Movimento PT tenta fraudar encontro de Meio Ambiente do PT no Ceará

Militantes da Articulação de Esquerda denunciam em recurso manipulação de cadastros de grupo liderado pelo deputado federal José Airton, no Ceará, para tentar falsificar delegação cearense ao Encontro Nacional de Meio Ambiente do PT

Algo “estranho” foi notado no Encontro estadual de ambientalistas do PT no Ceará, no sábado, 8/11. Dezenas de ingressos na sala de reunião virtual registravam “presença” no bate-papo e saíam em seguida. Outros supostos participantes não permaneciam ao mesmo tempo, voltavam a entrar e sair em seguida, um após o outro. Um detalhe, no entanto, chamou mais ainda a atenção: os nomes se seguiam em ordem alfabética e estavam todos em letras MAIÚSCULAS, seguidos invariavelmente pela sigla “MPT”.

Os registros com mais de 200 nomes fazem parte do recurso apresentado por militantes da AE que integram a chapa única local, mas que discordam da falta de ética na prática, aparentemente objetivando “inflar” a delegação da tendência MPT do estado no Encontro Nacional da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT (Smad), previsto para ocorrer no final do mês de novembro, também no formato virtual.

Os nomes, em sua grande maioria, correspondem praticamente na mesma ordem a filiados(as) credenciados(as) em uma única cidade: Camocim. Pode ser desejável ou que passe a existir, mas se desconhece um histórico de lutas ambientalistas naquela localidade. Diz o recurso: “Não é razoável supor que em Camocim, sem prefeitura petista, a mais de 350 km de Fortaleza, perto do Piauí, há um potente movimento ambientalista do PT, em que praticamente todo mundo acordou de um sono profundo e compareceu em fila para entrar e sair na hora da votação, durante a tarde e a noite de sábado”.

Imagens entre 16h54 e 18h00 comprovam que um mesmo dispositivo com a tela borrada, entrava e saía dezenas de vezes em horários sucessivos, registrando nomes em CAIXA ALTA e ordem alfabética.

O documento também mostrou que houve pelo menos mais de 140 casos com sobrenomes ausentes ou duplicados e mais de 30 que tiveram acesso à sala, mas não foram encontrados como credenciados. O recurso foi apresentado no prazo regimental de três dias, mas, até a presente data, quando termina o prazo para indicação das delegações, o Coletivo Nacional da Smad não foi convocado para se reunir e deliberar a respeito.

BUROCRACIA PARA NÃO FUNCIONAR

O secretário nacional, Saulo Dias, que integra o MPT e, portanto, seria beneficiário da manobra, ao receber o recurso, ao invés de marcar a reunião para apreciá-lo, respondeu burocraticamente que iria consultar a Secretaria de Organização (Sorg) do PT nacional para obter um “parecer”. Nesta semana, com a proximidade do fim do prazo, foi cobrado novamente e foi lacônico: disse que a reunião (do Coletivo) “vai acontecer”, dando a entender que o tal parecer é, na verdade, desnecessário.

O regulamento dos encontros setoriais parece ter sido encomendado para impedir a legítima contestação de fraudes. Aprovado pela direção nacional do PT, o regulamento prevê um prazo curtíssimo para recursos e, ao mesmo tempo, não determina prazo para seus julgamentos. Estabelece que o próprio coletivo nacional, cujos integrantes podem ter interesses casuísticos, seja a primeira instância recursal. A revisão pode ser feita pela Executiva Nacional do PT, mas também não há prazo para novo julgamento, de forma que dezenas de outros casos de denúncias seguem sem apreciação.

Além disso, a própria SOrg sabota a identificação de irregularidades, na medida em que esconde as informações sobre o Encontro além do prazo regulamentar de três dias, quando passariam a ser intempestivas eventuais contestações.

Tudo isso revela que o modelo de Encontros virtuais são um verdadeiro fracasso para permitir processos lícitos de participação popular. Os setoriais surgiram como uma adaptação ao processo histórico de burocratização institucional do partido, com espaço para militantes nas frentes de atuação e técnicos ou especialistas pudessem contribuir com uma construção enraizada e qualificada do PT.

Com o tempo, a aspiração meramente de uma visibilidade vaidosa e assentos nas reuniões dos diretórios, além da ilusão na destinação de recursos do fundo eleitoral, atraiu todo tipo de oportunismo aventureiro para os espaços setoriais. O que, em certa medida, explica a sua regra não-funcionamento.

O processo, porém, de validação com sucessivas etapas – opção setorial, credenciamento, inscrição na sala, link por e-mail, site de votação – cria obstáculos para o meio popular de fato ter um protagonismo nos debates e – o que é mais grave – abre espaço para distorções com esquemas profissionais de marketing, gangsterismo e abuso do poder econômico e político, fraudando a real dinâmica partidária, como tem sido reiteradamente acusado de aplicação em Maricá, no RJ e outros lugares.

No caso do setorial do Meio Ambiente, em que o espírito do tempo exige uma estratégia de transição ecológica para enfrentar a emergência climática planetária, é lamentável que estejamos desperdiçando tempo com discussões envolvendo medíocres delinquências farsescas.

Exatamente por isso é que quem tem responsabilidade com o Setorial e a Justiça não deve acovardar-se. Devemos nos erguer para dar uma resposta firme e educativa de repúdio a tais deformações.

 

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