Por Valter Pomar (*)
Jean Baptiste Debret – “Um jantar brasileiro” (1827)
Nesta manhã de 22 de julho, logo depois de ler um texto publicado na falha de SP, recebi e socializo o texto abaixo, de autor e paradeiro desconhecido:
Uma das coisas mais encantadoras que existe é a compaixão que os bem-aventurados demonstram ter pelos danados da Terra.
O cidadão (ou cidadã) vive bem, come bem, dorme bem, se veste bem, frequentou boas escolas e tem acesso adequado à saúde, não lhe falta energia elétrica nem água limpa e – que lindo – ainda encontra tempo e energia para se preocupar com o fato de que a esmagadora maioria das pessoas que vive neste planeta não tem e nunca teve nada disso.
Às vezes a preocupação chega ao ponto de virar doação, voto ou até mesmo militância numa ONG, num partido, num mandato institucional. Se bobear, vira até intelectual globalmente conhecido por suas opiniões humanitárias e engajadas.
Mas sabe como são as coisas: não faz sentido despir um santo para vestir outro. Então, a compaixão, para ser eficaz e eficiente e efetiva, precisa ser direcionada no sentido de convencer os pobres de que – para melhorar de vida – eles têm que se esforçar, têm que demonstrar que sabem subir na vida por seus próprios méritos.
Mérito é fundamental!
E fazendo assim, veja que legal, crescerá a produtividade e a produção e – bingo – como resultado aquilo que o pobre vier a ganhar terá sido produto dele mesmo e não do rico. Mostrando que a sociedade oferece os problemas quando já tem as soluções à vista!
O que tem a vantagem adicional de contribuir para a autoestima do pobre, que desta maneira não se sentirá merecedor da caridade alheia. Por isso, gente, o negócio é ensinar a pescar, para que cada um tenha o que consiga com seu próprio esforço!
E que isto demore um pouco é algo normal, mais que isso é inclusive natural que a pobreza só possa ser reduzida bem devagar e a desigualdade as vezes nem isso, afinal veja bem: quem faz milagre em 7 dias é Deus, não gente como a gente!
Mesmo os que vieram de barco e hoje são ricos demoraram muito para juntar sua fortuna e olha que eles são em pequeno número; por isso, vamos dar tempo ao tempo!
Além do que “there is no alternative” ao método lento, seguro e acima de tudo gradual. Pois querer mudar tudo de pressa, rapidamente, de maneira atabalhoada, confusa, além de ser um horror estético – pobreza não combina com palácio – não dá certo, simplesmente não dá certo.
Pois como sabemos, para acelerar o ritmo da ascensão social seria preciso transformar o Estado naquele Leviatã que inferniza a vida das pessoas, especialmente das pessoas de bem, que mesmo tendo os meios, não poderão mais fazer o que querem, quando querem e como querem.
Ademais, bloqueadas as fontes de toda a riqueza e inovação – a propriedade privada, o livre mercado e a remuneração adequada pelo esforço do proprietário: o lucro” – a sociedade vai estagnar ou retroceder. E tudo isto vai prejudicar principalmente quem? Os pobres!
E tem algo ainda pior nisso tudo: essas aventuras voluntaristas, de gente apressada, que não tem aquelas qualidades que vem do berço, provocam reações dos que – diferente de nós – não têm compaixão.
É daí que surgem os golpes militares, as ditaduras, as intervenções estrangeiras e os bloqueios: reações aos desatinos de gente apressada.
Para evitar que os reacionários reajam, é preciso mudar lentamente, de preferência silenciosamente, para que o gigante não desperte.
Por tudo que foi exposto antes, nem que seja por compaixão aos que têm compaixão por si, os pobres da terra deveriam perceber que precisam ficar no seu lugar. Pois como sabemos, bem aventurados os pobres, pois deles é o reino de Deus.
*
Publico o texto anônimo acima como homenagem a “colegas de profissão” que são capazes de falar com sincera paixão dos jacobinos negros do Haiti e de sua revolução sufocada pelas potências do século XIX, ao mesmo tempo que contribuem – com suas palavras e atos ou falta deles– para que os gringos sufoquem a revolução cubana.
Normal: para a turma de Higienópolis, comunista bom é comunista morto, revolução boa é revolução morta!