Quem está dentro e quem está “fora do jogo”; ou sobre a luta de classes

Por Sérgio Henrique (*)

O professor e militante do PT Marcelino Fonteles publicou um texto ( disponível aqui ) do qual discordo substancialmente e por isso resolvi escrever a presente resposta.

Começo pela afirmação onde o professor diz que “Quando não se é candidato a nada e se está fora do jogo, é fácil ser radical, ser um livre atirador.” O curioso é que essa afirmação saiu da boca de quem já ocupou posição de destaque no campo moderado do partido, mas foi atropelado pela própria estratégia que ajudou a construir com as suas justificativas teóricas. Pra quem não conhece a história, posso explicar:  o Processo de Eleições Diretas (PED) do partido, favorece quem tem mais poder de utilização da estrutura conquistada pelo partido, deixando de “fora do jogo” os militantes que elaboram e debatem programaticamente.

Por ironia, parece que Marcelino gosta de repetir a dose que o envenena repetidas vezes, e nem por isso almejou sucesso eleitoral, mesmo tendo passado por destacados cargos nos governos do PT. Analisando as palavras irrefletidas de Marcelino, trago o exemplo da professora Fabíola Lemos, que mesmo sem “grandes estruturas”, conseguiu votações significativas e, igualmente ao José Genoíno, faz críticas a atual estratégia do Partido ao mesmo tempo que propõe um PT de massas, socialista e militante. Portanto, quando um militante debate o partido criticamente, este o faz porque estuda, reflete e se propõe a construir na prática, pois esta é o critério da verdade, como afirmava Lênin.

Outro equívoco de Marcelino é quando questiona os resultados das eleições de Haddad em  2018 e de Boulos e Manuela em 2020, alegando que estas eram “frentes de esquerda” e, por serem assim, não lograram vitórias eleitorais, como se esses partidos não estivessem seguindo a mesma estratégia construída e defendida por ele, por Jacques Wagner e por outras tantas “lideranças da CNB”, do PCdoB e do PSOL que, aliás, estão unidos na ideia estapafúrdia de superação do Lula como maior liderança popular.

A experiência concreta está nos ensinando que a estratégia do PT que priorizava a mobilização  social na luta de classes tem potencial maior de garantir-lhes crescimento eleitoral, e a estratégia que prioriza apenas as eleições resultam no decréscimo eleitoral do partido. O que Genoíno propõe é uma Frente de Esquerda que dê conta de construção de uma agenda unificada nos anos ímpares, para além de alianças eleitorais localizadas. Quanto a essa proposta, a oposição de Marcelino juntamente com seus parceiros de análise em outros estados, é porque estes desejam que o PT permita alianças mais amplas por pensarem apenas em seus “jogos” políticos locais. Foi o motivo para o PCdoB não apoiar a Marília Arraes em Recife, puro fisiologismo.

Além de citações descontextualizadas do Lênin, o professor cita a conjuntura do fascismo na Itália e a relação dos partidos de esquerda com os partidos “democráticos” de direita na tentativa de comparar com o atual contexto brasileiro, mas esquece de refletir que todos os partidos de direita no Brasil tem relação ou com o golpe de 2016 ou com o bolsonarismo. Nós precisamos de mobilização da classe trabalhadora para nos protegermos dos ataques da burguesia nacional e internacional e o Marcelino propõe alianças com organizações que não estão dispostas a defenderem as classes dominadas. Se Marcelino acredita tanto que existem esses partidos democráticos, porque não se filia a algum na tentativa de construir essas alianças “de lá pra cá”?

O máximo que o PT conseguirá se conformando com a estratégia de superação de Lula é o papel de linha auxiliar da burguesia, e a classe trabalhadora demorará pra construir outro instrumento de luta. Sabemos que essa não é a preocupação de Marcelino e esse é o motivo dele defender a manutenção dos atuais métodos do PT, afinal de contas, no pensamento dele, as questões estaduais não são necessariamente influenciadas pela conjuntura nacional porque as determinações do estatuto e as resoluções podem ser desrespeitadas, como acontecem com os parlamentares “petistas” quando votam e apoiam candidaturas proporcionais de partidos da direita.

Essa sociedade em crise e repleta de mentiras não consegue esconder, mesmo com tantas fake news e narrativas apressadas, que o PT é o partido da classe trabalhadora e somos socialistas, por isso mesmo somos combatidos pela burguesia e pelas organizações que estão a serviço dessa classe dominante.

A verdade é que Genoíno é um grande militante marxista, pois sabe reconhecer quando erra ao ponto de reorientar a caminhada sempre com o olhar no horizonte do Socialismo e da eliminação de todas as injustiças que reinam nas sociedades com classes sociais.

( *) Sérgio Henrique é militante do PT e Entregador por Aplicativos


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

 

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