Sobre mais um erro de Israel

Por Valter Pomar (*)

Segundo consta, alguém uma vez criticou uma atitude de Napoleão, afirmando o seguinte: “é pior que um crime, é um erro”.

Que Israel comete crimes, pouca gente duvida, embora sigam existindo contemporizadores e cínicos.

Mas, além de crimes, Israel também comete erros. Um dos erros mais recentes foi divulgar imagens dos momentos finais de um dos líderes do Hamas, Yahya Sinwar. Uma das versões está aqui:

https://m.youtube.com/watch?v=EAHAwzk0krU

Só vejo um “atenuante” para o erro: tentar influir no estado de ânimo da população de Israel, parte da qual tem profundas e crescentes divergências com Bibi.

Acontece que, para parte importante dos palestinos, especialmente para os que vivem em Gaza, a imagem não constitui novidade.

Afinal, mais de quarenta mil habitantes de Gaza já morreram em circunstâncias semelhantes.

Entretanto, não é trivial ver um líder do Hamas compartilhando a mesma situação dos demais habitantes de Gaza e, estando na beira da morte, ainda ter energia para lançar um pedaço de madeira no drone israelense.

Não faço ideia dos efeitos práticos e imediatos que a morte de Sinwar causará sobre o funcionamento do Hamas. Mas, no médio e longo prazo, duvido que cause os efeitos pretendidos por Israel.

Aliás, chega a ser paradoxal que a elite dirigente de Israel não compreenda o efeito deste tipo de imagem na psicologia do povo palestino.

Afinal, a narrativa que a elite de Israel construiu e divulga é a de uma história de séculos de perseguição, derrotas e martírios, de resiliência e de resistência, de Davis contra Golias, que teria culminado em 1947 com a decisão da ONU criando o Estado de Israel.

Se foi assim com Israel, porque não poderia ser assim com a Palestina?

A elite de Israel não acredita nisso porque se deixou contaminar pelo mais profundo racismo. Se enxerga como parte de um povo eleito e enxerga os palestinos como sub-humanos, portanto incapazes de proezas heroicas.

Neste contexto, divulgar os momentos finais de Sinwar – madeira contra drone – só reforça a ideia de que a luta pela libertação é assimétrica e, também por isso, pode durar muito tempo. Mas ao final triunfará.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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