Um assunto fácil de se tratar

Por Lucas Rafael Chianello (*)

Nos últimos dias, tomou necessário vulto o debate sobre a tática correta para o momento: frente ampla ou uma frente de esquerda no enfrentamento à fraude Bolsonaro?

Em seminário eletrônico realizado por dirigentes e militantes do PT no último 31/05, liderado por Valter Pomar, José Genoino, Rui Falcão e Breno Altman, este último recordou que esse debate não vem de hoje.

A temática também estava presente no enfrentamento ao fascismo na Itália e ao nazismo na Alemanha, ao franquismo na Espanha e ao salazarismo em Portugal e até mesmo na luta contra a ditadura militar no Brasil, ocasião, por exemplo, em que se formou diversas dissidências guerrilheiras do PCB (Partido Comunista Brasileiro) por este ter escolhido não participar da luta armada.

Outro exemplo sobre o enfrentamento à ditadura deu-se em seus estertores, quando o PT boicotou o colégio eleitoral ao passo em que outras organizações de esquerda elegeram indiretamente Tancredo Neves presidente.

Pois bem, chegamos em junho de 2020 depois de passarmos pela reeleição de Dilma e seu conseguinte golpe de Estado, pela operação lava jato e a prisão forjada de Lula que, interditado pelo poder judiciário, não pode concorrer às eleições nas quais era favorito para vencer no primeiro turno.

E é justamente o enfrentamento à fraude Bolsonaro que gera a grande indagação do momento: frente ampla ou frente de esquerda?

Frente de esquerda, claro, e vamos demonstrar porque.

Primeiramente porque não existe essa coisa de “salvar o país”, pois qualquer país capitalista do mundo expressa a existência, dentro de seu território, de classes sociais, seus respectivos agentes de poder e suas respectivas estruturas econômicas construídas sob a exploração de classe.

A questão não é “salvar o Brasil”, como se já fôssemos um país sem conflitos de interesse, mas sim de construir qual Brasil queremos.

Uma vez que se trata de Brasil de quem e para quem, é preciso ressaltar que muitos dos que hoje falam em “frente ampla pela democracia” são os mesmos que aderiram ao golpe e ao lavajatismo para alçarem Bolsonaro à presidência da república sabendo de sua exaltação da ditadura e da tortura.

Não há, hoje, maior farsante que o governador de São Paulo, João Doria, que diante da pandemia do coronavírus dá declarações de contrariedade a falas de Bolsonaro, mas é tão nazista quanto o fraudulento presidente.

O mesmo João Doria da farinata desitratada com rótulo de Nossa Senhora Aparecida, o mesmo João Doria que acordava moradores de rua com jatos d´água e criou a dobradinha “Bolsodoria” no segundo turno de 2018.

Pouco menos podemos cair na inocência de compor com o bom mocismo de Luciano Huck, apoiador de Aecio Neves em 2014, entusiasta do golpe contra Dilma e colaborador do grupo empresarial RenovaBR, que recruta jovens para se elegerem por partidos de direita e executarem políticas pró-mercado.

Ao manifestar sua suposta preocupação via Twitter, teve a devida resposta do jornalista Kennedy Alencar: “Você é um babaca oportunista. Não merece participar do debate público. Canalha!, como diria Tancredo, avô do seu comparsa. Canalha! Você apoiou BOLSONARO.”

A cereja do bolo sobre frente ampla x frente de esquerda é a postura do PSDB, anunciada publicamente por seu presidente, Bruno Araújo, que declarou que o impeachment potencializaria as crises econômica e sanitária vividas atualmente e que o PSDB foi o relator da reforma da previdência.

Fato é que frentes políticas para uma cidade, um estado ou um país são construídas com base num programa, logo, é ilusão alimentar ser possível formar frentes com sujeitos como Doria, Luciano Huck e partidos como o PSDB.

Precisamos de uma frente com lideranças, partidos de esquerda e movimentos sociais que tenham como programa a realização de reformas estruturais urgentes e com a aceleração da conjuntura, uma agenda antissistêmica que tenha um projeto socialista para o Brasil.

(*) Lucas Rafael Chianello é advogado e jornalista filiado ao PT, organizado na Articulação de Esquerda

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