Por Varlindo Nascimento (*)
No último sábado (25) o portal Terra publicou uma matéria com o seguinte título:
“Lula ataca Moro e pede calma sobre impeachment de Bolsonaro”
O jogo de palavras pode, mesmo sem necessariamente mentir, induzir o leitor a absorver uma determinada ideia que fuja da verdade. Esse processo de “engenharia midiática” não é novo e serve como um mecanismo de defesa utilizado pela imprensa oligopolista para sustentar suas farsas e contradições.
É necessário lembrar que o processo eleitoral que gestou Bolsonaro tinha como mantra o discurso de que Lula (PT) e Bolsonaro (então no PSL) eram faces de uma mesma moeda, eram as duas formas de manifestação de uma polarização política nefasta, e que, por isso, deveriam ser igualmente rechaçados pelo eleitorado.
A manobra não viabilizou o “Plano A”, que seria a eleição de um representante dos setores tradicionais da direita (Alckmin de preferência). Alguém que daria conta da mesma política anti-povo de Bolsonaro, mas que usaria palavras mais apropriadas, não agrediria a imprensa e não flertaria publicamente com uma nova ditadura.
Logo depois de eleito Bolsonaro escolheu Moro, um representante dessa direita “limpa”, para superministro da justiça. Assim, teve de ser constituída a imagem de que o ex-juiz seria um ponto de equilíbrio e que funcionaria como uma válvula de controle no governo de um desequilibrado que, por sua vez, demostrava suas boas intenções trazendo gente honesta, competente e com serviços prestados ao país para dentro do governo.
Na verdade, ocorre que o desarranjo entre Moro e Bolsonaro expôs toda uma série de acordos ilegais e relações promiscuas ocorridas ao longo de quase 16 meses. Para ser mais exato, por 480 dias. A troca de acusações após a saída de ex-juiz do ministério mostra que eles são política e ideologicamente muito mais próximos do que se quer fazer parecer ser. A divergência tem como pano de fundo real a necessidade de contemplar suas vaidades, exercer controle sobre a estrutura do Estado e exercer o mais puro poder. Muito longe do falso discurso que insiste em colocar Moro como guardião da ética institucional e dos bons valores morais.
Neste sentido, a manchete tende a reforçar uma pseudo-relação entre Lula e Bolsonaro, já que o petista teria com o capitão uma atitude parcimoniosa, enquanto partiria para o ataque imediato contra o ex-ministro.
Obviamente que essa indução é parcialmente desfeita ao longo do texto, a partir do momento em que são explicitadas as razões da postura sobre cada ação possível e as ações que podem vir a ser tomadas. Porém, numa sociedade que cultiva e cativa os leitores de manchetes e onde não há uma real democratização dos instrumentos de disseminação e de acesso à informação/opinião, o estrago é líquido e certo.
(*) Varlindo Nascimento é militante petista em Recife, bacharel em Geografia, pós-graduado em Sindicalismo e Trabalho, graduando em História e mestrando em Estado, Governo e Políticas Públicas.
Segue o link da matéria de Ricardo Galhardo, publicada pelo portal Terra: