Por Antônio José do Nascimento Fernandes (*)
Sou morador da cidade de Manaus, uma grande capital em área urbana situada em uma região central do bioma amazônico. E em observação ao ambiente urbano e seus entornos. Nesta observação foi possível verificar a diminuição gradual de espécies locais com o aumento da povoação de animais exógenos, principalmente cães e gatos.
Das consequências observadas, a diminuição de lagartixas, roedores de grande porte, e aumento de incidência de doenças transmitidas por insetos da ordem diptera ( como o culex e o Aedes aegypti). Esses insetos possuem preferência por roedores de grande porte, e são muito atacados por lagartixas e répteis como os populares calango e jacurarus.
Já existem em Manaus crianças e adolescentes que nunca visualizaram um calango ou uma lagartixa. Da mesma forma, nunca ouviram ou visualizaram uma ave que já foi muito comum até o início dos anos 90: a Juruti. Essas mudanças estão relacionadas diretamente ao aumento de cães e principalmente de gatos.
Apesar do desequilíbrio e das ocorrências de endemias com maior frequência e intensidade, nenhum dos segmentos de defesa de saúde ou de defesa dos animais demonstraram reações a essas mudanças.
A única situação local de conscientização foi referente ao sauim castanheira (uma espécie de mico endêmico de Manaus) que está em risco de extinção, mas nada relacionado ao crescimento populacional de cães e gatos, mesmo sendo o principal motivo do risco.
Mesmo os casos de gatos castrados e de posse de pessoas que cuidam de forma idealizada na tal “causa animal”, não se leva em conta os ataques e riscos aos demais animais como estes sauins e aves.
É dramática a situação desses animais nas periferias, levando-os a redução de fontes de alimentos e excesso de ataques por partes dos exógenos.
Mesmo em áreas de proteção, como o Campus da Universidade Federal do Amazonas e do conjunto residencial Aquariquara, animais passam por dramas para sobreviver e terem condições ambientais mais equilibradas.
Este drama não é exclusivo de Manaus e muito menos dos centros urbanos situados no bioma amazônico. Veja o exemplo do abandono dos jegues em diversas regiões no semiárido, e o transporte de animais vivos para abate que atravessam o país e até as fronteiras, sendo vítimas de maus tratos.
A causa animal é importante politicamente, pois já possuímos três vereadores que possuem esta bandeira na cidade de Manaus. Todos estes somente citam o “bem estar” de cães e gatos, em uma repetição de ações e discursos vindo do Sul e Sudeste do nosso país.
Em diversos casos, suas ações na causa animal, desconsideram e aumentam o drama de aves e outros animais citados anteriormente.
Infelizmente nenhuma ação ou planejamento de educação ambiental foi inserida em políticas públicas ou de iniciativa de organizações civis.
Muitos biólogos e educadores possuem trabalhos isolados e incipientes. Porém, a falta de oportunidade para o desenvolvimento de pilotos ou processos de educação ambiental dificultam a proteção ao bem estar animal de forma ampla.
Exemplos como os aplicados em arquipélagos e ilhas na remoção de animais poderiam ser ampliados. Ações e incentivos para educação ambiental com base em conhecimentos locais e políticas públicas no controle de animais urbanos, principalmente com apoio a proibição de posse e criação sem garantias, seriam possibilidades para um ambiente menos hostil para os animais e o ambiente equilibrado para a vida dos humanos.
Na esperança de que os movimentos políticos de esquerda possam fazer diferença atuando em uma causa animal com maior impacto positivo para a vida de todos e de modo equilibrado com o meio ambiente urbano, rural e natural. Como sugestão às organizações civis, a proposição de políticas públicas regionalizadas e responsabilizando a posse e cuidados dos animais.
(*) Antônio José do Nascimento Fernandes filiado ao PT do Amazonas