Respostas às perguntas feitas no debate de Brasília

Por Valter Pomar (*)

No debate de Brasília (2/6) e no debate de Recife (3/6), os candidatos à presidência nacional do PT responderam perguntas feitas pela militância.

No caso de Recife, as perguntas foram feitas e sorteadas na hora. Mas no caso de Brasília, as perguntas foram feitas com antecedência, houve uma seleção inicial e todos os candidatos receberam com antecedência as perguntas passíveis de serem sorteadas.

Seguem abaixo as perguntas que recebi, acompanhadas do nome de quem fez (se tem algum erro na grafia, informo que apenas copiei e colei). Em negrito, também abaixo, as respostas que rascunhei antes do debate, para cada uma delas.

Queria ter mandado as perguntas e respostas logo depois do debate em Brasília, mas na correria só hoje consegui.

Como a maioria das perguntas não foi selecionada e lida no debate, divulgar as respostas dá alguma devolutiva para quem perguntou.

1. MAROCOS AURELIO DA SILVA

Como os candidatos veem a Federação PT, PV e PCdoB? O Brasil tem mais de 5500 municípios e  em sua grande maioria municípios pequenos que ficaram prejudicados com a criação da  Federação?

Eu sou membro do Diretório Nacional do PT e, quando o debate foi feito, votei contra a participação do PT nesta Federação. Faço um balanço muito crítico da Federação. Acho que ela prejudicou o Partido. Sou a favor de que o PT saia desta Federação. E não sou a favor de criar outra Federação.

2. LUIZ HENRIQUE

Qual sua proposta para levar o PT para as periferias?

Parte importante da votação do PT vem das periferias. E parte importante da militância petista mora nas periferias. Mas hoje o Partido não organiza a atuação desta militância. Ou seja, em grande número de casos o Partido enquanto Partido só aparece nas periferias em época de eleição. E nisto vai ficando parecido com os outros Partido. O jeito de resolver isto passa por uma combinação de ações. Primeiro, precisamos criar núcleos nos locais de moradia. Segundo, a militância de cada núcleo precisa fazer um diagnóstico do território e aprovar um plano de ação, com uma política de comunicação, mobilização e luta focada em cada território. Terceiro, os membros do respectivo Diretório precisam assumir como tarefa oficial acompanhar cada um desses núcleos. Quarto, os Diretórios Municipais tem que organizar periodicamente atividades na periferia das grandes cidades. Quinto, tem que haver dotação orçamentária para tudo isto.

3. CRISTINA ANTONIA VEREDA

Qual a sua proposta para estimular e melhorar a comunicação do PT nos municípios e estados com  a sociedade e especialmente com a militância, visto que em 2026 teremos eleições gerais e em  cidades importantes, o partido sequer tem um informativo digital?

O tema da comunicação envolve várias camadas: a comunicação do governo, a publicidade do governo, os meios de comunicação do campo democrático-popular (inclusive sindicatos, movimentos etc.) e a comunicação do Partido. Esta, por sua vez, tem vários níveis: o nacional, cada um dos estados, cada um dos municípios. E em cada um desses níveis, precisamos ter um meio de comunicação com a militância e um meio de comunicação com nossa base social e eleitoral. No caso da comunicação com a militância, temos que usar melhor os instrumentos que já existem (zap etc.). No caso da comunicação com a sociedade, é preciso criar pelo menos um meio digital em cada estado e em cada cidade. Por exemplo, um programa de rádio. E precisamos estimular cada cidade a fazer uma atividade semanal de panfletagem. 

4. RAFAEL ARAÚJO

Quais são as propostas das candidaturas para garantir a renovação geracional no PT e ampliar a  participação das juventudes nos espaços de direção e decisão do partido?

Do ponto de vista organizativo, devemos ter dois focos principais: a juventude trabalhadora e a juventude que está nas escolas secundárias. O PT deve fazer uma campanha nacional de filiação, de nucleação e de mobilização focada nessas duas juventudes, estabelecendo metas de quantos jovens queremos filiar. Mas isso só vai ter efeito, se for acompanhado de uma mudança na linha política do Partido: a juventude que nós queremos atrair para o Partido é aquela que está insatisfeita com a vida como ela é, mas que também está disposta a lutar para mudar as coisas. E esses jovens só virão para o PT se ele for um espaço que atraia esta juventude que quer agir.

5. NICOLE SCHULKA

Em seu mandato como pretende conciliar as divergências internas, com objetivo de tornar o partido  mais unido?

A diversidade  interna é um ponto positivo para o PT. E o direito de tendências é uma garantia de que todos podem se organizar para defender o que pensam. Mas direito de tendência não pode virar uma obrigação. Portanto, a primeira coisa é garantir que um petista sem tendência tenha os mesmos direitos que um petista que faz parte de uma tendência. Além disso, é preciso que haja espaços para um debate qualificado das divergências. Por exemplo: se numa cidade a direção partidária nunca se reúne, não há como construir uma síntese das opiniões, seja pelo convencimento, seja pelo voto. Temos que voltar a fazer reuniões melhores, mais organizadas, onde as questões sejam debatidas com tempo e qualidade. Finalmente, é preciso impedir que os parlamentares e as tendências aparelhem o Partido para seus interesses privado. Nesse sentido, uma das ações mais urgentes é garantir que a tesouraria do Partido vai ser gerida de maneira coletiva. 

6. EVALDO VARELA

Qual a posição dos candidatos em relação ao genocídio do povo Palestino?

Defendo que o Brasil rompa as relações diplomáticas com o Estado de Israel. Defendo, também, que todos os convênios, acordos e negócios sejam interrompidos. E defendo que o PT convoque e participe das manifestações em defesa da Palestina Livre.

7. SELMA BELTRÃO

Qual a estratégia dos candidatos à presidência do PT para ampliar a representação do partido na  Câmara e Senado na próxima eleição?

Primeiro, decidindo democraticamente qual a linha de campanha, acabando com esta história da tática eleitoral vir pronta de baixo para cima. Segundo, trabalhar para ter candidaturas majoritárias petistas fortes em cada estado, pois sem candidaturas majoritárias fortes, as chapas proporcionais se enfraquecem. Terceiro, deliberando democraticamente sobre o uso do Fundo Eleitoral. Quarto, montando chapas fortes, para fortalecer o Partido como um todo, mesmo quando isso não interesse a este ou aquele parlamentar. Quinto, fazendo campanhas coletivas, decididas e organizadas pelo Partido. Sexto, acabando com a Federação, que nos atrapalha muito.

8. JOSÉ LUÍS FERRAREZI

Os setoriais têm tido muitas dificuldades para cumprirem seu papel e colocar em prática o que  prega o estatuto do partido, sem estrutura e espaços para os avanços necessários com seus  representantes setoriais, pergunto o que cada candidato propõe para valorizar os setoriais dentro do PT nacional?

Aqui é preciso fazer uma distinção: há setoriais que funcionam relativamente bem, outros tem muita dificuldade de funcionar. E alguns dos problemas têm origem na forma como os setoriais são compostos. É preciso recuperar o princípio segundo o qual setorial serve para organizar a atuação da militância do Partido, portanto quem deve votar na eleição do setorial é quem já milita em cada setor. Em segundo lugar, é preciso que os setoriais tenham vida regular, permanente e autônoma: não podem ficar sob a tutela de nossos governos, ou de parlamentares, nem mesmo sob tutela da respectiva direção. E o único jeito de garantir isso é que haja um mínimo de autonomia orçamentária, o que exigirá recuperar a prática da contribuição militante. Finalmente, é preciso que a executiva nacional como um todo acompanhe politicamente a atuação dos setoriais; valendo o mesmo para os estados.

9. ANA MARIA COSTA

Qual o projeto para o futuro da saúde que o PT defende? Um sistema híbrido abrindo mão da  saúde como direito e dever do Estado? Uma saúde privada tomando conta do cenário? Ou o  projeto constitucional da saúde que parece já estar longe da realidade atual?

O futuro da saúde depende de recuperarmos os princípios originais do SUS: saúde como direito, saúde como dever do Estado etc.. Com um detalhe: colocando o setor privado de volta à condição de complementar. Hoje está tudo invertido: o público financia o privado, que ganha cada vez mais peso, cada vez mais protagonista. Uma parte da esquerda brasileira capitulou conceitualmente ao setor privado, outra parte capitulou por pragmatismo. Nós defendemos reverter este processo e reafirmar que saúde não pode ser mercadoria.

10. CESÁRIO SILVA

Como vocês veem a importância do crescimento do segmento evangélico brasileiro e a  possibilidade do PT escutar mais esse segmento fenomenal, na perspectiva de fortalecer a organização social?

A maior parte da população brasileira acredita em Deus, a maioria dos que acreditam em Deus são cristãos, em pouco tempo a maioria dos cristãos será evangélica. Há vários motivos para isto, entre os quais o fato de que a vida moderna é muito dura e algumas igrejas oferecem um conforto espiritual e uma rede de apoio que são essenciais. E acho totalmente normal e legítimo que os crentes façam política: quem vive numa sociedade faz política, queira ou não, saiba ou não. O problema na minha opinião está noutro lugar, a saber, o problema acontece quando se partidariza a fé, quando se tenta acabar com o Estado laico. E, pior ainda, quando se faz isso para ganhar dinheiro. O jeito de enfrentar esta situação é, antes de mais nada, melhorando a vida do povo. Em segundo lugar, convivendo tranquilamente com a religiosidade do povo. Em terceiro lugar, defendendo sem concessão alguma o Estado laico.

11. CARLA MORAIS MATOS

Quais são as propostas concretas das candidaturas para ampliar a participação da militância nas  decisões do partido e garantir que as instâncias partidárias não fiquem distantes da base?

Para que a militância tenha voz, é preciso ter meios para isto. Votar de 4 em 4 anos não resolve o problema. É preciso ter instâncias partidárias funcionando, é preciso realizar consultas permanentes à base, é preciso garantir que haja comunicação e formação política acessíveis a 3 milhões de filiados. E é preciso reconhecer a verdade: não temos 3 milhões de militantes. é preciso realizar um recadastramento nacional, acabar com os filiados fake e garantir que as decisões sejam tomadas por quem de fato é militante. Ao lado disso, é preciso que as direções partidárias funcionem em regime de caravana, pois só assim se farão presentes e poderão escutar o que as bases partidárias pensam.

12. ROSA MARIA NUNES ARAÚJO

De que forma os candidatos, se eleitos presidente nacional do PT, irão acompanhar os diretórios  estaduais e municipais do PT em todo o Brasil, sabendo da extensão territorial do nosso país e das  diferenças culturais e sociais?

É preciso funcionar em regime de caravana. Temos o PT organizado nos 27 estados e em milhares de municípios. A direção nacional como um todo, inclusive seu presidente, tem que ter um calendário de visita ao país, combinado presença física com presença virtual.

13. CARLA MORAIS MATOS

Como equilibrar a necessidade de alianças eleitorais em 2026 com a defesa do programa histórico  do PT e o protagonismo da classe trabalhadora?

Primeiro, fazendo alianças para implementar o programa; e não fazendo alianças que impedem a implementação de nosso programa. Em segundo lugar, estimulando as lutas e mobilizações sociais diretas da classe trabalhadora. A classe trabalhadora, para ser protagonista, tem que lutar, tem que se mobilizar. 

14. EDMUNDO ALVES MONTEIRO

Como a futura presidência nacional do PT pretende atuar para atender às demandas e  especificidades dos municípios com menos de 50 mil habitantes?

Precisamos ter dirigentes nacionais cuja tarefa permanente seja acompanhar estas cidades. Isto, combinado às políticas gerais de implantação do Partido nos territórios, permitirá dar um salto de qualidade.

15. SAMUEL SOUZA HOLANDA MAURICIO

Qual a proposta das candidaturas para a segurança pública no país? Qual a posição sobre a PEC  da Segurança Pública e como o tema pode ser trabalhado no partido e na base, superando preconceitos e paradigmas?

A direita faz de tudo para ampliar a insegurança. E depois oferece como solução a violência do Estado. Nós devemos fazer de tudo para ampliar a segurança pública, em todas as suas dimensões: emprego, moradia, transporte, saúde, educação, cultura. E, simultaneamente, devemos usar como principal arma a inteligência, não a violência. Os principais chefões e beneficiários do crime organizado estão na Faria Lima, não na periferia. Estes caras devem ser presos, mas para isso as polícias devem agir de um jeito bem diferente de como agem em SP e de como agem, infelizmente, na Bahia. Os policiais são servidores públicos e devem ser convocados a agir em conformidade com isso.

16. VANESSA MURACA

Como construir novas lideranças políticas dentro do partido?

Através da luta política e social. É assim que se formam novas lideranças na sociedade. O partido preciso enfatizar este critério na hora de montar suas direções e também suas chapas eleitorais: quem se destaca na luta social.

17. PAULO MORANI

O que será feito de concreto para retomar o trabalho com o povo e com a base, especialmente no  que diz respeito à conscientização política, algo que o partido praticamente abandonou?

A principal fonte de consciência é a luta. Mas as atividades de formação política também tem grande importância, para burilar aquilo que a pessoa já aprendeu em grande medida na prática. Formação política é algo permanente e que deve ter equilibrar conhecimento histórico, experiência prática e formação ideológica.

18. SABRINA ANDREIA GONÇALVES

Como a futura presidência do PT pretende enfrentar o afastamento da juventude e reunir  novamente a militância nas ruas?

Convocando e estando presente. Por exemplo, convocando atividades em defesa da redução da jornada e do fim da escala 6 x1, em defesa de que os ricos paguem impostos, em defesa da Palestina Livre.  A militância não tem sido convocada, quando é convocada a organização é mal feita e muitas vezes a direção não aparece. Isso vai mudar.

19. RAFAEL ASSIS

Quais são os caminhos que vocês entendem que o partido deve seguir para se aproximar mais das  bases e aprofundar a discussão sobre o socialismo brasileiro?

Os petistas estão nas bases. Quem não está nas bases é o Partido, as direções partidárias. Isso é o que precisa mudar, acima de tudo. Sobre o socialismo, trata-se de um movimento duplo: primeiro, defender soluções para os problemas do cotidiano a partir de uma perspectiva socialista. Segundo, explicar que a imensa crise que o mundo vive só será solucionada numa sociedade que não esta subordinada a quem só pensa em explorar e lucrar.

(*)  Valter Pomar é professor e candidato à presidência nacional do PT

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