Por Gilberto Azeredo Gomes (*)
Sem muito alarde, tampouco discussão, foi lançada nesta sexta-feira uma plataforma organizada pela Juventude do Partido dos Trabalhadores, intitulada “Movimento Representa”.
O projeto declara o intuito de mapear e preparar a juventude petista que irá disputar o pleito de 2020 através de cursos de formação online e presenciais.
O nome da plataforma já aponta sua inspiração em modelos movimentistas como o “Movimento Acredito”, “Movimento Agora”, “Movimento Livres”, “Movimento Brasil Livre” (MBL) e um dos mais famosos, o “RenovaBR”. A premissa de que estes grupos deram certo e alcançaram seus objetivos tem sido usada abertamente desde o início da formulação do Representa.
Mas o que todos estes “movimentos” tem em comum?
Sob o argumento de “qualificar” a política, todos eles compartilham de alguns pressupostos, em maioria de cunho liberal: a negação/aversão aos partidos políticos, a infidelidade programática, financiamento através de doações de grandes empresários, além de uma interpretação própria de que não é possível se alterar a política sem renovação.
Quadros como Tabata Amaral (RenovaBR) e Felipe Rigoni (Acredito) demonstram bem o fenômeno da negação partidária e infidelidade programática, quando estes parlamentares, frutos de uma suposta renovação política positiva, votaram contra a orientação de seus partidos (PDT e PSB, respectivamente) na reforma da previdência.
Para nós, jovens petistas, as eleições de 2018 deixaram claro nossas dificuldades em apresentar novos quadros, uma vez que fomos o partido que mais reelegeu parlamentares, com uma renovação inferior a 30%.
No entanto, o debate a ser feito para compreender este fenômeno passa muito mais por discutir questões internas que o “Movimento Representa”, ao menos até agora, parece que pretende ignorar.
O fisiologismo partidário encontrado em diversos de nossos diretórios municipais, muitos deles quase que patronais, estimulados por vícios e práticas hegemonistas, principalmente do grupo majoritário, revela muitas das dificuldades enfrentadas por nossa juventude, que não consegue ter assegurado seu direito à voz, espaço, financiamento e condições equânimes para a disputa eleitoral.
Este projeto precisa estar disposto a dar respostas a históricas falhas que vem sendo cometidas na organização de nossa juventude partidária, que tem se tornado cada vez mais fragmentada e menos identificada com a construção de um projeto de juventude socialista, democrático e de massas.
No último congresso nacional, em São Paulo/SP, a Juventude do PT aprovou uma emenda garantindo 5% do fundo partidário para as candidaturas de juventude que, diante das práticas acima mencionadas, nos leva a questionar se o Representa pretende, por exemplo, discutir a divisão e a destinação destes recursos, uma vez que o Congresso da JPT somente sairá pois uma das demandas é finalizar a aprovação deste “financiamento interno”.
O Representa ainda incorre no erro de apostar numa lógica de juventudismo, quando coloca para as candidaturas do movimento um teto de 35 anos, a fim de enquadrar a juventude cutista, enquanto a JPT se organiza sob o teto de 30 anos.
Não será a lógica liberal destes movimentos que tem servido de inspiração para o Representa que responderá aos nossos reais problemas.
Estes movimentos tem sido “vitoriosos”, pois contam com características burguesas das quais não podemos, nem devemos, compartilhar, como o intenso financiamento empresarial no RenovaBR, através da Fundação Lemmann (AMBEV) e de figuras como Luciano Huck e no MBL, que sequer revela a origem de suas doações.
Incorrer no risco de apoiar irrestritamente um projeto que aposta todas suas fichas em práticas voluntaristas e personalistas pode levar a um definhamento e esvaziamento cada vez maior do nosso partido.
No entanto, isto não quer dizer que o Representa não possa servir como uma importante ferramenta para auxiliar na apresentação de candidaturas de juventude sólidas, com base social real, desde que o projeto esteja disposto a assumir uma construção coletiva de um projeto político petista, com foco na organização da classe trabalhadora e não como impulsionadora de projetos políticos pessoais, distanciados da construção do Partido dos Trabalhadores.
O Movimento Representa não pode substituir a necessidade de uma militância verdadeira, forjada na luta social e na construção de um país socialista, mas pode servir para atrair mais jovens ao PT, reorganizar nossa juventude partidária e inserir estes jovens na política a partir de vias integradas à luta social, como as associações de juventude, movimento estudantil, sindical e não apenas pela questão eleitoral, que muitas vezes tem seu fim em si mesma.
(*) Gilberto Azeredo Gomes é militante da Juventude da Articulação de Esquerda e Secretário Municipal de Comunicação do PT em Campos dos Goytacazes/RJ