Valter Pomar: um balanço das eleições no Congresso

Por Redação Página 13 (*)

Página 13 publica a seguir um apanhado da análise desenvolvida por Valter Pomar no último programa Antivírus, acerca da eleição das mesas do Congresso. A análise busca fazer um balanço desse processo à luz da conjuntura e da tática do Partido dos Trabalhadores. O programa você pode ver na íntegra aqui.

De início, Valter lembrou da pandemia que segue levando à morte milhares de brasileiros, da vacinação que está demorando, do desemprego crescente, do auxílio emergencial que chegou ao fim e da economia que está indo ladeira abaixo. Contudo, o Congresso Nacional não interrompeu seu recesso para debater esses e outros assuntos que afligem o povo. Exceto no que diz respeito a eleição das Mesas Diretoras e dos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente. E o resultado da eleição não foi bom para o povo brasileiro.

Tanto no Senado quanto na Câmara foram eleitos presidentes apoiados por Bolsonaro. Valter ressalta que no Senado, a bancada petista votou no presidente eleito, Rodrigo Pacheco do DEM, com o argumento, entre outros, de que Pacheco seria um garantista.

Aliás, o ex-líder do PT no Senado disse ser fake new que o PT votou na candidatura apoiada por Bolsonaro. Segundo Rogério, foi Bolsonaro que votou na candidatura apoiada pelo PT. Digamos que a verdade possa ser expressa assim: o PT e Bolsonaro votaram no mesmo nome. Valter questiona: a que eleitor Pacheco é mais agradecido, será mais fiel, ao PT ou a Bolsonaro?

No caso da Câmara, entretanto, não há disfarce. Baleia teve 145 votos. Lira (PP) teve 302 votos. Vitória acachapante no primeiro turno do candidato bolsonarista. Segundo Valter, vitória construída com muito dinheiro, muitos cargos e igualmente com política. E pergunta: afinal, se a maioria do Congresso apoiou e apoia as politicas de Bolsonaro, por qual motivo mesmo haveria de derrotar seu candidato? Alguém acha que a direita se preocupa de verdade com a democracia? Com as ameaças do neofascismo?

Mas na vitória de Lira também teve requintes de crueldade, como o DEM declarar neutralidade, impondo uma derrota desmoralizante a Rodrigo Maia. Ou Artur Lira, já eleito presidente, cancelar os nomes eleitos pelo bloco de Maia, com o argumento de que a inscrição foi feita fora do prazo.

Aliás, lembra Valter, que coisa inacreditável, deixar para inscrever no último segundo um ofício que poderia ter sido inscrito horas antes. E se tivesse sido inscrito horas antes, não haveria “problema técnico” que impedisse a inscrição.

Outro requinte de crueldade: vários partidos aliados do PT no tal bloco de Maia, conspirando abertamente para excluir o PT da Mesa.

Ou ainda: o PT agradecer a Lira por ter reaberto o processo, sendo que no processo anterior (cancelado por Lira) o PT tinha a primeira secretaria e no novo processo (readmitido por Lira) o PT passou a ter a segunda secretaria.

Valter constata que o fato é o seguinte: SE a tática adotada pela bancada petista foi correta, deu tudo errado. E se a tática foi errada, então deu muito errado, errado mesmo. E lembra que muitos defenderam que era melhor ter um bloco de oposição e uma candidatura de oposição. Que no limite era melhor o PT sair só ou em aliança com o PSOL, mas tendo uma candidatura petista à presidência.

Que seria um erro participar do bloco do Maia e apoiar Baleia. E que era inaceitável apoiar Lira. Aliás, Valter diz ter convicção de que alguns parlamentares petistas votaram em Lira. Quantos? Algo entre 2 e 10. Fizeram isso secretamente. Embora algumas digitais tenham aparecido depois, na eleição suplementar, em que a direita escolheu quem seria o nome do PT na Mesa.

Além disso, Valter lembra que Baleia se demonstrou um péssimo candidato. Golpista de 2016, pró prisão de Lula, eleitor de Bolsonaro no segundo turno de 2018 e acima de tudo um adepto das políticas neoliberais. E sem compromisso com o impeachment.

Apoiar alguém assim já é ruim. Apoiar alguém assim e perder é péssimo. Apoiar alguém assim e ter uma votação tão baixa, é escandaloso. A votação total de Baleia Rossi (142 votos) é pouco maior do que a bancada da oposição.

Mas, claro, a bancada de oposição não é toda de oposição. No PSB, no PDT e no próprio PT, teve gente votando em Lira, lembra Valter.  Mas se a oposição quisesse ser oposição, se tivesse lançado candidatura própria, é seguro que tivesse uma votação superior a que Baleia teria, deduzidos os votos da oposição. Alguém pode dizer: mas nesse caso Baleia não seria candidato… Um argumento que só confirma que Baleia é um candidato de ocasião.

Pois no final das contas, salienta Valter, o apoio do PT foi utilizado como argumento pela tropa de choque de Bolsonaro para tirar votos de Baleia. E aí chegamos no ponto: encerrado o processo, de que valeu participar do bloco do Maia?

É provável que, se tivesse saído sozinho, o PT teria conquistado seu espaço na Mesa, sem genuflexão, completa Valter. E mesmo na composição da Mesa tivemos duas belíssimas confusões.

A primeira já foi citada: a inscrição acusada de ser fora de hora. Mas teve uma segunda, que muita gente não entendeu e que vale a pena explicar em detalhe, segundo Valter. Nos referimos ao nome que iria para a Mesa. Até domingo 31 de janeiro, este nome ainda não havia sido definido. Mas o nome de Marilia Arraes não estava entre as alternativas cogitadas. Na segunda, 1 de fevereiro, o nome de Marília Arraes entrou no páreo.

Até aí, tudo certo. O errado é que Marilia informou que entraria no páreo em qualquer caso, mesmo que o Partido não apoiasse seu nome. Traduzindo em miúdos: ela deixou claro que seria candidata avulsa.

Valter questiona: e o que faz alguém querer ser candidata avulsa? Pode ser uma divergência política…. ou a certeza de que será eleita, porque terá votos suficientes FORA de seu partido. Frente a decisão de Marilia, aconteceu algo bizarro. A bancada de deputados vinculados a tendência petista Construindo um Novo Brasil decidiu que apoiaria o nome de Marília. Motivo real: Marilia seria eleita de qualquer jeito, com os votos que ela teria fora do partido. Detalhe: há quem diga que estes votos viriam do grupo de Lira.

E assim foi: Marília virou a candidata do PT. Ganhou a primeira secretaria. Que virou pó, pois Lira afirmou que o bloco de Maia não fora devidamente registrado. Isto tudo aconteceu na segunda-feira, dia 1°.

Na terça-feira, dia 02, rolaram as negociações para garantir uma nova votação, que permitisse ao bloco de Maia estar na mesa. Na quarta-feira, dia 03, aconteceu a votação. E nesse momento a bancada votou quem seria a candidatura do PT à mesa. Detalhe: até então a bancada não havia votado nada. Marília foi candidata por decisão de uma comissão, não da bancada.

E na bancada Marília perdeu. João Daniel, do PT Sergipe, foi o candidato escolhido pela maioria da bancada do PT. O que fez Marilia? Cumpriu a promessa: saiu candidata avulsa. E não só ela. Paulo Guedes, do PT de MG, fez o mesmo.

Três candidaturas, a decisão foi ao segundo turno. E no segundo turno, Marilia ganhou. Ganhou como? Teve mais votos entre todos os parlamentares, do que João Daniel. Ou seja: não foi o PT quem escolheu seu nome na Mesa. Foi a direita que escolheu quem seria o petista que estaria na Mesa.

Segundo Valter, este fato está causando mais indignação em alguns petistas, do que outro fato muito mais grave: poderíamos ter tido candidatura para marcar posição, mas escolhemos apoiar um golpista, sob o argumento de que precisávamos disputar para ganhar, mas no final das contas o golpista que apoiamos teve uma votação muito pequena.

Não é apenas indignação, destaca Valter. A CEN se reuniu mais vezes para debater o tema do nome petista que iria para a Mesa, do que se reuniu para debater que candidatura a presidente nós apoiaríamos. Este “detalhe” confirma que – ao contrário do que foi dito de público – a principal questão para muitos parlamentares era nosso nome na Mesa.

A atitude da bancada (de priorizar o cargo na Mesa e não priorizar a política), segundo Valter, abriu margem para o voo solo de Marilia Arraes. Ela cometeu uma indisciplina muito grave. E talvez ela tenha contado com o apoio, ou com o estímulo, de outros integrantes da bancada e da direção. Gente que defendeu apoiar o Lira no início, depois ficou em silêncio obsequioso, mas quando viu a oportunidade deu o bote.

Se a bancada tivesse colocado a política em primeiro lugar, a história teria sido muito diferente, afirma Valter.  Mas a maioria escolheu o caminho da esperteza. Acontece que a esperteza, quando é demais, acaba engolindo o esperto. E foi isso o que aconteceu.

E qual o impacto disto tudo para o impeachment? Na prática, nenhum, defende Valter. Pois se Baleia fosse vencedor, ele faria como Arthur Lira fará: não tramitar o pedido, assim como antes deles Maia não tramitou. Quem argumentou que votar em Baleia ajudaria no impeachment, estava embrulhando em papel crepom o pretendido cargo na Mesa.

O impeachment pode sair? Pode. Podia sair com Baleia, poderá sair com Lira, se for atendida uma condição fundamental: pressão popular, analisa Valter. Sem mobilização popular, não tem impeachment, nem direitos do Lula, nem 2022. E não tem mobilização popular, se o grupo que é majoritário no DN do PT e na bancada do Senado e da Câmara continuar se comportando como a Bela Adormecida.

Se queremos derrotar Bolsonaro, não podemos depender do apoio da direita. Se conseguirmos derrotar Bolsonaro, não vamos voltar para o mundo antes de 2016. Este mundo não existe mais, sublinha Valter. E afirma que o grupo majoritário do PT precisa sair do torpor, precisa acordar, precisa parar de acreditar em fábulas.

Tanto as eleições municipais de 2020 quanto a eleição das Mesas confirmaram que – ao menos na atual situação histórica– não será por caminhos eleitorais e institucionais, muito menos através de alianças com setores da direita, que a esquerda derrotará Bolsonaro, analisa Valter.

Ou mudamos a correlação de forças na sociedade, em particular na classe trabalhadora, ou a disputa institucional continuará sendo decidida em favor da direita (bolsonarista raiz ou bolsonarista eventual, centrão raiz ou centrão gourmet).

Ninguém gosta de derrota. Mas já que fomos derrotados, vamos pelo menos tirar alguma lição do ocorrido, a começar pela máxima do Barão: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”. Insistir em aplicar uma estratégia superada só vai produzir novas derrotas, destaca Valter.

E encerra afirmando esperar que a direção do PT convoque, mais cedo que tarde, um encontro nacional que sirva para debater e aprovar uma nova linha política, adequada aos “tempos de guerra” que estamos vivendo.

(*) redacao@gmail.com

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