Acordo no Chile: traição bate à porta

A oposição moderada, liderada pelo Partido Socialista (PS) e pelo Partido Pela Democracia (PPD), aceitou acordo com a direita que representa uma armadilha contra o povo

Por Breno Altman 

Repete-se no Chile, a mesma capitulação ocorrida em 1986, depois que fracassou o tiranicídio contra Pinochet, organizado pelo braço armado do Partido Comunista (PCCh), a Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR), e previsto para ser estopim na transformação da rebelião popular em insurreição contra a ditadura.

Naquela época, os socialistas romperam seu histórico pacto com os comunistas para se acertarem com os democratas-cristãos, que tinham apoiado o golpe militar contra Salvador Allende, para dar início à transição conservadora para o regime político atual. Sem alterar, no essencial, a Constituição pinochetista de 1980 e o modelo econômico neoliberal, fundamentos da revolta social em curso.

A oposição moderada, agora, liderada pelo Partido Socialista (PS) e o Partido Pela Democracia (PPD), alinhada com setores da Frente Ampla, aceitou acordo com a direita que representa verdadeira armadilha contra o povo.

Embora convoque plebiscito que decidirá sobre o fim da Constituição de 1980, herdada de Pinochet, a consulta foi chamada para daqui a seis meses, em abril, quando a Mesa de Unidade Social reivindicava 30 dias.

Mas isso não é o pior: qualquer que seja a modalidade para conceber a nova Constituição, como bem denunciou o PC, novas regras somente serão possíveis com 2/3 dos votos. Ou seja, basta a direita manter 1/3 dos votos e poderá impedir qualquer mudança significativa na atual Constituição.

A base de qualquer poder constituinte é operar com maioria absoluta, 50% mais um dos votos dos delegados eleitos e presentes em cada decisão, de tal sorte que a Constituição anterior possa ser integralmente revogada.

Mais um detalhe sórdido: pactuou-se que Sebastian Piñera ficará isento de qualquer denúncia constitucional pela repressão e o assassinato de ativistas.

Junto com outros setores, dentro e fora da Mesa de Unidade Social, principal instrumento comum dos partidos e movimentos populares, convocam novas manifestações e protestos.

Mais uma vez a esquerda chilena, a um só tempo, tem que fazer frente ao bloco conservador e à capitulação.

(Publicado em Opera Mundi)

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