Por Rodrigo Pereira (*)
Em outubro de 2006 a Bahia, no impulso dado pelo primeiro mandato do governo Lula e a partir de uma frente ampla de coalizão com setores que lutavam contra a hegemonia da direita carlista, controlada, obviamente, por Antônio Carlos Magalhães – conhecido na Bahia como “ACM-malvadeza ou o rouba, mas faz” -, juntamente com uma significativa parcela de aliados históricos do carlismo, no entanto, insatisfeitos com a política coronelista e familista de “malvadeza”, fez eleger Jaques Wagner o primeiro governador petista da Bahia, o qual, à época, era o ministro das Relações Institucionais do governo Lula. O governo de Jaques Wagner, de cunho desenvolvimentista, logrou considerável êxito na execução das políticas públicas que, nas eleições de 2010, veio a reeleger-se para um novo mandato. Aproveitando todas as possibilidades vindas do governo federal, a Bahia foi um dos estados que mais conseguiu captar e desenvolver as políticas públicas as quais “desciam de Brasília”, num período muito auspicioso, nesse fluxo.
O PT Bahia, em conjunto com aliados da esquerda e centro-direita baiana, chegou ao 3° mandato elegendo para dois mandatos, o 1º em 2014 e o 2º em 2018, Rui Costa, o ex-secretário da Casa Civil da Bahia do segundo governo Wagner e atual ministro da Casa Civil do governo Lula.
Depois da breve contextualização acima, dá-se um salto para as eleições de 2022, a qual já estava estabelecido, no PED de 2019, Jaques Wagner como candidato à sucessão de Rui Costa. Apesar do acordo, não demorou muito para acontecer um “rebuliço”, como se diz na Bahia, depois do nome de Jaques Wagner ser consolidado junto à base aliada, o então candidato decide não concorrer às eleições de 2022. De imediato, uma crise se instaura às vésperas das eleições. Tudo mudou e o plano de Rui Costa para a tal crise foi “farinha pouca, meu pirão primeiro: eu, senador; Otto Alencar (PSD), governador e, Wagner, continua no senado para cumprir os 4 anos restantes do seu mandato. Bingo!”. Mas a fubica não andou e, do pau elétrico, fez-se uma outra sonoridade: Otto não queria ser candidato ao governo do estado, almejava reeleger-se ao senado; mas isso não foi tudo, pior do que isso, principalmente para os burocratas, foi o levante da militância petista sacudindo o “chão da praça”, que fez nascer um movimento dentro do Partido por uma candidatura própria, um/a candidato/a petista. O plano de Rui Costa não foi adiante, foi “enjeitchado” pela militância “balança o chão da praça” e pelo seu aliado, o senador Otto Alencar, enquanto Jaques Wagner levantava as mãos.
Depois de ser apontado diversos nomes do Partido, surge o nome do então secretário de Educação Jerônimo Rodrigues. A partir daí, se inicia uma grande jornada para pôr o nome de “Jéro” na boca do povo. E assim foi feito, “Jéro” foi eleito depois de dois turnos de muita batalha. A Bahia tem o primeiro governador autodeclarado indígena.
Sem nenhuma dúvida, Wagner assumiu um estado atrasado em métodos e em formas obscuras de administração pública e, com a base do governo Lula, a Bahia deu um boom na política nacional; além disso, o PT baiano, sua direção e suas lideranças, tiveram uma grande participação junto ao governo Wagner.
Já no governo de Rui Costa, o diálogo foi outro, a impressão que se tem é que Rui construiu uma relação utilitarista com o PT baiano, sem respeitar suas lideranças, militância e instâncias partidárias. A partir disso, instaurou-se uma espécie de “caça às bruxas” contra todos/as os/as petistas que pudessem atrapalhar seus planos. Rui Costa demonstrou, nitidamente, seu total afastamento com o petismo e o vermelho, não tendo compromisso com a construção do Partido, o qual o fez governador da Bahia.
Alguns números ajudam na reflexão. Nas eleições municipais de 2008, o PT baiano conquistou 66 prefeituras; em 2012, 92 prefeituras.
Em 2016, as coisas começam a ficar estranhas, o PT conquistou apenas 39 prefeituras baiana. Alguns companheiros justificaram essa baixa performance a partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff/PT somado aos ataques intensos que o Partido sofreu.
Em 2020, a crise se aprofundou mais ainda, o PT alcançou 32 prefeituras, mas a justificativa para o pífio desempenho foi atribuída à pandemia da COVID-19, segundo os “analistas” esse fato foi decisivo para o reles resultado eleitoral. O interessante é que as justificativas postas acima não atingiram a “base aliada”, pelo contrário, ela ficou mais forte ainda, conquistando mais governos municipais.
Uma pequena e valiosa informação para a análise: o PT baiano só chegou ao segundo turno das eleições municipais, em Salvador, em 2008 e 2012, justamente durante os governos de Jaques Wagner.
Desafios e contradições para o modo petista de governar: novo governador, Jerônimo Rodrigues, enfrentará na área da educação a questão da militarização dos colégios estaduais, iniciada durante a sua gestão (2019-22) na SEC/BA, a partir de negociações pré-eleitorais de Rui Costa com a PM Bahia, para a ampliação do número de colégios estaduais militarizados. É importante lembrar que a militarização dos colégios públicos é uma proposta da extrema-direita, por isso, faz-se necessário discutir o modelo de educação pública, respeitando as diretrizes da LDB e revogando o “novo ensino médio”, aprovado pelo governo genocida de Bolsonaro.
Outro desafio será no eixo ambiental. Nos últimos anos a Bahia se tornou território livre para os “tubarões” e gananciosos que querem tirar a todo custo cada pedra de minério, cada gota d’água, cada suspiro de vento. Esses ataques atingem diretamente os setores que apoiam, desde o início dos governos do PT e, ainda assim, com todas as contradições, continuam apoiando. Os dois governos Rui Costa foram na contramão do que o PT nacionalmente pensa e faz em relação à política ambiental.
Sabe-se que o governo Jerônimo seria uma continuidade do governo Rui, o estranho que é ampliando-se mais ainda concessões à direita, trazendo até elementos da base do genocida como representante do governo democrático popular baiano, como é o caso do deputado estadual Raimundinho JR, eleito pelo PL, partido do genocida, tornando-se vice-líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia.
Ainda há “o retorno dos que não foram”, uma vez que retornaram rapidamente. O PP, do ex-governador João Leão e deputado federal eleito, apontado por Rui Costa como “o traidor” do projeto, agora, volta a sentar à mesa do governo estadual. Até que ponto vale tudo pela governabilidade?
A pergunta que muitos sussurram é: qual será a cara do governo Jerônimo Rodrigues? Onde colocará o seu jeito na gestão estadual? O que fará de novo ou diferente das gestões Wagner e Rui Costa? Qual será sua marca governamental para a Bahia?
E o PT nisso tudo, fica como?
A militância do PT na Bahia ficou refém de um método que foi implementado nos últimos anos, onde alguns dirigentes e parlamentares atuam como se tivessem carta “vermelha” ou autorização das instâncias partidárias e militância para “operar” seus interesses ou de seus pares.
O PT baiano tem “coração bom”, ou melhor, alguns dirigentes e o ex-governador. Na eleição de 2022, utilizou-se a Federação Brasil da Esperança para salvar 6 deputados estaduais da “base aliada” com nenhum histórico “companherista”, filiando dois deputados estaduais da direita ao PT e quatro no PV. Com essa genial estratégia eleitoral, o PT baiano perdeu 4 deputados estaduais militantes históricos do Partido.
Governo forte, Partido fraco. Mesmo com todas as vitórias eleitorais ao governo do estado, o PT baiano está extremamente desorganizado. Os diretórios municipais que existem são, no máximo, burocracias cartoriais que não têm vida real com o dia-a-dia da classe trabalhadora. Sem contar os municípios que, malmente, tem comissão provisória. Constata-se que o projeto da maioria que dirige o PT baiano é a desarticulação e o enfraquecimento das instâncias municipais partidárias para o fortalecimento da “dita base aliada” e para a garantia da “suposta governabilidade”.
Quando achamos que não pode piorar o que já está “Ruim”, é sabido por todos que a ex-primeira-dama, Aline Peixoto, esposa do ministro da Casa Civil, Rui Costa, é a candidata da base do governo para a vaga no Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM). E o que “ouvimos” da direção do PT estadual é um “silêncio ensurdecedor”, além do medo de algumas lideranças exporem suas opiniões contra essa excrescência por terem retaliações.
Partido é partido e Governo é governo?
“Nossa presença no governo e no parlamento, em todos os níveis, é uma parte – parte importante, mas sempre uma parte – deste esforço para termos um Brasil com bem-estar social, soberania nacional, liberdades democráticas, industrialização e desenvolvimento de novo tipo. Um país socialista”. (Editorial, Jornal Página 13, nº 250, Fev. 2023).
Lutaremos ao lado do governador, Jerônimo Rodrigues, por um governo que represente os interesses da classe trabalhadora, do campo e da cidade, reafirmando o que dissemos na eleição “com tiranos não combinam; brasileiros corações”, com esses versos e em ações derrotamos o filhote do carlismo e do retrocesso político para Bahia. Seguiremos em luta!
(*) Rodrigo Pereira, militante do PT e da AE – Ba, com colaboração de Maria Maranhão, militante do PT e da AE – Ba