Rua, rua, rua!!!

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 4 de outubro de 2022, aprovou a seguinte resolução de balanço do primeiro turno das eleições gerais.

1/O balanço completo das eleições 2022 só pode e só deve ser realizado após o segundo turno, isto devido a três motivos. Primeiro, porque devemos nos concentrar na tarefa da hora: eleger Lula e as candidaturas petistas que foram ao segundo turno. Segundo, porque há polêmicas que só serão resolvidas na prática, a depender do resultado final das eleições. Terceiro, porque é preciso algum tempo para realizar um balanço adequado.

2/Entretanto, para que possamos dar conta da tarefa de eleger Lula e as candidaturas petistas que foram ao segundo turno, é útil realizar um balanço preliminar, pois no primeiro turno cometemos acertos que devem ser reafirmados e cometemos erros que devem ser evitados. Este é o espírito desta resolução e das afirmações que virão a seguir.

3/Comecemos pelos resultados da eleição presidencial. Lula teve 48,43% dos votos válidos. Em números absolutos 57.258.115 votos no 13. Já o cavernícola Bolsonaro teve 43,20% dos votos válidos. Em números absolutos 51.071.277 votos no 22. Simone Tebet teve 4,16% dos votos válidos. Ciro Gomes teve 3,04% dos votos válidos. As demais candidaturas tiveram, cada uma delas, menos de 1%: Soraya Tronicke; o candidato do “Partido Velho”; o “padre de festa junina”; Leo Péricles da Unidade Popular; Sofia Manzano do PCB; Vera Lúcia do PSTU; e Eymael democrata cristão.

4/O resultado do primeiro turno presidencial mostrou que a maioria ativa do eleitorado não aprova o cavernícola. Mostrou, também, que há mais de 56 milhões de brasileiras e de brasileiros que consideram que a saída para a crise nacional é pela esquerda. Entretanto, o primeiro turno também mostrou a força da extrema-direita: praticamente 51 milhões de brasileiros e brasileiras votaram numa candidatura neofascista, genocida, fundamentalista, racista, misógina. Há setores da população que têm identidade profunda com os valores da extrema-direita, mesmo que possam não gostar da pessoa do atual presidente e mesmo que possam criticar seu governo. Por isso, é um erro subestimar os riscos da situação.

5/Considerando os números e fazendo uma análise matemática, o mais provável é que Lula vença o segundo turno. Afinal, temos 6.186.838 votos de vantagem. Mesmo que os votos das demais candidaturas se dividam meio a meio entre Lula e o cavernícola, ainda assim o mais provável é a nossa vitória. Aliás, em todas as eleições presidenciais realizadas entre 2002 e 2018, o primeiro colocado no primeiro turno sempre ganhou o segundo turno.

6/Portanto, seja pela matemática, seja pela história recente, o mais provável é que Lula vença. Não só vença, como pode inclusive fazer a votação de Bolsonaro diminuir. Foi o que aconteceu em 2006, quando Lula obteve 48,61% dos votos no primeiro turno, um percentual quase igual ao obtido no domingo. Em 2006 também havia, na maioria da coordenação da campanha e na maioria da direção nacional do PT, a crença numa vitória no primeiro turno. Não foi o que ocorreu, causando nos primeiros dias muita confusão. Mas logo Lula percebeu o caminho da vitória: mudou a linha da campanha, abandonou o “Lulinha paz e amor”, “foi para cima” e venceu o segundo turno com ampla margem de votos. Não apenas venceu, como seu adversário teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Aliás, o nosso atual candidato a vice-presidente poderia ter contado esta história, afinal foi ele o adversário que saiu menor do segundo turno. Ele poderia ter dito algo assim: “Lula, faça com o cavernícola o que você fez comigo em 2006”.

7/Portanto, se estivéssemos diante de uma eleição presidencial normal, a matemática e a história nos dariam vitória certa. Mas acontece que, sob muitos aspectos, estas eleições não são “normais”. Disputamos contra um inimigo diferente da direita gourmet, porque combina poder econômico e político com métodos neofascistas. E atuamos num ambiente diferente do vigente entre 2002 e 2014. Além disso, é importante lembrar que o resultado das eleições não está dado: depende da luta política e ideológica. Foi o que fizemos no segundo turno de 2006: a luta política e ideológica de Lula contra Alckmin levou este último a perder eleitores. Pois bem: como é mais do que evidente, a extrema-direita cavernícola faz muita luta política e ideológica. E, ao contrário do que pensam alguns inocentes, luta ideológica também ganha voto. Falando em tese, esta luta ideológica pode atrair para Bolsonaro eleitores de outros partidos (ajudado por declarações como as feitas por Ciro Gomes, inclusive aquela onde supostamente declara seu apoio a Lula). Bolsonaro tentará inclusive atrair eleitores que votaram em Lula no primeiro turno. Além disso, precisamos lembrar que existem 32.766.498 eleitores que se abstiveram. A gangue do cavernícola vai disputar política e ideologicamente este eleitorado.

8/Além disso, o cavernícola tem a seu favor a máquina do governo federal e parte importante dos governadores, dos senadores e dos deputados eleitos. Sem falar na capacidade de fazer operações ilegais dos mais diferentes tipos, desde a violência física até o assédio de empresários sobre os funcionários de empresas, passando por locaute no transporte público e por campanha criminosa nas redes sociais. Por tudo isso e por muitos outros motivos, não podemos cometer o erro de achar que a eleição está ganha.

9/Para ganhar a eleição, é preciso, entre outras coisas: não subestimar o inimigo; ter como prioridade disputar corações, mentes e votos da classe trabalhadora; sair da zona do conforto: campanha nas redes é necessária, mas não substitui o corpo a corpo junto ao povo, à classe trabalhadora, às mulheres, aos negros e negras, aos moradores e moradoras da periferia, à juventude; travar intensa disputa ideológica contra as posições da extrema direita, em favor das posições democráticas, populares e socialistas; conclamar a militância a fazer a campanha, por conta própria, com seus meios. Aliás, somos de opinião de que – em muitos estados e cidades – faltou campanha no primeiro turno, assim como faltou material e faltou coordenação de campanha. E talvez tenha faltado campanha, porque alguns setores do partido achavam que a eleição já estaria ganha, bastando “administrar a vitória”; fosse outra a atitude, talvez tivéssemos vencido no dia 2 de outubro. Agora, outro erro se apresenta: o de ter como prioridade “ampliar alianças” institucionais, ao invés de “ampliar alianças” com as camadas populares.

10/Além da disputa presidencial, teremos também segundo turno em inúmeros estados. Abaixo a relação de partidos que disputam o segundo turno nos estados:

PT: BA, SC, SE, SP
PL: ES, RS, RO, SC
PSDB: MS, PB, PE, RS
UNIÃO: AL, AM, BA, RO
MDB: AL, AM
PSB: ES, PB
PSD: SE
REPU: SP
SD: PE
PRTB: MS

11/O PT venceu no primeiro turno em três estados: CE, PI, RN. A seguir a relação dos partidos vitoriosos em primeiro turno nos demais estados:

MDB: DF, PA
UNIÃO: GO, MT
PP: AC, RR
PL: RJ
NOVO: MG
PSD: PR
PSB: MA
SD: AP
REPU: TO

12/ Em síntese, quando consideramos quem é o governador eleito no primeiro turno, quem disputa o segundo turno para governador e as votações obtidas na disputa dos governos estaduais, a conclusão é que as candidaturas bolsonaristas conseguiram melhor desempenho relativo na maioria dos estados e onde se concentra um maior número de eleitores. Isto indica um potencial de crescimento para o cavernícola no segundo turno.

13/O mesmo fenômeno – um melhor desempenho relativo de candidaturas contrárias a Lula – se deu na eleição para senadores e deputados.

14/A seguir, a situação da bancada de cada partido, já incluindo os/as senadores/as eleitos/as no primeiro turno de 2022:

PL 13

União Brasil 12

MDB 10

PSD 10

PT 9

PP 7

PODEMOS 6

PSDB 4

Republicanos 3

PDT 2

Rede 1

Cidadania 1

15/A seguir a relação de deputados e deputadas eleitas por partido:

PL 99

PT, PCdoB e PV: 79 (sendo 68 do PT)

União Brasil 59

PP 47

Republicanos 42

MDB 42

PSD 42

PSDB 18

PDT 17

16/Segundo o DIAP, “19 partidos elegeram ao menos um representante na Câmara”, sendo que em 2018, “30 legendas haviam sido vitoriosas”. Por outro lado, “os partidos do núcleo duro do Centrão (PL, União, PP e Republicanos) elegeram 229 deputados federais, o que representa 48% da Câmara”, enquanto as “legendas da coligação de Lula elegeram ao todo 121 deputados”. Ainda segundo o DIAP: “Para a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) (…) são necessários no mínimo 308 votos favoráveis na Casa em dois turnos de votação.”

17/O resultado das eleições parlamentares, para o Senado e governos estaduais deve ser avaliado com muita atenção, até mesmo por demonstrar o equívoco de muitas avaliações presentes na direção do Partido e da campanha. Por exemplo: a crença na força eleitoral dos neoaliados de direita, que não se materializou em nenhum lugar, nem mesmo no primeiro turno em São Paulo, estado onde o governador tucano declarou seu apoio tanto ao cavernícola quanto a seu representante na disputa do segundo turno estadual. Outro equívoco foi a expectativa de que a Federação seria um passaporte mágico para elegermos muito mais que 100 deputados e deputadas. A rigor, a principal contribuição positiva da federação foi permitir a continuidade institucional do PCdoB (o PV também se beneficiou, mas dada a composição deste partido em vários estados, nos reservamos o direito de não comemorar). Outro exemplo: a superestimação da força do PSB, que mesmo em Pernambuco sofreu uma enorme derrota. A isso se agregue a atitude de alguns setores do Partido e da campanha diante das pesquisas. Equívocos como esse cobraram um preço muito alto no Rio Grande do Sul, onde por menos de 2.500 votos a candidatura de Edegar Pretto não foi ao segundo turno. Se hoje não temos um palanque petista no segundo turno do maior estado do sul do país, isso se deve entre outros motivos à irresponsável cegueira de setores da direção nacional do PT. Já no Rio de Janeiro, não se fez tudo o que se deveria ter feito contra os que traíram a esquerda e apoiaram o governador bolsonarista reeleito.

18/Considerando o conjunto da situação, o principal ensinamento do primeiro turno é que não se deve subestimar o nosso inimigo. O resultado global das eleições foi pior do que previam aqueles que, incorretamente, davam por líquida e certa uma vitória no primeiro turno. Ao final, prevaleceu a vontade da maior parte da classe dominante brasileira: um segundo turno. Para uma parte da classe dominante, trata-se de reeleger o cavernícola. Para outra parte dela, trata-se de arrancar concessões programáticas de Lula.

19/De nossa parte, trata-se de concentrar todas as nossas energias em um único objetivo: derrotar a extrema-direita, eleger Lula presidente. Para isso, como ocorreu em toda a campanha (e desde o golpe de 2016), há duas alternativas táticas fundamentais: disputar pelo centro ou disputar pela esquerda. Disputar pelo centro é concentrar energias nos acordos por cima, nos gestos voltados aos setores médios e à direita gourmet, nas concessões programáticas, no discurso de paz e amor, na emulação do primeiro damismo e nas crescentes referências ao papel político do poder divino, concessões retóricas que só dificultam a defesa do Estado laico e, assim, acabam jogando água no moinho de nossos inimigos. Disputar pela esquerda é concentrar energias na disputa do voto popular, nas propostas para a classe trabalhadora melhorar de vida, no discurso de esquerda em favor da soberania, do bem-estar, das liberdades, do desenvolvimento e de um horizonte socialista. E tudo isso exige fazer a disputa política e ideológica contra as “narrativas” mentirosas de Bolsonaro e de seus apoiadores e candidatos neofascistas.

20/Um dos grandes desafios será o de convencer os eleitores e as eleitoras que faltaram às urnas, para que o façam no segundo turno. Temos apenas 27 dias para levar a essas pessoas as informações que as façam tomar a decisão de não só ir votar, como votar por Lula. Para alcançar essas pessoas, e convencê-las a votar em Lula e em nossos candidatos a governador, parte importante de nossa capacidade de comunicação precisa estar direcionada a elas, revelando nosso interesse pelos motivos que causaram a abstenção e produzindo respostas em forma de propostas concretas que resultem na melhoria da vida do povo. Todo a força política de Lula precisa estar a serviço de mostrar aos faltantes deste 2 de outubro que sua candidatura é muito mais do que passado: é futuro, e por isso merece sua confiança e seus votos.

21/Devido a opção adotada – pela cúpula do Partido – de desativar as instâncias partidárias, a começar pelo Diretório Nacional, que não se reúne presencialmente desde março de 2020 (!!!), não existe até agora espaço coletivo para debater e deliberar sobre estas alternativas. E como é público e notório, há um grau de centralização pessoal das decisões inédito em toda a vida do partido. Repetimos nossa opinião, manifesta inúmeras vezes, inclusive na noite de 2 de outubro: precisamos voltar a ter direção coletiva. Os métodos de direção adotados no primeiro turno são um obstáculo para nosso triunfo no segundo turno. No caso do nosso Partido, é indispensável reunir imediatamente o Diretório Nacional e constituir, ou reorganizar, coordenações de campanha em todos os estados e municípios. É preciso voltar a ter funcionamento de Partido, pois é também no espaço coletivo do Partido que se tornará possível debater e implementar a tática política necessária para vencer o segundo turno.

22/Isto posto, independentemente de exigir que as instâncias se reúnam, é preciso fazer o que deve ser feito. A saber:

*começar, imediatamente, a fazer campanha em ritmo intensivo;

*agrupar os militantes em comitês populares ou em pequenos núcleos de duas, três ou mais pessoas, para organizar as atividades de campanha;

*organizar o maior número possível de atividades com visibilidade, como carreatas, passeatas e panfletagens em massa;

*intensificar a atuação nas redes sociais, com uma campanha para a produção, distribuição e engajamento nos nossos conteúdos;

*ignorar o resultado das pesquisas e fazer campanha diuturnamente até as 17h00 do dia 30 de outubro, como se precisássemos de 8 milhões de votos para poder vencer;

*produzir material de campanha personalizado e distribuir nas ruas e redes: panfletos, posts, memes, bandeiras, adesivos, panfletos, sempre identificados com a cor vermelha e com a estrela do PT;

*usar vermelho sem medo, sair de adesivo, colocar bandeiras nas janelas, adesivar os carros;

*não repercutir as ações do cavernícola, apenas atacar, atacar e atacar seu governo, suas políticas e sua ideologia assassina;

*menos juras de amor, mais guerra ideológica contra a extrema direita. “Fogo contra fogo”. Consolidar o voto de quem já votou em nós, virar o voto de quem votou no inimigo, ganhar o voto de quem votou nulo ou em branco, convencer as pessoas que se abstiveram a ir votar e garantir que o nosso voto caia na urna no dia 30 de outubro. Cada voto vai importar. É rua rua rua! Fazer campanha todos os dias até o último minuto!

23/A esperança só vai vencer o medo, se a esperança tiver consciência do tamanho da ameaça que paira sobre nós. Uma vitória da extrema-direita nesta eleição presidencial teria impactos sobre o mundo, sobre a América Latina e sobre a vida da classe trabalhadora brasileira e do conjunto da sociedade pelas próximas décadas. Não se trata apenas da maior batalha de nossas vidas. Se trata de uma batalha por nossas vidas e pelo futuro do povo brasileiro!

Viva o PT, viva a militância, viva o socialismo!

Lula já!

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