, nossa tática e quais serão as formas de luta e organização.
Esse debate não começa do zero. Já temos muita coisa debatida.
Depois de 43 anos, continuamos com muitos desafios na luta por um Brasil justo, igualitário. Para o PT atingir seus objetivos, é preciso construir um movimento político que faça a disputa cultural da nossa sociedade, reorganizando os movimentos sociais, disputando os espaços institucionais e organizando o próprio Partido.
Nossas tarefas mais imediatas são enfrentar as ideias conservadoras que ganharam corpo em nossa sociedade, fazendo com que o PT volte a ser o partido que representa os anseios de construção de outro modelo de sociedade.
Paralelamente temos que ajudar a construir a governabilidade no governo Lula, enfrentando as posições golpistas e ao mesmo tempo, em um governo de coalizão, fazer com que o PT seja o suporte de disputa do governo pela esquerda.
Hoje, somos, de longe, a principal alternativa eleitoral que a classe trabalhadora tem como referência. Porém, não sabemos se o PT voltará a ser um partido de fato socialista, democrático-popular, que acumula forças no debate ideológico, nas lutas sociais e institucionais e que se constrói, construindo a luta pelo socialismo.
O que vai predominar no PT? Depende da luta política que a classe trabalhadora vai conduzir. Depende dos rumos do atual governo Lula e das disputas travadas no interior do Partido.
A esquerda petista, principalmente aquela que quer um partido que volte a construir um projeto democrático-popular articulado com a construção do socialismo, é cada vez mais minoritária no partido.
A existência desses setores internos no PT, nos quais me incluo, é fundamental. Porém, é preciso que revisemos nossos erros e qual será a tática que nos permita voltar a fazer a disputa real dos rumos do partido.
Estamos num momento muito complexo da vida do Brasil, da América Latina e do mundo. No Brasil presenciamos um avanço de ideias de cunho fascista. Estamos num momento muito perigoso, mas também cheio de esperanças e possibilidades.
Por isso, mais do que nunca, precisamos do PT. E precisamos que o PT consiga dar respostas concretas aos enormes desafios que a classe trabalhadora tem pela frente.
Já temos um grande passado. Precisamos enfrentar os desafios do presente e construir as vitórias do futuro.
Depois de 43 anos, ainda há muita luta pela frente por um mundo e um Brasil sem opressão nem exploração.
Viva a classe trabalhadora!!
Viva o PT!!
E viva o socialismo!!
(*) Gilderlei Soares é professor e militante petista no Rio Grande do Norte