Seminário discutiu o tema das frentes ampla e de esquerda

Seminário realizado ontem, dia 31 de maio, debruçou-se em analisar com profundidade o tema da formação das frentes ampla e de esquerda no Brasil e qual deve ser o caminho da esquerda diante desse debate. O evento foi uma inciativa dos signatários do documento “Só a luta impedirá a catástrofe” (leia ao final)  Breno Altman, José Genuíno, Rui Falcão e Valter Pomar.

No bojo do debate acerca das frentes, discutiu-se os dilemas estratégicos e táticos da esquerda na luta em defesa da vida, dos direitos, da democracia, da soberania nacional e do socialismo. A atividade iniciou-se com uma apresentação do documento e posteriormente abriu-se a fala aos demais participantes.

Entre os presentes ao seminário, estiveram Sérgio Manberti,  Marcos Del Royo, Arlindo Chinaglia, Carlos Neder, Celso Marcondes, Marcos Aurélio de Carvalho, Maria Carlotto, Elvino Bohn Gass, Carlos Zarattini e integrantes da Executiva e do Diretório Nacional do PT. O seminário foi transmitido também pelo You Tube e está disponível no canal do Página 13 ( https://www.youtube.com/watch?v=ZSheKTxz-sY ).

Abaixo, segue o documento que norteou os debates  (para acessá-lo em arquivo, clique ao lado: Só a luta impedirá a catástrofe ).

“SÓ A LUTA IMPEDIRÁ A CATÁSTROFE

1.O Brasil vive uma crise sem precedentes na história. Esta crise – sanitária, social, econômica, política, ambiental – está entrelaçada a uma crise mundial. O País está, portanto, envolto em uma crise sistêmica mundial do capitalismo, frente a qual, como partido socialista e de esquerda, espera-se de nós a apresentação de uma alternativa também sistêmica.

2.A situação mundial de crise e instabilidade precede, mas foi aprofundada pela pandemia. Trata-se de crise do capitalismo, advinda de contradições estruturais, agravadas pelas sequelas da crise de 2008, pela queda no comércio e do PIB mundial, que deve despencar até cerca de 5% na Europa, arrastando milhões ao desemprego e condenando mais de 60 milhões à miséria e à fome.

3.Diante da crise, os capitalistas, ávidos em manterem seus lucros, atacam impiedosamente direitos e conquistas das classes trabalhadoras. Com a mesma intensidade, os países imperialistas promovem toda sorte de agressões contra os povos de todo o mundo, sobretudo na América Latina: golpes, sabotagens, bloqueios criminosos, desestabilizações políticas e ameaças de intervenções militares, externas e internas, contra governos não alinhados.

4.O ataque é cerrado, mas há resistência das classes trabalhadoras e dos povos que defendem suas riquezas, sua independência e soberania.

5.Nesse contexto, há um acirramento da competição econômica, política e militar entre potências, com destaque para a disputa geopolítica entre Estados Unidos e República Popular da China. Eclodem conflitos militares, que vêm reacendendo a corrida armamentista, e sucedem-se provocações localizadas típicas da “guerra fria”, que podem escalar devido aos interesses dos Estados Unidos.

6.Ondas migratórias despertam manifestações represadas de xenofobia, racismo e fundamentalismo religioso em diversas partes do mundo, levando governos de diferentes países a culparem migrantes pelo desemprego crescente, sobretudo entre os jovens.

7.Não menos grave, associada a estes fenômenos, é a catastrófica crise sócio-ambiental, cujas proporções crescem geometricamente em função da ganância do capital e do descaso da maioria das grandes potências. A crise envolve desde o aquecimento global, o esgotamento de matrizes energéticas não-renováveis, as perdas de biodiversidade, até guerras por água, terras e minérios. Alastra-se impunemente – e o Brasil é um triste exemplo – o uso indiscriminado de transgênicos, defensivos químicos e venenos, além dos efeitos cumulativos da industrialização e urbanização desordenadas, que favorecem o surgimento e propagação de pragas, bem como de doenças virais respiratórias, a exemplo da Covid-19.

8.Vista de conjunto, é uma crise tão devastadora, embora distinta, quanto aquela que assolou mundo entre 1914 e 1945. Se, naquela época, o “dia seguinte” foi um mundo com mais bem-estar, com ampla descolonização e relativa democratização, isso só ocorreu porque ao final de muita luta prevaleceram os setores socialistas e democráticos. Já o desfecho imediato das crises de 1929, de 1970 e de 2008 foi outro. Daí ser um equívoco imaginar, guiados por uma visão idílica, que no pós-pandemia “nada será como antes”, ou que na esteira da crise atual surgirá necessariamente um mundo melhor.

9.É fato que vivemos num mundo de problemas globais, para os quais o capitalismo não tem solução, sendo na mais das vezes a causa. Por isso, construir um novo futuro para a humanidade depende da vitória na luta a ser travada neste momento. Sem o otimismo da vontade, da ação e da luta de classes, o “novo normal” pode acirrar as piores características do “normal de ontem”. Ou seja, com mais desigualdade, mais exploração, mais Estado de exceção, mais neoliberalismo, mais guerras.

  1. Para derrotar e enterrar o capitalismo será necessário um duro confronto entre classes e entre Estados, em escala nacional, regional e mundial. Mesmo moribundo, o capitalismo não morrerá de morte natural, incruenta, indolor. Inclusive por isso, frente à crise sistêmica do capitalismo é que o PT, desde o seu nascimento, defende uma alternativa ao sistema capitalista: o socialismo.

11.A construção de uma saída democrática, popular e socialista para os problemas do Brasil está vinculada ao curso que siga a crise mundial do capitalismo. E se liga a construção de uma nova ordem mundial, profundamente distinta da que existe atualmente. Mas será determinada pelo que façamos nós, as classes trabalhadoras, o povo brasileiro, a esquerda política e social. Para liquidar o “capitalismo moribundo”, faz-se necessária uma orientação política adequada, organização, democracia interna, disciplina , unidade de ação e fôlego para lutar até vencer.

12.O Partido dos Trabalhadores deu um passo importante ao assumir a defesa do “Fora Bolsonaro”. Afinal, o presidente da República é uma ameaça permanente contra a vida da democracia e contra vida do povo brasileiro. Por isso mesmo o PT, em conjunto com outros partidos e algumas centenas de entidades e movimentos, protocolou um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados, para que, ao final do processo previsto no artigo 86 da Constituição Federal,   Jair Bolsonaro possa ser afastado e condenado à perda do mandato. Com o mesmo objetivo, o PT e outros partidos ajuizaram queixas-crime junto ao Supremo Tribunal Federal, afim de destituí-lo do cargo.  E reafirmamos a impugnação processada, ainda em 2018, contra a eleição manipulada e ilegítima da chapa Bolsonaro-Mourão.

13.Vale lembrar que os crimes, comuns e de responsabilidade,  cometidos pelo presidente, são do conhecimento, têm o respaldo e a cumplicidade do vice-presidente da República, bem como de seu governo. Portanto, para eliminar as causas da crise política, econômica, social e sanitária que se abate sobre a Nação e o povo brasileiros, é fundamental afastar Bolsonaro e Mourão, seu governo e suas políticas, convocando o povo para eleger, através do voto universal, direto e secreto, quem ocupará a Presidência da República, em eleições de que o companheiro Lula, com suas condenações injustas anuladas e seus direitos políticos restituídos,  possa participar.

14.É em torno dessa luta politica central, mas também em torno das lutas em defesa da vida,  dos direitos sociais, das liberdades democráticas e da soberania nacional, que se constituirá a Frente – de esquerda, democrática e popular – capaz de retomar o fio das mudanças democráticas e populares indispensáveis para salvar o presente e o futuro do Brasil.

15.Não se trata de uma tarefa fácil. Entre outros motivos, porque corremos contra o tempo. Insensível e debochado diante das milhares de mortes provocadas pela sua política genocida, Bolsonaro promove o caos econômico e social, a destruição das liberdades, o afrontamento aos poderes Legislativo e Judiciário e a militarização do país.

  1. O presidente, o vice e grande parte dos ministros são militares, inclusive os que têm seus gabinetes e despacham cotidianamente no Palácio do Planalto, assim como um ministério chave em tempos de pandemia: o da Saúde. Nos demais escalões do governo, há cerca de 2 mil militares. Ao mesmo tempo, é notório o vínculo entre o clã Bolsonaro, as milícias tradicionais e as milícias digitais. O paramilitarismo vem sendo estimulado publicamente. A faceta bélica do governo se orienta contra os povos indígenas, os trabalhadores do campo, os negros, as mulheres, os homossexuais e contra a esquerda em geral. Contra um governo com estas tendências violentas, autoritárias, ditatoriais e neofacistas, não há contemporização possível; cabe apenas o enfrentamento firme e resoluto.

17.Se não forem detidos, Bolsonaro, Mourão, seu governo e suas políticas continuarão pondo em risco a sociedade e a economia nacional – sobretudo as pequenas empresas e os trabalhadores – e ameaçando a sobrevivência do povo brasileiro, que vê avultarem os milhões já desempregados e o retorno da legião de famintos e desassistidos.

18.Antes da pandemia, o Brasil já sofria os efeitos da ofensiva golpista, com destaque para a Emenda Constitucional 95 (que congelou os gastos do Orçamento), a reforma trabalhista, a reforma da Previdência Social e desmonte do INSS, a extinção do Ministério do Trabalho, o sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS). A sucessão de ataques desfechada pelo próprio governo atingiu a Funai, o Ibama, as universidades públicas e instituições públicas de pesquisa (INPE, Fiocruz e outras).

19.Mas não houve só o desmonte: houve ampliação do desemprego, redução do salário e da renda das classes trabalhadoras, desmantelamento das redes legais de proteção social — e uma brutal investida do capital predatório (latifúndio, madeireiras, mineradoras) contra as lideranças sociais, sobretudo assassinatos em série de indígenas e camponeses das regiões remotas e de fronteira agrícola. Os povos originários, indígenas e quilombolas têm sido intensamente afetados pelos efeitos da crise ambiental e também pela ofensiva do capital neofascista ultraliberal. No campo, o avanço do modelo de latifúndio mecanizado exportador do agronegócio segue sufocando sistematicamente a produção da agricultura familiar.

20.A implementação do plano golpista e ultraneoliberal não produziu uma retomada da atividade econômica como fora prometido. Ao contrário, assistimos a uma deterioração crescente de todos os indicadores, exceto o lucro do setor financeiro e bancário.

21.Os desdobramentos da pandemia agravaram tudo o que já vinha ocorrendo antes no país: desemprego (com taxas crescentes para a juventude, negros e negras, mulheres); piora nas condições de trabalho (exposição a agentes biológicos sem medidas de proteção, jornadas exaustivas, principalmente para as mulheres, que acumulam de forma desigual as tarefas domésticas e do cuidado); corte de salários, deterioração da situação social (afetando, de maneira particular, indígenas e quilombolas); miséria, redução das políticas públicas e sociais; depressão da atividade econômica; ampliação da violência doméstica contra mulheres e crianças, e até mesmo (como em São Paulo, por exemplo) escalada dos assassinatos cometidos pela Polícia Militar, tendo como alvo principal jovens da periferia. Se não bastasse, tudo isto agravado pela trágica situação de saúde pública.

22.Por incrível que pareça, há método nesta aparente loucura. Como deixou claro o ministro Paulo Guedes – secundado, entre outros, pelo ministro do Meio Ambiente – a ideia é aproveitar a pandemia (que concentra a atenção de quem defende a vida em primeiro lugar) para manter e, de preferência, acelerar as privatizações, a desregulamentação generalizada, a desnacionalização, a subtração de direitos, a concentração de renda, redução dos investimentos públicos e sociais. Enquanto em outros países a saída da crise passa pela ampliação do papel do Estado, no Brasil o governo Bolsonaro pretende que a “retomada” se dê entregando o país na bacia das almas e oferecendo, para uma população exposta ao desemprego em massa e à pobreza extrema, salários de fome e regimes de trabalho semiescravos.

23.Eis por que, a despeito do incômodo em relação a seu estilo, o governo Bolsonaro segue tendo apoio do grande empresariado, especialmente do setor financeiro e do agronegócio – desde que continue fiel à pauta e os interesses destes grupos. Também pela mesma razão, setores do oligopólio da mídia que criticam o presidente calam-se diante dos descalabros da sua política econômica. Além disso, o governo conta com respaldo nas Forças Armadas, polícias militares, milícias e, por último, mas não menos importante, em setores e em cúpulas de igrejas conservadoras grande influência popular.

24.Entretanto, apesar de unificada em torno do programa neoliberal, a classe dominante e a coalizão golpista exibem diversas fissuras políticas. A extrema-direita é favorável a concentrar poderes no Executivo federal, inclusive para poder tratar com mais facilidade a questão social como caso de polícia. Outros setores do golpismo buscam preservar seus espaços de poder, nos Executivos municipais e estaduais, no Legislativo, no Judiciário, e também nos meios de comunicação.

25.O conflito no interior do golpismo pode ter três desenlaces: um acordo, a vitória do clã de Bolsonaro ou sua derrota. O cenário mais provável segue sendo o acordo por cima, baseado na unidade em torno do programa neoliberal e na tutela militar.  Por isso, aliás, a derrota do clã, se efetivada por setores da direita — mediante golpe explícito, a tutela militar, o afastamento temporário para julgamento por crime, ou um impeachment com a substituição pelo vice — não deve causar mudança na política ultraliberal. Inclusive, a depender de como ocorra, a derrota do clã pode inclusive ser acompanhada de medidas ainda mais restritivas às liberdades democráticas. Por outro lado, tanto o cenário de acordo quanto o de vitória do clã supõem um aprofundamento da tutela militar, com elementos cada vez mais autoritários. Nos três cenários, pesam imensas ameaças contra a esquerda e o PT.

26.A chamada Operação Lava Jato – na qual teve papel central o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Morto — é a principal, mas não é a única expressão do esforço de destruir ou pelo menos debilitar de maneira profunda o Partido dos Trabalhadores. Tal esforço abrange as mais variadas operações da classe dominante, no plano judiciário, legislativo, executivo, midiático, paramilitar e internacional. Embora o alvo principal seja o PT, o objetivo é destruir as condições de atuação independente do conjunto da esquerda e das classes trabalhadoras.

27.Por todos estes motivos, torna-se decisivo que o PT contribua – com firmeza, habilidade e sem arrogância – para coesionar o campo democrático e popular em uma frente de esquerda, que apresente uma saída de conjunto para a situação, uma alternativa política que crie as melhores condições não apenas para a aplicação de um plano de emergência em defesa da vida, do emprego e da renda, mas também um programa de reformas estruturais e de defesa do meio-ambiente. Um programa  de natureza democrática, anti-imperialista, antimonopolista e antilatifundiária, que aponte  ao país um novo rumo político, econômico e social; um programa de desenvolvimento e democratização cujo paradigma não seria o retorno à Nova República, mas uma nova ordem constitucional.

28.A construção de uma frente popular de esquerda, a julgar pela experiência histórica, passa por etapas sucessivas de aproximação. A que vivemos hoje é de resistência, baseada nas bandeiras defensivas das classes trabalhadoras e de outros setores do povo brasileiro: defesa da democracia; dos direitos civis e das chamadas minorias; do ensino público e da universidade democrática; contra a reforma da Previdência; pela anulação da condenação injusta do presidente Lula e pela restituição de seus direitos políticos. A luta política contra o ultraliberalismo e contra o neofacismo se trava nas instituições, nas eleições. Nas trincheiras dessas batalhas vai se gerando, por baixo e por cima, a unidade popular.

29.Caso consigamos impulsionar um ciclo permanente e ampliado de mobilizações, que coloque em movimento milhões de brasileiros, passaremos da resistência à ofensiva, aprofundando as divisões do bloco conservador e abrindo caminho para alternativas mais avançadas.

30.A base política dessa frente deve ser a unidade de toda a esquerda, em aliança com setores democráticos da sociedade e com setores de partidos da centro-esquerda como PSB e PDT. É fundamental, nesse sentido, criar uma dinâmica de convergência com os movimentos sociais, lideranças culturais, intelectuais e religiosas da resistência.

31.O papel do PT é indispensável nesse processo. Pela sua inserção social, pelo fato de contar com a maior bancada no Congresso e por ter conquistado governos estaduais com grande apoio popular que devem estar integrados ao mesmo projeto nacional.

32.Ao longo dessa caminhada, não podemos, em nenhum momento, cair na armadilha de nos tornarmos força auxiliar de eventuais soluções funcionais aos defensores da agenda ultraliberal, que estejam em busca de um ambiente politico menos arriscado para implementar seu programa. É ilusão associar-se a uma ampla frente, em nome de (supostamente) derrotar a extrema-direita e o neofascismo, sem levar em conta que a experiência histórica e internacional tem demonstrado que a única maneira de deter a ascensão do fascismo é pela esquerda. Na conjuntura que vivemos, para ser amplo, é preciso ser radical.

33.Acordos, movimentos e ações pontuais podem ser realizados com frações burguesas que colidam com o bolsonarismo e defendam a democracia, mas sem a ilusão de formar uma coalizão orgânica, permanente e estável que incorra em concessões programáticas de qualquer tipo.

34.Tampouco podemos atuar como se estivéssemos em uma situação normal, fazendo cálculos e centralizando nossa intervenção exclusivamente com vistas às eleições de 2020 e 2022. Nossa perspectiva tática deve ser a palavra de ordem “Nem Bolsonaro nem Mourão! Diretas Já!”. Devemos repelir como ilegitima e antidemocrática qualquer saída que não passe pelo voto popular. E, como já foi dito, eleições realmente livres são eleições de que Lula possa participar.

35.A retomada dos vínculos e do apoio dos setores populares e da maioria das classe trabalhadoras — em particular dos setores submetidos à terceirização, à uberização e à informalidade, das maiorias exploradas, abandonadas e oprimidas — passa necessariamente por esse caminho da polarização programática; do contrário, persistirá o desânimo, a desorientação e a fragmentação em amplos setores.

36.Em caso de êxito, abriremos caminho para retornar  ao governo federal e para travar a disputa pelo poder, no bojo da luta pela aplicação efetiva das reformas estruturais acima mencionadas, que inevitavelmente suscitarão resistências cujo enfrentamento exigirá combinação da  ação institucional com a luta social, e amplas mobilizações das classes trabalhadoras, bem como de outras camadas sociais. Com a linha correta, ainda que não haja sucesso imediato, as batalhas travadas possibilitarão a retomada futura. Mas se não atuarmos com uma orientação política adequada, se abrirmos mão de sermos uma força independente e portadora de uma alternativa de conjunto, o PT e toda a esquerda podem se converter em linha auxiliar de setores da classe dominante e do golpismo.

37.O que está em jogo é o destino do Brasil, mas também o significado estratégico do Partido dos Trabalhadores. Desde 1989 até 2016, o PT polarizou a luta política no Brasil. Desde 2005, e particularmente a partir de 2016, a classe dominante se esforça para destruir o PT ou, pelo menos, impedir que protagonize a disputa de rumos na sociedade brasileira.

38.Há divergências sobre as políticas adotadas neste período passado, mas nossa preocupação não é com o balanço do passado, mas sim formular uma política para o presente e para o futuro, onde não caiba a conciliação de classes; uma crença ingênua na conduta republicana e democrática das elites; a exclusividade das vias institucionais e eleitorais. Mais que nunca, é papel do PT imprimir prioridade à luta social, à organização de base, à formação de quadros, à comunicação social independente e à autossustentação financeira militante.

39.Precisamos de uma linha política que combine uma estratégia adequada para um período de defensiva, com uma tática que não tenha ilusões na conciliação com frações das classes dominantes. Podemos e devemos fazer alianças pontuais, toda vez que isso for útil na defesa das liberdades, dos direitos e da soberania. Mas sabemos que a burguesia brasileira tem unidade em seu programa e em seus objetivos estratégicos, que incluem interditar ou mesmo destruir a esquerda. Nenhuma fração das classes dominantes tem disposição em compor uma frente conosco; no máximo, querem nos usar como uma linha auxiliar em sua disputa interna. Diante disso, seria um grave equívoco abdicarmos de nossa identidade política para nos associarmos, numa frente supostamente ampla, com forças cujo horizonte máximo é a defesa de instituições como o STF e o Congresso Nacional, sem falar do oligopólio da mídia. Instituições que, a despeito de uma minoria de seus integrantes, foram artífices e executoras do golpe de 2016, que culminou com a deposição da presidenta Dilma, com a condenação e prisão de Lula, abrindo caminho para a vitória do bolsonarismo.

40.A independência politica deve se materializar também no terreno organizativo: é preciso impedir a anulação das instâncias dirigentes do PT, convertidas algumas vezes em cartório homologadores de decisões tomadas em outros espaços; que convertem o PT num “partido de retaguarda”.

41.Nossa tarefa central, política e organizativamente, segue sendo recuperar maioria nas classe trabalhadoras, no conjunto da população explorada, abandonada e oprimida. Inclusive por isso, o PT deve lutar com todas as suas energias para defender a vida, o emprego e a renda da popuação. Isso inclui propor soluções concretas e imediatas à crise sanitária, na linha das medidas defendidas pelo Partido, por nossas bancadas parlamentares e implementadas por nossos governos estaduais e municipais.

42.Abarca, também, impedir demissões, redução de salários, cortes nas políticas públicas e, ademais, garantir renda e moradia emergencial para os que estão em situação vulnerável, inclusive a população em situação de rua.  Isso requer, ainda, a solidariedade de classe, através de redes de ajuda mútua e acolhimento que fortaleçam a coesão comunitária para resistência e sobrevivência em momentos de crises e dificuldades. Não uma concepção paternalista da ação caridosa, mas solidariedade de classe, politizada, que saiba demonstrar, para o povo, que as soluções verdadeiras dependem de uma alternativa política. Por fim, exige associar a defesa da democracia, da vida, do, emprego e da renda da população com a luta pelo fora Bolsonaro, Mourão, seu governo e suas políticas.

43.No Brasil, a única maneira de deter e superar a catástrofe em curso é através do protagonismo da esquerda brasileira, de seus partidos, organizações e movimentos, onde se destacam, entre muitos, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento Sem Terra e a União Nacional dos Estudantes. Este protagonismo depende, em boa medida, do que faça ou deixe de fazer o PT. Se o PT não estiver à altura dessa missão histórica, viveremos uma dupla catástrofe: a catástrofe nacional e a catástrofe do próprio PT.

44.Por tudo isso, seguimos defendendo o PT e ao mesmo tempo lutando para que o PT formule uma nova estratégia, por uma tática de confronto total com a agenda ultraliberal e o governo Bolsonaro. É desta perspectiva que trabalhamos e batalhamos em todos os terrenos, inclusive nas eleições de 2020, que a direita quer adiar, e nas eleições presidenciais que defendemos antecipar. Com muita nitidez, defendemos um programa simultaneamente emergencial e estrutural, que imponha derrotas ao agronegócio, aos monopólios privados, ao capital financeiro e ao imperialismo.

45.É nessa perspectiva, inclusive, que o PT decidiu, no 6º. Congresso, empunhar como uma de nossas bandeiras “a luta pela  convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte livre, democrática e soberana, destinada a reorganizar estruturalmente o Estado brasileiro e aprovar reformas que reorganizem suas bases socio-econômicas e institucionais, dilaceradas pelo governo usurpador. A democratização das instituições brasileiras é preâmbulo indispensável  para as demais reformas estruturais”.

46.Orientados por tais diretrizes, seguimos lutando para reconstruir a influência do PT nas classes trabalhadoras, para o que se faz necessário revolucionar nossa cultura de atuação e organização partidária, confrontando abertamente com os diferentes projetos de mundo de outras classes sociais.

47.Urge, para tanto, empenho prioritário na organização partidária, na formação ideológica e política da militância, a fim de que possa, vinculada às lutas das classes trabalhadoras, impulsionar sua ação consciente e independente. Coerente com este pensamento, é vital modificar completamente os métodos de direção do PT, para priorizar uma ligação profunda à vida, às lutas e à organização das grandes camadas populares da sociedade brasileira. E atuar, também, para a integração do Brasil na América Latina e Caribe, bandeira que vem sendo levantada pelo Foro de São Paulo desde 1990.

48.Os signatários desta DECLARAÇÃO seguimos lutando para manter o PT como polo da disputa nacional e, deste modo, cooperar para que a solução da crise favoreça a imensa maioria do povo brasileiro, matando e enterrando o capitalismo e todas as formas de opressão e exploração.

49.Como bem disse o companheiro Lula, no histórico discurso do 1º.  de Maio de 2020, “o capitalismo está com os dias contados”, e está “nas mãos dos trabalhadores” a tarefa de construir um novo mundo, em que “ninguém explore o trabalho de ninguém, um mundo em que se respeitem as diferenças entre um e outro, um mundo em que todos, absolutamente todos, disponham de ferramentas para se emancipar de qualquer tipo de dominação ou de controle“.

Viva o socialismo, viva a classe trabalhadora, viva o PT!!! ”

 

 

 

 

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