Por Olavo Carneiro (*)
Desde a sua fundação o Partido dos Trabalhadores defende e tenta exercitar a democracia interna, tentando ser um exemplo a ser reproduzido em toda a sociedade. O PT sempre criticou os partidos tradicionais por suas características verticais e extremamente hierárquicas, acostumados com caciquismo, coronelismo e decisões de cúpula. Na construção de um partido de massa e militante, promoveu e fortaleceu os núcleos de base.
Por muitos anos estabeleceu uma dinâmica de decisões internas de baixo para cima, a partir de delegações oriundas de intensos debates de teses. As forças internas precisavam mobilizar militância e travar a batalha das ideias. Mas várias mudanças estatutárias foram enfraquecendo o papel do convencimento dos militantes sobre as posições políticas, e fortalecendo o papel de “mobilizar” filiados.
Desde a sua aprovação, o PED é apresentado por seus defensores como o melhor formato para a mais ampla democracia interna, pois o filiado expressaria sem intermediários as suas opiniões e quem gostaria de ver na direção. No entanto, a boa intenção fracassou.
Há quem continue chamando o PED de a mais “ampla democracia” interna. Isto não passa de intensa hipocrisia. A experiência não se confirmou democrática. Ela aumentou internamente o uso e abuso do poder econômico. Aumentou a degeneração e o fisiologismo. Eliminou o debate. As regras são alteradas casuisticamente pela maioria, para impedir que a minoria possa se tornar maioria.
Muito se fala em *responsabilidade* com o partido. Especialmente para atacar quem denuncia publicamente as fraudes no PED. A hipocrisia aqui é também gigantesca. O grupo que controla o Diretório Nacional e a maioria dos Diretórios Estaduais nada faz internamente com as denúncias e contra as fraudes e exige que todos sejam cúmplices. Ter responsabilidade é lutar contra a consolidação de quadrilhas e oportunistas, minando qualquer chance de o PT ser de fato um partido de massa e militante.
É preciso construir um caminho de participação qualificada da base. Mas isto começa com o imediato fim do PED.
(*) Olavo Brandão Carneiro é integrante do DR do PT-RJ