O gesto amargo de Kiko Celeguim

Por Valter Pomar (*)

Deputado federal Kiko Celeguim (PT-SP) durante sessão da Câmara

O companheiro Kiko, presidente do PT no estado de São Paulo, divulgou um pequeno texto explicando seu voto a favor da “PEC das prerrogativas”.

Kiko começa seu texto afirmando duas verdades.

Primeiro, reconhece a “indignação” generalizada contra o voto dado por ele e outros doze.

Segundo, lembra que o “parlamento é um espaço de negociação permanente”.

Esse segundo argumento explica mas não justifica.

Quem negociou o quê, em troca do quê?

Segundo Kiko, o Centrão “precisava” de uma sinalização do PT para “meio que reduzir os danos da aprovação dessa PEC, que é a que importa para eles, mais do que a anistia”.

Ou seja: em troca de doze votos na “pec das prerrogativas”, supostamente estaríamos ajudando a aprovar nossas pautas e a impedir a aprovação da anistia.

Kiko reconhece que a tal PEC das prerrogativas atende a “interesses particulares”. Inclusive por isso, na minha opinião, pelo mérito e pelo contexto, tal PEC não mereceria nunca nosso voto.

Mas será que o “gesto amargo” de votar na PEC seria um sacrifício heroico em nome de um bem maior?

Não concordo com esta tese. Penso que estamos sendo enganados, como já fomos enganados outras vezes, inclusive recentemente.

O que pode barrar a anistia é pressão popular legítima, não negociação com bandidos. O voto dos doze foi no sentido oposto.

Foi um voto “amargo”. Amargo não para os doze, mas para todo o PT.

***

Segue abaixo o texto criticado

“Entendo a indignação dos companheiros, mas parlamento é um espaço de negociação permanente.

Tem muita coisa importante na pauta da Câmara essa semana: a MP da conta de luz (beneficia 60mi de pessoas), a redução do IR e a taxação dos super-ricos e, especialmente, a anistia a Jair Bolsonaro.

Pode não parecer, mas tudo isso está caminhando junto. Nós precisamos dos votos do Centrão para aprovar as nossas pautas e eles precisavam de uma sinalização do PT para meio que reduzir os danos da aprovação dessa PEC, que é a que importa para eles, mais do que a anistia.

Eu e mais onze deputados do PT, incluindo o nosso líder do governo, topamos fazer esse gesto amargo em nome do que entendemos serem conquistas mais importantes neste momento. Principalmente impedir a anistia a Jair Bolsonaro e militares.

Digo isso com a tranquilidade de quem foi prefeito por anos e não respondo e nenhum processo, portanto não tenho nenhum interesse particular nisso.”


(*) Valter Pomar é professor e diretor da FPA

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