Por Guida Calixto (*)
Foto: Lula Marques/Agência Brasil
A recente derrota do governo Lula na votação da Medida Provisória que taxava os setores mais lucrativos da economia – bancos, apostas eletrônicas e grandes plataformas digitais – não foi um mero revés político. Foi uma demonstração clara e contundente de como as estruturas de poder no Congresso Nacional estão alinhadas para perpetuar a mais cruel das injustiças brasileiras: a carga tributária regressiva que penaliza o trabalho e absolve o capital.
A proposta era um passo, ainda que modesto, na direção certa. Buscava-se fazer com que setores que lucram bilhões anualmente – os bancos, que têm lucros recordes em um mar de endividamento popular; as bets, que exploram a vulnerabilidade social em nome do entretenimento; e as big techs, que operam em um quase vazio regulatório e tributário – contribuíssem de forma mais justa com os cofres públicos. Era um ajuste de contas mínimo com a realidade de um país onde a imensa riqueza concentrada paga proporcionalmente menos impostos que o salário do trabalhador.
No entanto, a voz do Centrão, coro mais fiel dos interesses do grande capital, falou mais alto. Estes parlamentares, cuja atuação é frequentemente pautada pela troca de favores e pela defesa de nichos privilegiados, mobilizaram-se não para defender o povo, mas para proteger os lucros exorbitantes de seus aliados. E neste cenário, a atuação do governador Tarcísio de Freitas merece um destaque nefasto.
Tarcísio, um expoente da extrema direita, usou sua influência sobre a bancada federal de seu estado para pressionar e articular a derrota da medida. É uma ironia amarga: um governador que deveria zelar pelos recursos para saúde, educação e infraestrutura de sua população atua ativamente para garantir que os mais ricos e poderosos não paguem a conta. A sua lógica é a lógica perversa do neoliberalismo: a conta do desenvolvimento e do Estado deve ser paga pelos mais pobres, enquanto o andar de cima segue intocável.
O resultado desta articulação não é abstrato. Ele tem nome e endereço. A derrota da MP significa que a conta, mais uma vez, será enviada para a periferia, para a classe trabalhadora. Significa que continuaremos a ver o trabalhador assalariado ter quase um terço de sua renda comprometida em impostos indiretos e sobre o consumo, enquanto os lucros e dividendos das grandes empresas e acionistas seguem sendo um oásis de benesses fiscais. É a consolidação de um sistema onde quem tem menos, paga mais; e quem tem mais, dita as regras.
Esta vitória do Centrão e de figuras como Tarcísio de Freitas é, portanto, uma derrota para o conjunto da sociedade. É um sinal de que a batalha pela justiça tributária – pedra angular para a redução da desigualdade – será longa e árdua. Enquanto o poder legislativo for refém de uma elite que se nega a contribuir, o fardo do financiamento do Estado continuará nas costas dos que já carregam o país no dia a dia. A luta de classes, negada pela retórica dos vitoriosos, mostrou sua face mais nua: a luta dos ricos, através de seus representantes, para manter seus privilégios à custa do suor do povo. E, nesse sentido, precisamos retomar as mobilizações populares, como foi o processo anterior que garantiu a votação do Imposto de Renda e a derrota da PEC da Bandidagem. À luta!
(*) Guida Calixto é veradora pelo PT em Campinas (SP)
Uma resposta
Rua com cartaz explicando para povão registrar na mente , assim nas urnas saber que estes direitas e extrema direita,não pode votar.
Acabei de ver no Instagram explicação com desenho e música pega memora tem que ter dingo que fica todas plantaformas e nas rádio pelo nosso país todo.