Por Valter Pomar (*)
Acabo de ler um tweet do deputado José Guimarães, anunciando que a bancada do PT acaba de decidir integrar o “bloco do Maia”.
A posição não foi unânime, mas parece ter sido amplamente majoritária.
Quem se posicionou contra?
Sei que parlamentares vinculados à tendência petista Articulação de Esquerda foram contra. Não sei de outros.
A decisão na minha opinião é um grave erro.
Erro, em primeiro lugar, porque deveria caber ao Partido e não a bancada decidir a respeito.
Mas ao que sei, o DN remeteu o assunto para a CEN que remeteu o assunto para a bancada.
Erro, em segundo lugar, devido ao mérito.
Na prática, participaremos de maneira subalterna no bloco de um setor do golpismo, contra outro setor do golpismo.
Como diz o tweet de Guimarães, é o PT que passa a integrar o “bloco do Maia”.
Maia é aquele que, segundo disse recente e corretamente o vice-presidente nacional do PT, Washingon Quaquá, é um dos integrantes da turma do imperialismo, do grande capital, do latifúndio, da Globo.
Havia alternativa?
Havia, sempre há.
No caso, ter um bloco de oposição e uma candidatura de oposição.
Mas numa bancada dividida em três partes (os pró-Maia, os pró-Lira e os pró-candidatura de esquerda), prevaleceu o que me parece ser uma “síntese” capenga: participar do bloco do Maia e prometer uma candidatura presidencial do PT ou similar.
O bloco é para já. A candidatura é promessa.
Infelizmente, a nota da bancada não fala as coisas claramente.
O argumento usado para justificar a posição adotada é impedir que Bolsonaro controle a “Casa”.
Diria eu: controle ainda mais; afinal, entre outras coisas, o “bloco do Maia” sentou em mais de 50 pedidos de impeachment.
Mas é óbvio que, numa eleição em dois turnos, este objetivo de derrotar a candidatura mais bolsonarista poderia ser alcançado no segundo turno.
Portanto, a decisão de participar do “bloco do Maia” tem como motivação real e principal buscar garantir espaços na Mesa diretora da Câmara, Comissões e relatorias.
A nota da bancada não deixa isto claro e não explica por quais motivos estes espaços não poderiam ser conquistados apresentando um terceiro bloco, da oposição de esquerda.
Seja como for, é um caso clássico de subordinação da tática geral do Partido, a critérios estritamente parlamentares (e, no caso, equivocados).
Aquilo que em época muito recente alguns petistas chamaram de “cretinismo parlamentar” e “oportunismo”.
De conjunto, a tática da bancada e outras cositas mais sinalizam que 2021 e 2022 podem virar um biênio terrível para quem é de esquerda.
(*) Valter Pomar é professor e membro da Diretório Nacional do PT