União das esquerdas – PT – 2

Por Egydio Schwade (*)

Tancredo Neves e José Sarney eleitos pelo colégio eleitoral presidente e vice-presidente.

Airton Soares e Beth Mendes

Estávamos em pleno processo de abertura política. E na sua 1ª participação em eleição, ainda na Ditadura Militar, o PT, elegeu 6 deputados federais, entre eles um amigo meu do antigo MDB: Airton Soares. Quando fui Secretário Executivo do CIMI-Nacional nos anos 70, Airton nunca faltou em nossas reuniões, no apartamento do CIMI, Asa Norte de Brasilia, onde escondidos dos ditadores, muitas vezes, articulávamos a luta indigenista.

Em 1985 reinava no PT muita unidade em torno das linhas de ação. E na “eleição indireta” de 1985, Tancredo-Maluf, dois homens de direita, o PT Nacional optou pela abstenção. Mas o Airton e a Beth Mendes, votaram no Tancredo, sendo por isso expulsos do partido. Senti a expulsão do Airton, uma atitude que parecia radical demais. Entretanto, fazendo memória da caminhada do partido, julgo que diante de uma opção pessoal dos dois, claramente contrária às linhas do partido, a sua exclusão foi uma decisão correta. O PT tem lado e não pode dar chances a quem vai contra a sua essência, em especial, rumo à direita.

Foi esta radicalidade que levou à unidade das esquerdas em 1989, unidade que conduziu a campanha eleitoral mais alegre, linda e marcante da história do país. Quem do PT da época não se lembra do “Brasil Criança”, com chapa 100% de esquerda: PT para Presidente e PSB de vice. E o PC do B bem coladinho. Por indicação do Partido, tive o privilégio, durante aquela campanha, de viajar de Manaus à Hidrelétrica de Balbina,  sentado entre Lula e João Amazonas, Pres. do PC do B, como assessor, para mostrar aos dois, o nefasto projeto da uma Hidrelétrica na Região Amazônica, em terras indígenas, para que jamais o PT caísse em tal absurdo!!! Era uma opção do PT, olhar e não perder de vista as minorias. Não era perda de tempo olhar para uma obra que oprimia uma minoria. E ali apenas um grupinho de 56 filiados e mais uns 4 ou 5 peões da empresa Andrade Gutierrez que construía Balbina, teve a coragem de receber o “comunista barbudo”.

Naquela eleição o PT não foi derrotado, mas foi roubado. Afirmo isto, plenamente consciente e sobre fatos que ocorreram em nosso Município.

Mas os nossos dirigentes creditaram a derrota à falta de alianças rumo à direita. E iniciaram uma campanha de convencimento das bases para uma nova estratégia de ação do PT, incluindo a centro-direita. Lembro-me da discussão que tive em 1990, em uma reunião em Manaus, com o Dep. José Genoino que veio como enviado do PT-Nacional para nos convencer da mudança já decidida lá na cúpula do Partido. A onda do Nacional era: “sem uma aliança com a centro-direita, jamais venceríamos uma eleição.” Ignorando que o PT já em sua primeira participação à Presidência da República havia chegado ao 2º. turno. A partir daí as linhas hegemônicas urbanas, começaram a desbaratar a ação e organização do interior do Amazonas, construídas desde 1980, pelos sindicatos rurais e comunidades eclesiais de base… E começaram a filiar, sem formação alguma, muitos elementos que só visavam manter o poder das tendências hegemônicas, eleger os seus, ou ajudar a eleger algum amigo da capital, fazendo alianças despudoradas com a direita.

(*) Egydio Schwade é filósofo, teólogo, indigenista e ativista social brasileiro. 

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