Por Pedro Prola (*)
A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que vive sempre alheada da realidade das pessoas, mas também cometendo erro atrás de erro mesmo no plano palaciano e diplomático, agora quer “rearmar a Europa” (1).
De repente, tudo o que a União Europeia afirmava sobre não haver alternativa nem dinheiro e sobre a imperatividade absoluta das regras financeiras, constrangendo os orçamentos públicos dos países europeus em áreas vitais como saúde e educação, deixa de valer — mas só para comprar armas.
Como espera a presidenta da Comissão Europeia vender isso aos europeus? Vim der Leyen lava as mãos: os governos dos estados-membros que se entendam com as suas populações. Mas e se a extrema-direita crescer? São problemas políticos que não parecem interessar.
Mas o mais bizarro é a inépcia de von der Leyen em matéria internacional, que aparentemente não entendeu o problema que a Europa enfrenta nas novas dinâmicas e simplifica tudo na mera compra de armas (o que os países fazem na sua vida normal na lógica de Defesa e dissuasão).
Só que as questões fundamentais também são políticas: Como garantir a autonomia estratégica europeia? Como desenhar uma estratégia comum e aceite por todos numa Europa tão diversa? Como diversificar relações, incluindo a América Latina, África, Ásia e China? Como garantir a paz e a convivência com a Rússia, que não vai desaparecer do mapa?
No meio de tanto equívoco, de uma liderança tecnocrática e mesquinha que apenas se preocupa em satisfazer o mercado financeiro, a Europa arrisca caminhar para a irrelevância e o isolamento que muitos sentenciavam que aconteceria com os EUA.
E sobre os EUA, Trump parece ter entendido que a multipolaridade é irreversível. Por isso, parece buscar uma posição vantajosa para os EUA, buscando delimitar uma tripartição com China e Rússia. Essa lógica não interessa para outras potências como a Europa, a Índia e o Brasil.
A questão é como defender um equilíbrio mais amplo nas Relações Internacionais. Outras potências e regiões como a África estão um passo atrás e ainda precisam se organizar. E, no caso do Brasil, também precisa avançar na integração regional latino-americana e caribenha. Mas, apesar das dificuldades, o Sul Global tem o BRICS+ como espaco de concentração e afirmação. Como se posiciona a Europa?
Como é óbvio, agir sobre tudo isso não se coaduna com alinhamentos fechados com os EUA (ou com a alma do império global que os EUA já foram) nem com portas fechadas nem com ódios de estimação contra a Rússia.
(1) Von der Leyen promete “espaço fiscal” para a reforçar defesa e plano para rearmar a Europa https://www.rtp.pt/noticias/mundo/von-der-leyen-promete-espaco-fiscal-para-a-reforcar-defesa-e-plano-para-rearmar-a-europa_n1638078
(*) Pedro Prola é jurista. Vive em Portugal. Coordenador do Núcleo do PT Lisboa