Todos falam dela

Por Claudio Bazzochi (*)

Todos falam de Sahra Wagenknecht. Falavam dela antes das eleições, falam hoje depois que não conseguiu entrar no parlamento. Eu, antes de falar de Sahra, quis ler o seu livro “Contra a esquerda neoliberal” (quase quinhentas páginas). Sou assim, é o meu método de estudo e de vida: falo apenas daquilo que conheço e que li, sobretudo se se trata de obras do pensamento.

Bem, lendo o livro de Sahra, comecei a pensar que, no fundo, o fato de vir do SED (Sozialistische Einheitspartei Deutschlands), o partido comunista da Alemanha Oriental, tem um peso no pensamento e na política de Wagenknecht. Muito resumidamente, refleti sobre o fato de que o marxismo e a cultura da Alemanha Oriental (RDA), talvez alguma coisa tenha a ver seja com o reservatório de votos do BSW (o partido de Sahra), seja com aquele da AfD. No livro de Wagenknecht há a exaltação das comunidades operárias alemãs que compartilhavam com a própria burguesia os valores da operosidade, do mérito, da moderação dos costumes, do sacrifício para o desenvolvimento e o bem-estar da nação. A ideia de que o movimento operário deva ser herdeiro da filosofia clássica alemã e, portanto, colocar a si próprio o tema da libertação do trabalho, da alienação, do reconhecimento e da política como campo de autogoverno – e assim da reunificação da vida – está completamente expurgada da visão de Wagenknecht. Trabalhar significa ter o futuro garantido para si e para os próprios filhos: boa renda, aposentadoria e trabalho para as gerações futuras no interior de uma visão burguesa de mundo e da vida. Ecologia, feminismo, questão da técnica e das máquinas são coisas que não tocam nem mesmo de leve à referida Sahra.

Não por acaso, há também em todo o livro a clássica exaltação populista e de direita da simplicidade de quem não estudou. A vida é simples, imediata e transparente. Não há necessidade de estudo e de filosofia. E, certamente, disto não há necessidade o movimento operário. Há páginas e páginas de desprezo pelos “laureados”, elevados a uma verdadeira categoria indiferenciada e associados à classe dos ricos e exploradores. Os operários e os seus filhos não devem estudar para entender o mundo, para transformá-lo, para atenuar a distância entre Sujeito e Objeto. A eles basta um trabalho, uma aposentadoria segura e uma vida tranquila de bons burgueses satisfeitos e de modo algum inquietos.

Portanto, antes de escolher a explicação mais fácil, aquela que diz que as “regiões da ex-RDA são pobres e aderem ao nazismo por protesto”, devemos tentar ir mais fundo. Devemos também ver se há visões de mundo, da natureza, do homem e outras que conduzem à adesão aos partidos fascistas e nazistas.

E depois, mas isto falarei na resenha do livro, quem for ler o livro, que fique realmente surpreso de uma coisa enorme, tremendamente inacreditável e desconcertante: o racismo, o racismo de mãos cheias (a piene mani). Sahra Wagenknecht está fora do parlamento? Bem, é uma boa notícia.

  PS. Sabem o que significa a sigla do seu partido, BSW? Bündis Sahra Wagenknecht, Aliança Sahra Wagenknecht. E um partido pessoal seria um partido do movimento operário? Ah, vai…

(*) Claudio Bazzochi, publicado em sua página do facebook em 25/02/2025. Traduzido por Marcos A. da Silva, prof. da UFSC, filiado ao PT de Fpolis-SC)

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