Por Valter Pomar (*)
Em textos anteriores, relatei e dei minha opinião sobre três pontos debatidos na reunião do Diretório Nacional do PT ocorrida no dia 13 de abril de 2022.
Os textos podem ser lidos nos endereços abaixo:
https://pagina13.org.br/o-debate-sobre-programa-segunda-parte-do-relato-da-reuniao-do-dn-do-pt/
Para completar o relato, ou pelo menos da parte publicável, resta citar três outros assuntos debatidos na reunião.
-uma alteração estatutária, sobre violência política de gênero, aprovada por consenso (ver texto aprovado na página do PT);
-um informe sobre a mudança na data do lançamento da pré-candidatura de Lula (de 30/4 para 7/5);
-uma alteração no regulamento do próximo encontro nacional do PT.
Acerca desta alteração, uma explicação:
i/o último congresso nacional do PT foi realizado em 2019;
ii/as resoluções deste congresso de 2019 até agora não foram publicadas (um recorde);
iii/defendemos desde 2020 a necessidade do PT convocar um encontro nacional extraordinário, com delegações eleitas na base do partido;
iv/a CEN deliberou, em sua mais recente reunião, convocar um encontro nacional para os dias 4 e 5 de junho de 2022;
v/entretanto, a CEN também decidiu três outras coisas: a/ que o encontro será virtual e não presencial; b/ que não haverá eleição na base: as delegações serão as mesmas que participaram do congresso de 2019; c/que dos 800 delegadas e delegados de 2019, só participaria a metade, ou seja, metade estaria fora.
Considerando que o encontro será virtual, esta decisão da CEN limitando o acesso de 400 pessoas não faz o menor sentido.
Por isso fizemos um recurso de votação ao DN e ele foi aprovado, por consenso, mas depois de gastar um tempo expressivo, ao menos se comparado ao tempo gasto para debater a candidatura à vice-presidência da República.
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Isto posto, para os derrotados na reunião do Diretório Nacional do PT, ou pelo menos para a banda onde toco violoncelo, restam pelo menos duas certezas.
A primeira certeza é: Lula presidente.
Seja quem for o vice oficializado pelo encontro nacional de 4 e 5 de junho, nossa campanha e nosso voto será por Lula.
Até o encontro de junho, entretanto, seguiremos lembrando algumas informações: Alckmin é líder neoliberal desde pelo menos 1995 e segue sendo até hoje; apoiou o golpe contra Dilma e o governo Temer; aplaudiu a condenação ilegal, a prisão e a interdição fraudulenta de Lula em 2018; saiu do PSDB mas o PSDB não saiu dele. Assim como seguiremos avisando do risco de Alckmin, eleitoralmente, tirar ao invés de acrescentar. E de feito vice, se comportar como Temer.
Como já dissemos na reunião do Diretório Nacional, mesmo que fosse útil colocar um conservador na vice, existem lideranças de direita que não apoiaram o golpe, não aplaudiram a condenação/prisão/interdição de Lula, nem fizeram oposição aos governos nacionais do PT.
Isto posto, seja quem for o vice oficializado pelo encontro nacional do PT, nossa campanha e nosso voto é Lula.
A segunda certeza é: a luta será muito difícil.
Não importa a linha de campanha, nem importa o vice, em qualquer caso a luta contra o cavernícola seria e será muito dura. O resultado da eleição não está garantido e a batalha não termina depois da eleição, nem mesmo depois da posse.
Com três agravantes.
O primeiro deles: a tática adotada pela maioria do Partido (derrotar o bolsonarismo, em aliança com um setor do golpismo neoliberal) pode ter efeitos contrários aos pretendidos.
No plano eleitoral, entre outros motivos porque não estamos em 2002, na presidência não está um tucano, portanto a mesma fórmula ou algo similar tende a não dar os mesmos resultados.
E no plano governamental, porque se estreitou muito o espaço para um governo moderado.
Infelizmente, a maioria do Diretório Nacional pensa diferente e parece acreditar que a aliança com Alckmin só trará benefícios. Por isso, se houver algum contratempo e formos surpreendidos pelos acontecimentos, o Partido terá muita dificuldade em reagir.
O segundo agravante consiste na distância entre intenções e gestos.
Noutros partidos (como o PSB e a Rede) o discurso é errado, mas coerente: a aliança com a direita pressupõe um programa moderado.
Já na reunião do Diretório Nacional do PT, algumas defesas de Alckmin em nome de derrotar o “nazifascismo” foram acompanhadas da defesa de “reformas estruturais radicais”.
Em algum lugar desta equação tem uma variável fora do lugar.
Alguns se dão conta disto: é o caso dos que recusaram propostas como revogar a reforma da previdência do cavernícola, revogar a independência do Bacen e afastar os militares do governo (neste último caso, como se vê, tem gente que acha que Lula “sabe o que faz” menos quando sinaliza para a esquerda).
O problema, em nossa opinião, é o seguinte: quanto mais nosso programa for moderado, menores as chances de vitória eleitoral e, principalmente, ainda menores as chances de fazermos um governo exitoso (entre outras coisas, capaz de conseguir a reeleição).
A solução passa, em nossa opinião, por outra equação: para derrotar o bolsonarismo e o neoliberalismo, uma campanha e um programa democrático-popular. Mas, como já foi dito, a linha da maioria do DN é outra.
O terceiro agravante é: a situação em 2023 é mais difícil do que em 2002, mas não temos uma direção coletiva à altura da tarefa.
Temos pessoas valorosas, muitas das quais (concordemos ou não com a política que defendem) estão se matando de trabalhar.
Mas não temos direção coletiva, como tivemos por exemplo entre 1995 e 2002.
Ademais, não importa o resultado da eleição, os problemas internos do Partido tendem a se agravar muito, inclusive por causa da tal federação.
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Seja como for, no final das contas, o que vai decidir o desfecho da trama é a velha e boa luta de classes: se a classe trabalhadora se agitar, o aparentemente impossível vai se tornar realizável.
Por isto mesmo, com agravantes ou sem agravantes, os derrotados na reunião do DN, ou pelo menos a banda supracitada, vai cumprir seu dever, entre outras coisas contribuindo no debate programático e na campanha popular em favor de Lula e das candidaturas petistas em todo o país.
Afinal de contas, como diria o impagável Aparício, o que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT