A ilusão sobre a calmaria que não virá

Por Lucas Rafael Chianello (*)

Tal qual o Tropa de Elite 2, o inimigo agora é outro.

Porém, os militantes da ilusão fazem questão de nos esconder isso para não exercerem o papel de uma direção que nos prepare para a guerra.

E nas palavras de Chávez, “se queres paz, prepara-te para a guerra.”

Desde quando vencemos em 2002, acostumamo-nos com uma direita em parte republicana que utilizava-se da grande mídia tradicional para promover tensão e através de uma comunicação de massas que nunca tivemos, tentar ganhar as pessoas pelo medo.

Medo de possíveis efeitos colaterais das políticas sociais na economia, medo da falência do Estado em função dos camaradas alocados em cargos de confiança, medo do cerceamento da liberdade de imprensa pelos anseios da militância petista do cumprimento constitucional da regulamentação do mercado de mídia, etc.

Perdiam, reconheciam a derrota e continuavam a fazer a política midiático do “medo do PT”.

Até que quando Aécio Neves da Cunha, filho e neto, respectivamente, de Aécio Ferreira da Cunha e Tristão Ferreira da Cunha, agentes da ditadura militar, diz que “o governo mentiu” durante as eleições de 2014 e novamente a direita brasileira envereda pelo golpismo e quem capitaliza politicamente com a deposição de Dilma, a prisão de Lula e o cumprimento do interstício mandatário golpista de Temer é um cavernícola saudosista da ditadura.

Durante o processo no qual a extrema-direita crescia, éramos derrotados de negação em negação: não vai ter golpe/houve o golpe; não prenderão o Lula/prenderam; mesmo preso, Lula será candidato/não foi; podemos não emplacar o Lula, mas o cavernícola não será eleito/o cavernícola foi eleito e governou.

A frente ampla registrada no TSE tinha como principal justificativa, sem precedente histórico de vitórias de frenteamplismo sobre o fascismo, de que tal esforço era necessário para derrotar o cavernícola.

Para uns, vencemos porque mantivemos a política de alianças; para outros, apesar dela.

Fato é que o cavernícola foi derrotado, mas a sua trupe continua aí; pudera, mesmo derrotado esteve a menos de um inteiro percentual da vitória com seus 58.206.354 votos enquanto muitas de suas candidaturas estaduais e legislativas foram vitoriosas e expressivamente votadas.

Se era necessária a frente ampla, não discutida no partido, para derrotar o fascismo, por que agora discutimos novamente como derrotá-lo se vencemos as eleições?

Felizes aqueles que sempre nos disseram que a luta pela vitória de Lula seria dura e que o cenário de tensão iria permanecer.

Ainda que parte do inimigo esteja pontualmente conosco para nos empurrar às reformas neoliberais e parte, para sobreviver, tenha capitulado à extrema-direita, essa é o grosso do inimigo atualmente, formada inclusive por, pasmem, militantes oriundos das camadas mais populares da sociedade.

Tal cenário é preocupante porque diante de vias e rodovias bloqueadas, acampamentos civis em frente a quartéis que pedem a derradeira e manifestações dominicais após a missa e antes do almoço, nós ainda mantemos a postura pré-golpe: fingir que nada está acontecendo para que o problema se resolva per si.

Tratam com o deboche do ministro Barroso, um farsajatista convicto, uma força política que cooperou com o golpe de Jeanine Añez na Bolívia contra Evo Morales e com, nada mais, nada menos, a fuzarca do Capitólio liderada por Trump na posse de Biden.

Enquanto a verdade é revolucionária, o maior problema da hegemonia da moderação é contar a mentira que conforta ao invés da verdade que dói.

Vencemos as eleições e esse tal fascismo que está aí só será derrotado governamental e extragovernamentalmente se suas estruturas também forem destruídas.

Só há vitória definitiva sobre o fascismo com um partido dirigente sob estratégia correta dentro de um cenário tensão permanente.

O PT precisa urgentemente se preparar para isso.

(*) Lucas Rafael Chianello é militante petista e dirigente estadual da Articulação de Esquerda de Minas Gerais

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