Relato sobre a construção e a realização do Congresso Extraordinário da JPT/MG
Por Roberto Nery*
Maio de 2018. Dois anos de golpe de Estado promovido pelos setores conservadores e reacionários contra a Presidenta legítima Dilma Rousseff. Há 5 meses das eleições de 2018, que elegerá Executivo e Legislativo nacional e estaduais. Mais de um mês após a prisão de Luís Inácio Lula da Silva, maior liderança de esquerda da América Latina, sem uma prova sequer. Três meses depois de decretada intervenção militar no Rio de Janeiro pelo ilegítimo Temer e dois após a execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) a tiros. No meio de tudo isso, corte de recursos para investimentos sociais, retirada de direitos trabalhistas, espetacularização de operações policiais, escalada do feminicídio e do genocídio das negras e negros e por aí vai, de mal a pior.
Nesse cenário, foi convocado pela Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, um Congresso Extraordinário da Juventude do PT. Processo que deveria servir para ampla mobilização da juventude filiada e simpatizante ao partido, foi convocado às pressas (com algo próximo de um mês para realizar etapas municipais, estaduais e nacional) e de forma anti-estatutária (sem prever a eleição de delegadas e delegados para as etapas seguintes e colocando explicitamente que o PED de 2017 será o critério de proporcionalidade para o “acordo nacional” na composição da direção, sem a possibilidade de disputa política). É como se houvesse uma total relativização do cenário descrito no parágrafo anterior, além de desconsiderar totalmente o último congresso, onde todas as forças de oposição se retiraram da plenária final pela falta de legitimidade do processo em função dos atropelos da maioria partidária, que deixou a direção nacional da JPT então eleita sem legitimidade perante a base.
Segundo o regimento, as datas possíveis para os municipais eram de 27 de abril a 27 de maio (com um dos finais de semana sendo junto ao Dia das Mães), sendo que o estadual não poderia ocorrer em concomitância com nenhum municipal. Agora, imagine realizar 853 congressos municipais mobilizados em 5 finais de semana? Ou mesmo reduza isso, para puxar “apenas” 100, o que daria em torno de 5 por Território de Desenvolvimento do Estado? Tudo isso ainda somado a cena estadual, onde a Secretaria Estadual da JPT funcionou no último período somente em decorrência de disputa de cargos comissionados e por solicitação de mobilização do Diretório Estadual.
Dito isso, tivemos apenas dois Congressos Municipais em Minas Gerais. Exatamente isso, duas cidades de 853 apenas conseguiram se mobilizar a tempo de realizar seus congressos. E no final de semana seguinte, tivemos o Congresso Estadual, que renovou a Direção de forma Provisória até o Congresso Ordinário do primeiro semestre de 2019. Outros estados não foram tão diferentes, infelizmente. Com um cenário de fato desmobilizador, fica a dúvida no ar do para que serviu esse processo, visto que os fatos apontam para que simplesmente haja um processo de troca de direção sem referendo na base – de forma descarada em nível nacional – e sem desenvolvimento político.
Com isso em mente, iniciamos a construção do Congresso na Comissão Organizadora Estadual (COE/MG). Foram reuniões durante um mês, onde apenas duas tendências (AE e Tribo) estiveram presentes em todas e poucas se dispuseram a assumir tarefas. Em mais um sinal, infelizmente, não foi garantido pelo Partido condições para mobilizarmos o interior e fazermos um congresso em dois dias e com muitos jovens, como pensado inicialmente.
19 de maio de 2018. Congresso Extraordinário Estadual da JPT-MG. Baixa mobilização de jovens, com a presença de alguns filiados não jovens. Cada vez mais é necessário entender que juventude não é um estado de espírito, mas uma fase da vida definida por aspectos econômicos, culturais, históricos, dentre outros, com demandas e necessidades específicas em relação às demais parcelas da população. Dito isso, pela manhã houve boas falas sobre o caso Lula e a conjuntura, mas pela tarde o Congresso desandou. Dos 6 Grupos de Trabalho a serem realizados, apenas dois se concretizaram, seguindo com plenárias auto-organizadas de mulheres e de negras e negros, sendo a primeira pressionada para se encerrar, inclusive com barulho sendo feito para constranger o que alguns consideravam como “demora”. Como se fossem debates menores, secundários.
A plenária final aconteceu em sequência, mas depois de colocações sensatas, se tornou um processo de denuncismo superficial, desenfreado e muito agressivo, praticamente implodindo o espaço. Houve uma tentativa de retomada, mas apenas conseguiu ler o texto base e aprová-lo, junto do encerramento. Enfim, o que era pra ter sido um espaço denso de planejamento para a Direção Provisória eleita, se tornou hostil e sem debate político aprofundado e coletivo. Aquilo que teria de ter sido o foco desde o início do Congresso, visto o tempo de guerra que atravessamos, não ocorreu.
Deixamos claro que é necessário uma JPT que seja referência das e dos jovens filiados e simpatizantes, tendo uma direção política legitimada, combativa e consequente. E nos dispomos a construí-la no dia-a-dia a partir da base, como nossa frente de massas e bandeira dos jovens petistas! Dessa forma, colocamos nossas ideias no papel e queremos trazê-las para a prática junto a toda militância petista. Lançamos nosso manifesto nacional JPT para tempos de guerra e também escrevemos um manifesto estadual, com o mesmo nome, com propostas diretas que consideramos necessárias para retomar a JPT Minas Gerais nesse próximo ano, levá-la para fora dos gabinetes e para dentro de onde a juventude trabalhadora estiver.
Conforme falamos no manifesto estadual, “Precisamos urgentemente nos organizar e constituir uma JPT que seja referência de lutas e de toda juventude petista e simpatizante, correndo o risco de perder a referência da classe trabalhadora caso o contrário ocorra. Com isso, apesar das debilidades desse processo de Congresso Extraordinário, as Direções Provisórias Eleitas da JPT terão dois caminhos: ou cumprir um papel para reaglutinar e recompor a JPT a depender do debate político e tático e das resoluções que adotar; ou, caso seja vacilante, se tornar apenas mais um espaço burocrático, sem referência e capacidade dirigente”.
Amanhã será sim outro dia, mas somente se nós, jovens petistas, tomarmos rédea da política da nossa juventude e do nosso partido, trazendo-a de volta para o povo e pelo povo.
POR UMA JPT PARA TEMPOS DE GUERRA!
* Roberto Nery é graduando em Ciências do Estado na UFMG, Diretor de Movimentos Sociais da UEE/MG e militante do PT
Propostas do manifesto “JPT para tempos de guerra!”
13 pontos para uma JPT Para tempos de guerra!
1. Por uma JPT de massas: organizar e mobilizar milhares de jovens trabalhadores em todo o Brasil;
2. Por uma JPT militante e democrática: presente na vida cotidiana da juventude trabalhadora, com instâncias democráticas e aberta a ampla participação da juventude;
3. Por uma JPT autônoma: priorizar uma política de autofinanciamento e em defesa de 5% do Fundo Partidário para a JPT;
4. Por uma JPT socialista;
5. Por uma JPT organizada e unificada nos movimentos sociais;
6. Construção de núcleos da JPT nos locais de estudo, trabalho e moradia: realizar uma ampla campanha de nucleação em todo o país;
7. Petista não se alia com golpista: defender a unidade da esquerda e a não aliança com golpistas;
8. Por Lula Presidente! Não tem plano B!;
9. Por uma JPT Feminista, anti-racista e anti-LGBTfóbica;
10. Por uma JPT organizada nos municípios;
11. Fortalecer a formação política, a comunicação e a disputa ideológica: realizar jornadas de formação política, massificar a comunicação da JPT articulando redes sociais e jornal impresso petista;
12. Em defesa do IV Congresso da JPT;
13. Em defesa do PT: por uma estratégia democrática, popular e socialista!