Epigrafia do mental e do mental superior.
A mente é uma especificidade da evolução cósmica e se instala e/ou é instalada em seres correspondentes e dotados de cérebro,que é um mero receptor, captador. Seres que atuam e se atualizam como tubo cósmico, é o caso do gênero humano, acessam o mental. Acessam, como tubos cósmicos e por serem portadores de veículos adequados , a mente e por extensão a mente superior, que não é, a exemplo do inconsciente, um lugar, um ponto fixo. O que é a inteligência senão a medida de acesso ao mental e ao mental superior? Máquinas são operadas pela inteligência, fixada no cérebro, e pelo mental correspondente, que habita, tal como ocorre com o espírito universal, o espaço sem limites ou o orum, de acordo com a cosmogonia yorubá. Máquinas, a despeito das abstratas configurações dos meios informacionais, da robótica e cibernética, são operadas, programadas e reprogramadas, nada além.
Por Fausto Antonio (*)
As plataformas e meios informacionais, em espaços sociais erigidos sob a ética do acúmulo de bens materiais e imateriais, são capitalistas. A partir de anterior programação, elas são responsáveis pela coleta de dados e a posterior produção sistematizada de arquivos derivados, de armazenamento em múltiplas escalas, de tabelas, de gráficos, de distribuição e de acesso e de divulgação virtual. Não são produções autônomas e não evoluíram e, mais ainda, não evoluirão independentemente dos seus proprietários e das intervenções, balizadas pela mais-valia, dos programadores. Há alguma dúvida? Pois é, não existe igualmente, por equivalência, “Inteligência Artificial”. Há, a rigor, programação e reprogramação de dados, nos meios informacionais, em concordância com os donos e com os seus privilégios de classe e raça,entre outros, materializados nos meios técnicos ,científicos e plataformas, que são indispensáveis para a mais-valia informacional, cibernética e computacional.
A chamada inteligência artificial, relevando que artificial é produção de homens e mulheres e não da natureza, não se define por si mesma; os meios de produção, que são sistemas técnicos, são controlados pelos proprietários e seu uso e/ou acesso igualmente. Nas sociedades capitalistas, os meios técnicos , é o caso da chamada inteligência artificial, são comandados pelo modo de produção capitalista, que é o arranjo que assegura e privilegia o acesso e o uso desiguais. Indico, como texto básico a respeito do tema, o artigo Mais-valia informacional, capitalismo de plataforma, o espaço e a socioespacialidade antirracismo e antibolha, publicado na Página 13 em: https://pagina13.org.br/2020/10/14/
A leitura do livro Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico-Informacional, de Milton Santos, é fundamental para o entendimento do lugar do artificial e, por correspondência, da absoluta impossibilidade de o meio técnico-científico-informacional alcançar absoluta autonomia, que é especificidade da inteligência humana. O artificial está, dentro dessa delimitação já estabilizada, fora da polêmica . A polêmica, que é o foco do presente artigo , prende-se à noção de inteligência, que pode induzir a um grave erro epistemológico e de ocultação dos verdadeiros sujeitos sociais do processo e/ou trabalho realizado.
A ocultação consciente e ideológica do processo feito pela inteligência humana, trabalho consciente operado pelos cientistas, programadores (as) e/ou pela programação dos computadores e meios aparentados, tem o mesmo sentido da ocultação, quase uma naturalização, dos chamados recursos naturais, que são, a bem das ciências sociais e da ciência em geral, recursos sociais.
IA e os “recursos naturais”: entre duas ocultações
As fontes naturais são ou somente poderiam ser categorizadas assim apenas ou antes do contato e/ou uso social. Uma árvore plantada, desde a escolha da semente e da muda, se for o caso, não é um recurso natural. Uma árvore cortada de uma mata nativa, relevando o uso do machado, da serra e da serra elétrica, e´um recurso social, a despeito de a fonte ser, antes do machado e das serras ou de qualquer outro sistema técnico ou meio de produção, natural. Poderíamos nos referir,então, aos chamados recursos naturais, negritando que são recursos sociais. De modo equivalente, são recursos minerais, energéticos, florestais, eólicos, fluviais, pluviais e tantos outros. O uso, no que toca à utilização de qualquer fonte natural, determina o ingresso dessas fontes originais no quadro dos recursos sociais ou meios de produção da existência . É aconselhável considerarmos a intervenção e o estágio, mediado pela política,dos sistemas técnicos, que transformam as fontes naturais em recursos sociais. O mesmo exercício deve ser aplicado às denominadas, equivocadamente, riquezas naturais. Riqueza e recursos são categorias sociais e alusivas, portanto, às intervenções fundamentalmente humanas. Sendo assim, são categorias sociais caras para a história, a geografia, a economia e tantas outras áreas que enfatizam a relação de homens e mulheres com aquilo que seria, no momento inicial, fonte natural ou a natureza intocada.
O que significa ocultar nos domínios dos computadores e outros meios técnicos e científicos?
Ocultar, nos meios informacionais e nos domínios dos computadores , robôs e criações sociais assemelhadas, tem o objetivo ideológico e político de desconsiderar, para finalidades de poder e dominação, o papel ativo da força de trabalho de quem, de um lado, programa e de quem, do outro lado, “usa” , produz os dados e, na contraposição, há o papel de poder, estratégico-cumulativo, de quem é proprietário. Como dono desses meios e da mais – valia extraída,os proprietários, e não a abstrata e natural inteligência artificial, são determinantes no que concerne ao acesso, ao uso e ao controle daquilo que será programado e reprogramado. Numa síntese, o programado e o reprogramado são “ofertados”aos chamados usuários, que rigorosamente são os operários e/ou alimentadores, em grande parte, daquilo que será apresentado como trabalho ou sistematização de uma pseudo inteligência artificial. Às avessas, existe uma “humanização capitalista” dos computadores e das plataformas? Humanização, assim, significa que prevalece, no domínio da falsa inteligência artificial, o projeto capitalista de dominação, exploração, opressão e poder. Em termos mais objetivos, a ideologizada humanização dos computadores e dos meios informacionais, a propalada inteligência artificial ou humanizada, é um eficaz recurso para deixar, na programada invisibilidade, os proprietários desses meios de produção e, por correspondência, o modo de produção capitalista computadorizado, robotizado e informacionalizado.
À guisa de uma necessária conclusão
A mente é uma especificidade da evolução cósmica e se instala e/ou é instalada em seres correspondentes e dotados de cérebro,que é um mero receptor, captador. Seres que atuam e se atualizam como tubo cósmico, é o caso do gênero humano, acessam o mental. Acessam, como tubos cósmicos e por serem portadores de veículos adequados , a mente e por extensão a mente superior, que não é, a exemplo do inconsciente, um lugar, um ponto fixo. O que é a inteligência senão a medida de acesso ao mental e ao mental superior? Máquinas são operadas pela inteligência, fixada no cérebro, e pelo mental correspondente, que habita, tal como ocorre com o espírito universal, o espaço sem limites ou o orum, de acordo com a cosmogonia yorubá. Máquinas, a despeito das abstratas configurações dos meios informacionais , da robótica e da cibernética, são operadas, programadas e reprogramadas, nada além.
(*) Fausto Antonio é professor Associado da Unilab – Bahia, escritor, poeta, dramaturgo e autor do romance Diário de Polon, US-Edições, 2025, Cabo Verde.
Referência
- https://pagina13.org.br › mais-valia-informacional-capit…
- “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”, o geógrafo e filósofo Milton .
- Santos, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico-Informacional. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013.