Por Jandyra Uehara Alves (*)
Texto publicado na edição de junho do Jornal Página 13
A luta social de massas é central para construir a correlação de forças necessária para a vitória da classe trabalhadora contra o neofascismo e o neoliberalismo. Isso exige demarcar posição nas ruas contra Bolsonaro e suas políticas, organizando as lutas social e sindical. É com a luta social – combinada com o trabalho de base, programa e frentes de esquerda política e popular – que será possível reconquistar os territórios perdidos nas bases sindicais, nas periferias, nos locais de trabalho, nas escolas e universidades, nos ambientes de cultura e lazer, bem como junto às lutas populares, especialmente entre os jovens, as mulheres, os negros e negras.
Trabalho de base orgânico na vida concreta da classe, ampliação da organização e representação na classe trabalhadora articulada com a luta de massas em torno das questões imediatas: a luta pela vacinação, pelo auxílio emergencial de 600 reais, contra o desemprego, a fome e a carestia, em defesa dos serviços públicos e do fortalecimento do SUS e a luta pelo Fora Bolsonaro imediato, com antecipação das eleições e garantia da candidatura de Lula.
Os atos de 29 de maio foram muito além das expectativas, tanto daqueles que apoiaram e convocaram, quanto daqueles que decidiram não convocar as manifestações por diferentes motivos. O que se viu no 29M foi o início de um potente movimento de massas que, se crescer, pode colocar em outro patamar a luta pelo fim do governo Bolsonaro, aprofundar a polarização política e programática e reposicionar a esquerda na correlação de forças, em condições de eleger Lula e assegurar a revogação de todo o entulho neoliberal golpista – condição essencial para as reformas estruturais, políticas e sociais.
O Ato de 29M foi convocado pela Campanha Nacional Fora Bolsonaro, que desde junho do ano passado agrega além das organizações das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, todos os setores que defendem a bandeira Fora Bolsonaro, e outras centrais sindicais que compõem as frentes, por exemplo a UGT e a CSP-Conlutas, além da Coalizão Negra por Direitos e dezenas de outras entidades. Desde então, as ações do Fora Bolsonaro têm sido convocadas nesta articulação nacional, sendo que na 3ª Plenária de Organização das Lutas Populares, ocorrida no dia 11 de maio, com a participação de aproximadamente 600 militantes e dirigentes foi deliberada a convocação unitária do primeiro ato de ruas na pandemia para o dia 29 de Maio.
A maioria da Executiva nacional da CUT, em reunião no dia 19 de maio, resolveu que não convocaria o ato de 29M:
“A convocatória do ato Fora Bolsonaro para o dia 29/05 está sendo feita pela Frente Fora Bolsonaro. A Executiva da CUT decidiu que não vai estimular ou convocar manifestações presenciais, considerando o estágio que se encontra a pandemia não permite a realização de manifestações e atos que gerem aglomerações e coloquem em risco os trabalhadores. No entanto, não vamos nos contrapor ou dificultar a realização de quaisquer manifestações que contribuam para o fim do governo Bolsonaro. Exortamos a todos e todas que que decidirem participar de atos presenciais que o façam com os devidos cuidados sanitários para preservar a vida e a saúde de todos e todas.”
No âmbito da CUT, três motivações concorrem para o posicionamento da maioria que até então era contrária às manifestações de massa: os riscos de contaminação no atual estágio da pandemia e a contradição com o “Fique em Casa”, defendido até então. É evidente que existem riscos de contaminação na participação de atos de massa, ainda que bem menores do que arriscam milhões de trabalhadores todos os dias em transportes públicos lotados, ambientes fechados e insalubres e com máscaras de baixa qualidade. Os atos de massa acontecem ao ar livre, por algumas horas e a intensificação dos cuidados sanitários com a distribuição de máscaras de boa qualidade, álcool gel e firme orientação da organização para o distanciamento minimizam em muito os riscos.
A segunda questão são problemas concretos de mobilização nas bases cuja principal pauta de reivindicação é o trabalho remoto e o retorno ao presencial somente com condições sanitárias e após o processo de vacinação, a exemplo da educação e da categoria bancária. Na educação, em vários estados e municípios os professores/as estão ou estiveram em greve sanitária com essa pauta de reivindicações. Esta posição, que contraditava a pauta com atos de rua e era muito forte até alguns meses, começa a dar sinais de mudança com o agravamento da situação política, social e sanitária. Exemplo disso foi a Apeoesp (professores de São Paulo, maior sindicato na América Latina) que chegou a convocar os atos do 29M com inserções pagas na TV aberta.
Embora não explicitada no debate interno da CUT, sabemos que existe ainda uma terceira motivação para o esforço de evitar manifestações de massa: o núcleo central da Articulação Sindical – corrente amplamente majoritária na CUT e que defende abertamente que o PT faça a “frente ampla” com a centro direita e a direita neoliberal – resiste a convocar as manifestações, com uma preocupação com o que alguns deles chamam de “estratégia”, ou seja, que o protagonismo independente dos setores populares e de esquerda atrapalhe ou inviabilize a tal frente ampla, aprofundando a polarização política.
A força das manifestações e o fato da maioria das CUTs estaduais terem participado da organização e convocado os atos em grande parte dos estados foram determinantes para que a maioria da Executiva nacional da CUT que foi contrária à convocação de atos de massas no 29 de maio mudasse de posição.
Na Resolução de 9 de junho, expressando a posição da maioria das estaduais, a Executiva orienta:
“Entendendo que é preciso avançar sempre mantendo e ampliando a unidade de todos os setores populares e de esquerda, para derrotar Bolsonaro e seu governo antes que eles destruam irreversivelmente nosso país, a CUT respalda a convergência para a indicação do dia 19 como próximo Dia Nacional de Mobilização por Fora Bolsonaro, mantendo sua orientação de incentivar as bases para participação nos atos e ações programadas para o dia 19 de junho.”
No entanto, no final do mesmo dia, sem que fosse feito qualquer debate na Executiva e com as estaduais, foi informado que em uma reunião realizada em paralelo a da Executiva, o Fórum das Centrais – de que participam todas as Centrais, inclusive CTB, Conlutas, as duas Intersindicais e a própria CUT – estaria convocando ações no dia 18. O título da nota divulgada peo Fórum das Centrais é: “Centrais Sindicais convocam mobilização para 18 de junho e apoiam Fora Bolsonaro no dia 19”. Do ponto de vista da CUT é no mínimo um desrespeito com as instâncias e com as estaduais que tal decisão seja tomada pela presidência, à revelia das instâncias e ao mesmo tempo em que estava acontecendo a reunião da Executiva deliberando com as estaduais e ramos a organização do 19J.
A desorientação e confusão iniciais causadas pela nota das centrais convocando o dia 18 foi superada pela realidade e a orientação na CUT é que se faça mobilizações nos locais de trabalho para participação nos atos do dia 19 de junho. Sem dúvida que articular a pauta sindical contra as privatizações, a Reforma Administrativa e o desemprego, entre outras, com a luta Fora Bolsonaro é fundamental. Mas isto precisa ser feito em todas as ações da campanha, de forma articulada e permanente.
Tanto na Executiva nacional da CUT quanto nas entidades do setor público há consenso sobre a construção de paralisações e mobilizações que articulem uma greve geral pelo Fora Bolsonaro, pelas reivindicações da classe trabalhadora e no combate às privatizações e a Reforma Administrativa.
Mesmo aos trancos e barrancos na CUT nacional, o engajamento e o respaldo das estaduais garantiram a presença e participação da CUT nos atos de 19 de Junho em todo o país. O importante agora é concentrar na mobilização da classe trabalhadora, contribuir na organização dos atos, preparar a segurança sanitária e intensificar a medidas de prevenção de violência policial e de grupos de extrema direita.
E vamos à luta no 19 de junho para colocar Fora Bolsonaro, sua corja e os golpistas!
Rumo à greve geral! Às ruas para derrotar o neofascismo e o neoliberalismo!
(*) Jandyra Uehara Alves é da Executiva Nacional da CUT.