Por Página 13 (*)
No Partido dos Trabalhadores, está em curso articulações, conversas e processos de tomada de decisões deveras importante, que definem questões estratégicas para a vida do partido e para as disputas eleitorais, políticas e sociais do próximo período.
Entre estes temas, a federação partidária, a candidatura à vice na chapa de Lula e questões programáticas. Quem acompanha pela mídia oligopolista ou mesmo pela chamada mídia progressista imagina que as instâncias nacionais do PT (executiva e o diretório nacionais) devem estar reunindo-se constantemente para debater e construir posições oficiais sobres temas tão relevantes.
Por incrível que possa parecer, não é o que vem acontecendo. O diretório nacional reuniu-se pela última vez em 16 de dezembro de 2021, há mais de 40 dias. E a sua decisão foi:
“O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores:
Resolve iniciar conversações sobre Federação Partidária com PSB, PCdoB, PSOL e PV, cabendo à Comissão Executiva Nacional do Partido conduzir este processo de diálogo para posterior decisão do DN, sobre eventual participação, a partir de um debate programático, esgotando o debate interno a partir da escuta às direções estaduais, municipais, observando os prazos definidos pela Justiça Eleitoral.”
Desde então, não houve nenhuma reunião da Executiva Nacional para tratar do tema da federação ou de outro qualquer. Segundo Valter Pomar, integrante do diretório nacional, a “Executiva não reúne faz bastante tempo. E até onde eu sei, também não houve nenhum informe a respeito para a executiva. Nem informe, nem consulta, nada.”
Alguns membros da Executiva, questionados, começaram a afirmar que existiria uma comissão designada para acompanhar o assunto da federação. Sobre isso, diz Valter: “há controvérsias. Perguntei a respeito, me disseram que existiria uma comissão designada pelo Diretório. Eu estava na tal reunião do Diretório e não me lembro de ter sido designada comissão alguma. Mas sabe como é, essas reuniões virtuais são fogo, a gente as vezes deixa escapar decisões importantes. Assim pedi que me enviassem a ata da reunião do DN, onde certamente está a nominata de tal comissão.”
Sobre a a ata, Valter menciona que não a recebeu ainda, está esperando, “mas o fato é: mesmo que exista uma comissão, desde 16 de dezembro de 2021 ela não informa nada a respeito do assunto, nem para o Diretório, nem para a Executiva. Ou seja: tem um grupo de dirigentes tratando com outros partidos acerca do futuro do PT pelos próximos 4 anos e a direção do Partido está sendo informada pela imprensa. O presidente do PSB sabe mais a respeito do que ocorre nestas reuniões, do que os dirigentes do PT.”
Isto é, um grupo de integrantes da direção realizam conversas e negociações sobre o assunto por conta própria, sem representar e debater com a instância mandatada para o tema da federação, como indica a resolução do diretório de dezembro. Isso não é pouca coisa, pois existem no partido diferentes opiniões sobre a questão e debater essas articulações na instância adequada é o mínimo de democracia interna que se exige de um partido como o nosso.
O mesmo acontece com o tema da vice na chapa de Lula. Poderíamos dizer que é ainda pior, uma vez que o debate não foi aberto oficialmente em nenhuma instância e nenhum dirigente foi mandatado para tomar a frente de articulações. Mas o que presenciamos é justamente o oposto. Muitas reuniões, articulações e conversas que implicam na presença de um golpista na chapa de Lula.
Somos da opinião que o debate da vice deveria ser uma decorrência do debate programático, que ainda não foi desenvolvido, e ser realizado nas instâncias eleitas para representar o conjunto do partido e finalizado num encontro partidário. Mas o modo de operar de muitos no PT pode levar o debate a ocorrer nas instâncias somente quando as decisões efetivamente já estejam tomadas. Isso é democrático e salutar?
O mais incrível ainda é ver declarações de dirigentes partidários condenando a militância petista que se manifesta por meio de um abaixo-assinado, onde ela expressa a sua opinião. Isto é, dirigentes e setores do PT ponteiam uma articulação, por conta própria, de algo que tem enorme repercussão no partido e na disputa política-eleitoral, que ocupa o noticiário diariamente, e a base não pode se manifestar, com argumento de que o debate deve ser feito “internamente”? Então por que o debate não é feito de forma correta nas instâncias antes de que tais articulações e negociações tomem grandes proporções?
É extremamente prejudicial essa hibernação das instâncias nacionais, enquanto paralelamente processos sejam conduzidos sem que haja um processo adequado de debates e decisões. A luta para derrotar o bolsonarismo, o neoliberalismo e o lavajatismo exige, antes de qualquer coisa, um partido com uma democracia interna efetiva e com as suas direções em condições de atuarem coletivamente, capazes de conduzir a “nação petista” nas grandes batalhas e também de expressá-las politicamente.
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