Por Valter Pomar (*)
Conheci o Randolfe nos tempos em que ele era do PT, se não me engano militante da tendência Força Socialista, integrante da chamada esquerda petista.
Aí Randolfe saiu do PT e foi para o PSOL.
Saiu pela esquerda.
Depois saiu do PSOL e foi para a Rede.
Então saiu da Rede e ficou um tempo sem partido.
Agora voltou ao PT.
Entrou pela outra porta.
Hoje Randolfe é senador eleito pelo estado do Amapá.
E tem a importante função de líder do governo.
Nessa condição, suas opiniões têm grande repercussão.
É o caso do que ele disse, neste 1 de agosto de 2024, sobre a Venezuela.
Segue segundo foi publicado:
“”Lamentavelmente, a Venezuela não é mais uma democracia, e enquanto não forem apresentadas as atas que comprovem a verificação do resultado eleitoral, não é possível o reconhecimento do regime do senhor Nicolás Maduro”.
“A eleição ocorreu no domingo, já se passaram quatro dias e o Conselho Nacional Eleitoral, que é comandado por Nicolás Maduro, ainda não apresentou a ata que efetivamente o consagra como vencedor. O que temos presenciado e que está sendo veiculado por todos os meios de comunicação internacional é uma escalada de violação de direitos humanos.”
Não sabia que o senador acompanhava “todos os meios de comunicação internacional”.
Eu não consigo acompanhar tantos assim. Do pouco que consigo, percebo que há um discurso único nos meios influenciados pelos Estados Unidos (como a Globo, onde o senador deu a entrevista citada).
Este discurso único visa criar um ambiente favorável para aquilo o que o Departamento de Estado dos Estados Unidos acabou de fazer: considerar eleito o candidato da oposição.
Visa criar, também, um ambiente favorável para a extrema-direita venezuelana seguir atacando, sempre fora-da-lei.
Imagino que o senador não concorde com esta Operação Guaidó Segundo.
Mas, mesmo que não concorde, o fato é que afirmações do tipo “a Venezuela não é mais uma democracia” e “escalada de violação dos direitos humanos” ajudam a operação dos EUA e da extrema direita venezuelana.
No passado aconteceu a mesma coisa com as declarações que Randolfe deu contra o PT.
Para quem não lembra, seguem dois exemplos de 2012, citados pela lamentável revista Veja:
“O escândalo do Mensalão foi uma das razões da nossa ruptura com o PT. O ocorrido é lamentável para a política. O Mensalão foi um divisor de águas. Feriu de morte um partido um partido político que representava a aspiração de ética na política para milhões de brasileiros. Isso é o principal ponto do processo envolvendo o Mensalão. É um golpe contra a esperança na política de milhões de brasileiros”.
“(A condenação dos mensaleiros pelo STF) É um símbolo importante para o país. Se convenciona dizer que só quem vai para a prisão é o ladrão de galinha, que o corrupto que participa de esquema de corrupção nunca é punido. Então, nesse sentido, eu considero um marco importante do judiciário brasileiro”
Randolfe, imagino, mudou de ideia sobre o PT. Mas afirmações como as suas custaram caro, não apenas para o PT, mas para a maioria da população brasileira.
Quero crer que, assim como mudou de opinião sobre o PT, Randolfe também vai mudar de opinião sobre a Venezuela.
Peço apenas que desta vez mude de opinião mais rápido.
Pois a extrema-direita fascista na Venezuela, assim como no Brasil, não dá a mínima para a democracia, nem para os direitos humanos. Mas se beneficia muito com certos discursos feitos do alto do pedestal.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT