Por Varlindo Nascimento (*)
Nos últimos anos o mundo tem vivido a escalada política de uma extrema direita com modos fascistas. Esses grupos retomam e tratam com naturalidade valores, conceitos e práticas que erroneamente acreditávamos já terem sido superados definitivamente. Em muitos países essa movimentação tem alcançado maiorias legislativas e governos nacionais. O Brasil é um exemplo, diga-se de passagem.
Diante desse quadro crítico àqueles que prezam por valores democráticos, progressistas, libertários, socialistas e etc., devem ou deveriam se perguntar sobre o que fazer a partir de então para exercer um contraponto que tenha real efetividade, antes que a barbaridade e opressão ditem definitivamente a regra das relações sociais.
Essa não é uma questão fácil e a análise da experiência histórica é central para encontrarmos uma resposta que coloque nossa ação no rumo correto.Na primeira metade de século XX o mundo viveu duas guerras de proporções gigantescas e, vezes como causa outras como consequência, essas guerras proporcionaram ao mundo regimes sociais conduzidos de forma completamente antagônicas entre si.
O modelo fascista teve suas experiências mais significativas na Itália e Alemanha. Esses dois países tinham em comum o fato de suas unificações enquanto estado-nação ter acontecido apenas na segunda metade do século XIX, causando sérias dificuldades no processo de expansão de suas economias, principalmente durante o neocolonialismo que extorquiu África e Ásia durante aquele século. Uma das razões da Primeira Grande Guerra tinha como argumento a repartição desse butim.
Dessa forma, Itália e Alemanha participaram da contenda como parte da Tríplice Aliança ao lado do Império Austro-húngaro, saindo derrotadas do conflito e humilhadas pelos termos do Tratado de Versalhes. A forma como o conflito foi dissipado reforçou uma série de discursos nacionalistas, principalmente entre os derrotados, que encontraram terreno fértil numa população violada, desesperançada e empobrecida. Foi nesse contexto que os regimes de caráter nazifascistas se desenvolveram a ponto de um novo conflito internacional eclodir duas décadas após o fim da Primeira Guerra.
Por outro lado, o mesmo conflito bélico foi uma janela de oportunidade para a ascensão de um modelo de sociedade antagônico ao fascismo. Na Rússia, desde o século XIX, uma série de mobilizações buscava pôr fim ao regime absolutista conduzido pela dinastia dos Romanov. Em 1917 a guerra debilitava as condições de vida da população ao mesmo tempo em que os privilégios da monarquia e das elites sociais eram preservados.
Foi esse cenário que desencadeou o processo revolucionário conduzido pelo Partido Bolchevique, tomando o poder e derrubando o antigo regime imperial, instituindo anos depois a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Estado comunista de orientação marxista. Curiosamente, naquela época, compreendia-se que a consolidação do socialismo na Rússia seria uma contradição à ciência de Marx, tendo em vista que o necessário desenvolvimento das forças produtivas não seria suficiente naquele país até aquele momento.
Ao contrário do que diz o discurso hegemônico, a União Soviética foi a principal responsável pelo desfecho da Segunda Guerra, colocando por terra o projeto expansionista dos países do Eixo. Essa vitória permitiu por algumas décadas que o socialismo fizesse um contraponto constante à parte capitalista do mundo, exercendo uma espécie de freio ao caminho natural de espoliação do trabalho e concentração da riqueza promovido pelo modo de produção hegemônico.
Diante disso, os países capitalistas foram obrigados a encontrar uma alternativa para que os povos sob seu controle não se sentissem estimulados a levar adiante processos revolucionários como ocorrido na Rússia, tendo em vista os níveis crescentes de melhoria nas condições de vida e avanços sociais proporcionados pelo comunismo. Essa alternativa dos capitalistas foi o chamado Walfare State, ou seja, a implementação de políticas de bem-estar social.
Enfim, qual o contributo dessa análise histórica na fundamentação de uma resposta ao questionamento do início do texto, tomando por base a nossa realidade contemporânea? A resposta é a seguinte: não será rebaixando nossas pautas que conseguiremos reverter o quadro que está posto no Brasil. Não será nos aproximando do discurso hegemônico que nos tornaremos alternativa para a classe trabalhadora. É necessário que se realize a tão condenada polarização, pois, foi exatamente no momento histórico em que as vanguardas se puseram mais à esquerda do espectro político que a massa trabalhadora foi mobilizada a ponto de conquistar o poder real e assim avançar num verdadeiro processo de transformação social.
Algumas personalidades políticas têm se posicionado criticamente em relação a postura firme adotada por Lula desde que saiu da prisão. Por covardia ou conveniência elas defendem que Lula e o PT se adequem ao contexto e não se proponham à transformá-lo. Na verdade, essa postura tende a levar as massas ao caminho da capitulação definitiva, cabendo a nós combatê-la até o fim.
(*) Varlindo Nascimento e sou militante petista em Recife- PE